quarta-feira, 31 de agosto de 2016
"Reino Maravilhoso" de Luís Quinta e Ricardo Guerreiro
"Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espetáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno."
- Miguel Torga
terça-feira, 30 de agosto de 2016
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
domingo, 28 de agosto de 2016
Review: ⚡ Yawning Man - ‘Historical Graffiti’ (2016) ⚡
‘Historical Graffiti’ é o quarto e novo álbum dos históricos Yawning
Man. Gravado em 2015 durante a tour
do power-trio californiano pela América
do Sul – no carismático ION Studios sediado
na capital argentina de Buenos Aires – e lançado pela Lay Bare Recordings no passado dia 18 de Agosto em formato de vinil, este álbum traz-nos a
característica e revitalizante brisa do deserto de Mojave perfumada pela rústica
e elegante musicalidade argentina. Imaginem o surpreendente cruzamento musical entre
o sedutor Tango de Astor Piazzolla e o contemplativo Desert Rock de Yawning Man. Conseguiram? Se sim, chegaram à embriagante e envolvente
natureza de ‘Historical Graffiti’. Este álbum imensamente fascinante projecta
em nós etéreas visões de um deserto bronzeado pelo vibrante bafo solar, onde
imponentes e vigilantes saguaros se espreguiçam em direcção aos céus, frondosas
árvores de Josué (Yucca Brevifolia) se
envaidecem acima das quentes e douradas areias, rochas morenas em forma
circular se encavalitam umas sobre as outras, e todo um firmamento desértico se
desdobra pela infinidade adentro. A veraneia, poeirenta e voluptuosa sonoridade
de Yawning Man abastece toda esta
fantasiosa narrativa visual, provocando em nós um imperturbável estado de puro
êxtase que nos acaricia e embebeda ao longo de todo o álbum. É verdadeiramente
prazeroso ancorarmos toda a nossa atenção no cálido e atmosférico Desert Rock – com indiscretos
chamamentos ao exótico e refrescante Surf
Rock resgatado dos nostálgicos anos 60 – de Yawning Man e deixar que a sua alma conduza a nossa pelo tão
almejado paraíso das sensações. Este radioso e deslumbrante sonho é nutrido
pela deliciosa consonância entre uma guitarra endeusada de agradáveis, uivantes,
aveludados e delirantes acordes, um baixo murmurante de danças hipnóticas, robustas
e pulsantes, uma bateria tribalista de acrobáticos e emocionantes galopes, e
ainda os inesperados contributos de um acordeão de graciosos e estimulantes bailados,
um sedoso e atraente violino de relaxantes investidas, e um mellotron de comoventes bailados. ‘Historical
Graffiti’ é uma comovente hipnose que nos embalsama do primeiro ao
derradeiro tema. Um álbum incrivelmente sublime que aumentara substancialmente a
minha salivação pelo concerto de Yawning
Man no festival Reverence Valada
agendado para o próximo dia 9 de Setembro, e que certamente marcará presença
entre os melhores discos nascidos em 2016.
sábado, 27 de agosto de 2016
Review: ⚡ Zed - ‘Trouble In Eden’ (2016) ⚡
Da cidade californiana de San José chega-nos o terceiro e novo
álbum de Zed. Lançado oficialmente ontem
– dia 26 de Agosto – pelo carismático selo americano Ripple Music nos formatos de CD
e Vinil, ‘Trouble In Eden’ vem
dotado de um poderoso, entusiástico e ritmado Heavy Rock que nos assalta, conquista e euforiza com tremenda
facilidade. Este quarteto transpira adrenalina em estado musical. A sua sonoridade
imensamente galopante, robusta e torneada obriga-nos a vivenciá-la numa extravagante
e redentora dança de rédeas firmemente empunhadas. Obedeçam aos portentosos,
elegantes e inflamantes bailados de duas guitarras que nos serpenteiam e
seduzem com os seus monolíticos, desinquietos e reverberantes riffs, e vertiginosos, gritantes e
fecundantes solos que nos golpeiam e excitam. Sacudam-se violentamente ao som ondeante
de um baixo autoritário, vigoroso e vibrante que nos sombreia e hipnotiza.
Soltem a cabeça em movimentos oscilatórios na instintiva resposta a uma bateria
dominada com emocionante e dinâmica orientação rítmica, e enfrentem como
puderem os veementes, enérgicos e cavernosos vocais que se passeiam de forma
soberana e atraente pela explosiva e radiosa atmosfera de ‘Trouble In Eden’. Este é
um álbum que nos deixa embriagados de uma indomável, desmesurada e agitada exaltação.
Um perfeito turbilhão que se agiganta em nós e nos abana convulsivamente tão
para lá das barreiras corporais. Sintam-se transcender ao intenso e encorpado som
de Zed numa extraordinária detonação
de prazer que vos deixará na boca um mélico sabor a whiskey. 2016 fica um ano
musicalmente mais nutrido e fibrado com este belo e aclamado contributo do quarteto norte-americano.
Links:
Bandcamp
Ripple Music
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Review: ⚡ Shades - ‘Splitting the Light’ (2016) ⚡
Desde que me conheço que
sinto uma intratável afeição por sonoridades melancólicas. E isso explica o
fascínio que sentira por Shades logo
na primeira audição que lhe dedicara. Este dueto natural da cidade portuguesa
de Tomar traz-nos o lado soturno,
contemplativo e outonal da música Folk.
‘Splitting
the Light’ é o seu álbum de estreia – lançado em solo primaveril – que
encerra uma verdadeira ode à soturnidade. Emocionantemente dedilhada por duas lamuriosas
guitarras acústicas que se entrelaçam e desatam em obscuros, plangentes e
hipnóticos acordes, a sonoridade bucólica de Shades tem o dom de nos respirar, inebriar, tombar o rosto de
encontro ao peito, cerrar as pálpebras e enlutar a alma. A sua essência
pesarosa convida-nos a vivenciar um poderoso e perdurável estado de inércia que
nos adorna e embacia a lucidez do primeiro ao último tema. É demasiado fácil recostarmo-nos
confortavelmente na penumbra à boleia da triste narrativa de ‘Splitting the Light’, e
deixar que esta nos conduza pelas suas distensíveis paisagens cataclísmicas, solitárias
e desoladoras. Entreguem-se detidamente à bela solitude de Shades e comunguem a doce paralisia que vos amenizará e anestesiará
do primeiro ao último acorde. Um dos álbuns portugueses mais envolventes do ano
está aqui, na entristecida e acinzentada natureza de ‘Splitting the Light’.