Street of a Thousand Pleasures (1972) de
Clay McCord ★★☆☆☆
Cockfighter
(1974) de Monte Hellman ★★★☆☆
Lorna
(1964) de Russ Meyer ★★☆☆☆
RocknRolla
(2008) de Guy Ritchie ★★★★☆
True
Detective S02 (2015) de Nic Pizzolatto ★★★★★
Little
Big Horn (1951) de Charles Marquis Warren ★★★☆☆
Holy
Money (2015) de
John Dickie ★★★★★
Being
There (1979) de Hal Ashby
★★★★☆
Deadly
is the Female (1950) de
Joseph H. Lewis ★★★★★
Lost
and Delirious (2001) de Léa Pool ★★★★☆
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
REVERENCE VALADA 2015: A Crónica de Sexta!
Já todo um jardim de tendas enraizava
o parque de merendas de Valada, quando chegámos à até então pacata freguesia ribatejana
depois de deixarmos para trás cerca de 400km de viagem traduzidos em 5h de
olhares petrificados no negro alcatrão. O sol respirava boa saúde naquela tarde
de sexta e as passadas impacientes dos festivaleiros ainda de tendas (entre
outro material de campismo) às costas sobrepunham-se ao natural suspiro do
parque. Não demorámos muito a juntarmo-nos ao já vasto número de festivaleiros
com residência temporária naquele parque e de seguida caminharmos em direcção
ao recinto do festival. Mesmo com o concerto do trio ucraniano Stoned Jesus perdido por culpa da já
tradicional azáfama pré-viagem, no horizonte temporal habitavam outros
concertos por mim ansiados e perfeitamente ao meu alcance. Sleep (e também Yawning Man,
não fosse o seu lamentável cancelamento) posicionavam-se no apogeu dos
concertos mais aguardados, bem seguidos de perto pelos Blown Out, Electric Moon,
Black Rainbows, Ufomammut, Samsara Blues
Experiment e os renascidos Amon Düül II. O Reverence dispunha assim de uma
ementa sonora capaz de tentar um santo. Numa visita conduzida pela memória
edificada em 2014 aquando a 1ª edição do festival, constatámos um indiscreto melhoramento
do recinto e de tudo o que ele nos oferece. A zona de restauração estava mais
populosa e diversificada, o recinto mais iluminado, a feira das almas que - apesar
de mais curta em comparação com a da edição anterior - manteve o seu nível de
oferta, e ainda salientar o acréscimo da vertente cinematográfica (onde
foram exibidos os filmes: “Quadrophenia” de 1979, “Gummo” de 1997 e ainda “The
Song Remains the Same” de 1976) à exposição artística presente no festival. O
Reverence oferecia desta forma toda uma panóplia de entretenimento para além do musical.
21h10 | Black Rainbows | Palco Praia
Aqui
começou um dos inolvidáveis concertos do Reverence. Sendo um fiel seguidor dos
projectos do Gabriele Fiori (de onde também destaco Killer Boogie abordado aqui) não poderia perder a banda em
que ele mais tem investido: Black
Rainbows. Este power-trio
italiano não desiludiu e arrancou para uma performance verdadeiramente
avassaladora levando com ele toda uma plateia em crescente entusiasmo. Os seus riffs enérgicos e solos euforizantes
comandaram todo o concerto, transpirando uma poderosa injecção de Psych Rock à qual o público respondia
como podia. Foi um concerto de sentido único e um dos mais estimulantes do
festival. No final desta radiância psicotrópica estávamos todos anestesiados e
ainda a procurar aquietar o corpo que até então se sacudira de forma veemente.
