terça-feira, 6 de março de 2018

Review: ⚡ Dead Meadow - 'The Nothing They Need' (2018) ⚡

Dead Meadow é seguramente uma das grandes bandas da minha vida. Álbuns como ‘Dead Meadow’ (Tolotta Records, 2000) e ‘Feathers’ (Matador, 2005) representam verdadeiras obras-primas de validade intemporal às quais regresso muito frequentemente, e os concertos vivenciados no Hard Club, Porto (2011) e no saudoso festival Reverence Valada (2016) ficar-me-ão perpetuamente cicatrizados na memória. E, portanto, o anúncio de um novo álbum de estúdio – depois de um longo jejum de cinco anos – provocara em mim toda uma crescente comoção de expectativa e ansiedade só saciada muito recentemente com a audição do mesmo.

‘The Nothing They Need’ nasce no vigésimo aniversário desta lendária banda sediada em Washington (EUA) através do selo discográfico nova-iorquino Xemu Records nos formatos físicos de CD e vinil, e devo antecipar sem demoras de que se trata de um dos meus registos favoritos deste power-trio. Tal como acontece com os seus antecessores, ‘The Nothing They Need’ reveste-se de um psicadelismo lamacento, melancólico, morfínico e lenitivo que nos entope todas as zonas erógenas, sufoca e embacia a lucidez e petrifica a nossa alma num perfeito e imperturbável estádio de bem-estar. É fundamentalmente baseado num viscoso, outonal, lisérgico, nebuloso e bucólico Heavy Psych – aliado a um modorrento, enigmático, obscuro e fumarento Heavy Blues – que este novo álbum nos amortalha num denso abraço psicotrópico capaz de nos adornar, hipnotizar e extasiar do primeiro ao derradeiro tema. Sintam-se atravessar pesadamente um resinoso, sombrio e pastoso pântano fecundado por velhas, esqueléticas e prostradas árvores cobertas de musgo e onde uma cerrada, fantasmagórica e esverdeada bruma sobrevoa rasteiramente toda esta pesarosa paisagem à intrigante e relaxante boleia sonora de uma guitarra uivante que se passeia sublimemente por entre riffs de corpos vigorosos, letárgicos, magnetizantes e luxuosos, e alucina em solos ácidos, ecoantes, cáusticos e efervescentes, um baixo pulsante e reverberante de linhas bem delineadas, coesas e dançantes, uma bateria flamejante de galope fascinante, relaxado e intoxicante, e ainda uma voz destemperada, gélida e petrificada que nos golpeia e prazenteia neste profundo sonho acordado. De destacar ainda num segundo plano a momentânea presença de um serpenteante e envolvente saxofone detidamente entregue a aveludados, agradáveis e edénicos bailados. Deixem-se cair, desmaiar e diluir num imenso oceano de inércia que massajará e canalizará a vossa consciência pelas ataráxicas artérias de ‘The Nothing They Need’. Recostem-se confortavelmente, baixem as pálpebras, dilatem as narinas, respirem profundamente e inalem toda a inebriante natureza deste poderoso sedativo via auditivo. Um dos álbuns mais mélicos, harmoniosos e terapêuticos de 2018 está aqui, na consequência do tão aguardado regresso a estúdio dos alucinógenos Dead Meadow. Esbatam-se nele.

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