terça-feira, 23 de outubro de 2018

Review: ⚡ Wayfarer - ‘World's Blood’ (2018) ⚡

Começo por admitir que não é nada habitual trazer a negra e cavernosa esfera do Black Metal para o universo El Coyote, mas muito ocasionalmente sou surpreendido, varrido e consequentemente conquistado por um determinado registo cujo impacto me obriga não só a vivenciá-lo com total apego e fascínio, mas a transcrevê-lo para o domínio lírico. E foi isto que sucedera depois de comungado e venerado o terceiro e novo álbum dos norte-americanos Wayfarer. Lançado em território primaveril do presente ano pelo selo discográfico independente e de proveniência canadiana Profound Lore Records na forma física de CD e vinil, ‘World’s Blood’ sustenta todo um obscuro, melancólico, misantrópico e aflitivo Black Metal soberbamente atmosférico e narrativo, que se perde num romanesco, mitológico e principesco Folk Metal de essência medieval. A sua sonoridade de inspiração Western remete-nos para um letárgico, esquecido e descorado deserto – onde tenebrosas, opressivas e massivas nuvens vigiam e enlutam os céus, e uma paisagem árida, inóspita e estéril, há muito órfã de esperança, adormece e empalidece num imperturbável estádio de dissecação – que nos passeia num depressivo, solitário e pensativo galope sem destino conhecido. Estes quatro cavaleiros ancestrais de heresia hasteada e instrumentos empunhados perseguem-nos, respiram-nos e atemorizam-nos do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 44 minutos inteiramente saturados e governados por uma intensa soturnidade que nos mumifica e soterra num profundo estado de prostração. Tombem as pálpebras, cerrem os maxilares, sacudam a cabeça e inalem toda a nebulosidade tumular de ‘World’s Blood’ exalada por duas guitarras lacrimosas que tanto se enfurecem em riffs corrosivos, intrigantes, tocantes e altivos, como se tranquilizam em refinados e contemplativos acordes, um imponente e reverberante baixo de linhas tingidas a impetuosidade, volume e expressividade, uma incansável e retumbante bateria locomovida e esporeada a uma ritmicidade cavalgante, enlouquecedora e ofegante, e ainda uma voz fervorosa, escarpada, irada e poderosa que ecoa pelos longos desfiladeiros que canalizam toda a obscuridade que este álbum carrega e ostenta. De salientar ainda a capa enigmática que com inteira precisão traduzira e espelhara para o universo visual tudo o que a lamentosa alma de ‘World’s Blood’ nos segreda. Este é um álbum intensamente marcante que nos envolve e anoitece. Um registo de natureza tirânica e intrusiva que certamente tomará de assalto as rédeas de quem nele se abrigar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pela resenha tão bem escrita e sensível. Disco realmente surpreendente para uma banda que até então nos tinha apresentado um black metal de qualidade, porém mais tradicional e folk. Tenho curtido muito esta nova linhagem do black metal e principalmente suas variações mais ambiciosas.


saudações de um brasileiro bastante assustado, preocupado e triste

#elenao

luis h