22h30 | Ufomammut | Palco Praia
Ainda
a plateia se recompunha do excitante concerto de Black Rainbows, quando os Ufomammut subiam ao palco e ligavam os seus
amplificadores monolíticos. Sentia-se que este tridente italiano dedicado ao Psych Doom era uma das bandas mais
aguardadas pelos devotos peregrinos que se faziam sentir no Reverence e que
dariam um concerto justo de ser narrado aos seus netos. O Palco Praia
testemunhava assim o que de melhor se tem feito em Itália no campo Psych. Nem
foi preciso as cordas vibrarem para que o público – em antecipação ao que aí
vinha – pendulasse de olhos cerrados. Ufomammut assumiram a responsabilidade de
serem uma das bandas mais ansiadas pelos festivaleiros e corresponderam com uma
prestação intensa e dominadora. Os green amps
contorciam-se na passagem dos seus riffs
maciços e possantes que embatiam numa plateia completamente embriagada pela
atmosfera nebulosa e sideral de Ufomammut. Foi demasiado fácil vivenciar toda
uma ambiência de concordância com o que do placo era exalado. O Reverence
perdia a localização terrena e levitava atrelado às nossas consciências pela
obscuridade íntima de um Cosmos narcotizado.
00h30 | Sleep | Palco Reverence
É
aqui, na procura da mais justa descrição do que foi o concerto dos titânicos Sleep, que todos os adjectivos se
confessam tímidos e algo redutores face à sua desmesurada dimensão. Estava – “apenas
e só” – perante uma das bandas da minha vida e poder estar ali era uma perfeita
bênção capaz de fazer rufar o meu coração e suspender a minha respiração. Estes
três druidas provenientes do lado mais entorpecedor do Doom Metal foram verdadeiramente avassaladores provocando um efeito
sísmico na compacta plateia que se distendia em órbita do Palco Reverence. De
olhos cerrados e consciência transviada pelos mais aprazíveis estádios da
mente, inalei todos aqueles riffs
purificantes e anestésicos. Foi demasiado fácil vivenciar a ataraxia. A
guitarra de Matt Pike trespassava-me com as suas rajadas intoxicantes, o imponente
baixo de Al Cisneros colidia violentamente em mim como que uma prepotente
avalanche e a bateria de Jason Roeder governava o meu batimento cardíaco com
destacada (e merecida) autoridade. Sleep foi um autêntico reactor que fez
eclodir toda uma plateia extasiada aos mais sublimes céus da lucidez orvalhada.
Um potente sedativo que nos envolveu ao longo das quase duas horas de
celebração. Foi um dos grandes concertos da minha vida do qual ressacarei perpetuamente.
02h50 | Blown Out | Palco Praia
Quem
acompanha as minhas dissertações musicais em El Coyote já se terá apercebido –
certamente – da minha adoração por Blown
Out. Este power-trio inglês,
liderado pelo admirável Mike Vest ao volante da guitarra, tem em mim efeitos
profundamente tântricos. Considero os seus três discos: “Drifting Away Out Between
Suns” (review aqui), “Jet
Black Hallucinations” (review aqui)
e “Planetary Engineering” (review aqui)
verdadeiros emancipadores de mentes. Fundamentados nas jams intergalácticas que fazem germinar a nossa consciência pelos
maravilhosos recantos de um universo resplandecente, Blown Out tem o dom de nos
fazer dormir acordados. E assim foi no Reverence. Com a consciência ainda a
orbitar a ebriedade deixada por Sleep, Blown Out revelou ser o prolongamento
desta tão desejada condição emocional. Os corpos oscilavam num harmonioso
transe. De pálpebras cerradas e sorriso petrificado no rosto testemunhei a doce
hipnose que Blown Out provocou em mim. De pés atracados no solo ribatejano e
cabeça a embater em Saturno vivenciei um dos concertos mais viajantes de
sempre. Amortalhado pelo fascínio de respirar Blown Out, senti-me em constante
levitação pelas verticais auto-estradas da mente estrelada. A plateia dançava
com exuberância e satisfação. Os Blown Out levaram-nos para tão longe dos
nossos corpos enlouquecidos, que quando os amplificadores se desligaram foram
necessários vários minutos até que a nossa consciência embriagada caísse em nós.
Blown Out foi um verdadeiro trampolim de mentes.
No final cambaleámos até à
tenda de alma a transbordar de emoção e ainda amortalhados pela hipnose vivida.
Restava-nos descansar e revitalizar daquela inesquecível dosagem musical, pois
no dia seguinte – sábado – haveria a sequela patrocinada por bandas como Samsara
Blues Experiment, Amon Düül II e Electric
Moon.