Review: ⚡ Mang Ont - ‘Maa Sarv’ (2019) ⚡

Do leste europeu chega-nos a e soberana e rosnante lisergia transpirada pelo poderoso power-trio estoniano Mang Ont com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração ‘Maa Sarv’. Apresentado no início do presente mês de Janeiro numa edição de autor sob a forma física de CD e cassete (este último ultra-limitado a apenas 50 cópias existentes), este novo álbum desprende na nossa direcção toda uma monolítica, titânica e portentosa avalanche decibélica – tomada e cauterizada pelo vulcânico efeito fuzz – que nos persegue ao longo de todo o seu corpo temporal. Orientado por um nebuloso, saturado, febril e rumoroso Stoner Doom de hálito fumarento e psicotrópico que – aliado a um meditativo, etéreo e lenitivo psicadelismo de admirável propensão celestial – nos hipnotiza, asfixia, narcotiza e arremessa na profunda intimidade e vacuidade de um Cosmos deserto, inóspito e tenebroso, este ‘Maa Sarv’ tem a capacidade de nos entorpecer o olhar, rebaixar as pálpebras e tombar o semblante de encontro ao peito. Soterrados na sua espessa, intensa e sísmica reverberação sonora, somos canalizados e viajados numa envolvente hipnose que nos preenche de morfina via auditiva. Revolvam-se pausada e detidamente num perfeito estádio de sonambulismo ao místico som de uma guitarra intoxicante que se hasteia em tensos, corpulentos, embaciados e obscurecidos riffs, e se supera em ecoantes, gélidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo melancólico conduzido a linhas bafejantes, tonificadas, onduladas e ressonantes, e uma bateria ardente de ofensivas vigorosas, dinâmicas e impetuosas. Num contexto secundário, é-me ainda importante destacar e elogiar os vocais distorcidos, avinagrados, frígidos e espectrais que se desprendem das mais sepultadas trevas para se enfatizarem à tona desta abissal narcose. Chego ao final dos 46 minutos que balizam os três temas do álbum completamente alcoolizado e arrebatado pela sua poderosa toxicidade. ‘Maa Sarv’ é um disco adornado e nebulizado por uma anestésica e encantadora atmosfera que nos sorve a lucidez e petrifica num perfeito estádio de embriaguez. Vivenciem de forma detida e compenetrada toda esta imersiva odisseia de corpo embriagado e algemado pela inércia, e consciência libertada e derramada pela vertiginosa infinidade que se desdobra nos firmamentos do negrume estelar. Indubitavelmente o registo mais coeso e impactante da ainda parca e modesta discografia de Mang Ont que causara em mim toda uma duradoura ressaca difícil de afugentar.

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Review: ⚡ Seedium - ‘Awake’ EP (2019) ⚡

Do noroeste da Polónia chega-nos ‘Awake’, o intoxicante EP de estreia do jovem power-trio instrumental Seedium. Lançado muito recentemente e unicamente em formato digital – apesar da garantia deixada pela banda de um lançamento em formato físico de CD agendado para um futuro próximo – através da sua página oficial de Bandcamp, este auspicioso primeiro registo da banda polaca formada em 2017 vem saturado e enfeitiçado por um nebuloso, temulento, fumarento e pantanoso Psych Doom carregado pelo erosivo efeito fuzz. A sua sonoridade imensamente viscosa, morfínica, lisérgica e oleosa convida o ouvinte a enlamear-se e arrastar-se numa poderosa narcose que o absorve, mumifica, petrifica e revolve do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 27 minutos completamente ensombrados por uma atmosfera temulenta, distópica, enigmática e pardacenta que nos desmaia as pálpebras, enluta a alma e esgota até a mais combativa réstia de lucidez. Ensopem-se neste banho de impassível e psicotrópica escuridão à profética boleia de uma guitarra untada em THC que se avoluma e encrespa em riffs monolíticos, poderosos, umbrosos e demoníacos, e se transcende em solos ecoantes, ácidos, gélidos e viscerais, um baixo carrancudo de pesada e reverberante bafagem que se conduz em linhas oscilantes, robustas, corpulentas e pulsantes, e uma estimulante bateria de toque cintilante, explosivo, ofensivo e tonitruante que galopa pesada e vagarosamente toda esta alucinógena avalanche capaz de nos induzir um pleno e prazeroso estádio xamânico. ‘Awake’ é um EP detentor de propriedades terapêuticas em tudo semelhantes ás do consumo da cannabis, que atestam a capacidade espiritual do ouvinte de uma poderosa e duradoura dosagem de misticismo redentor. Deixem-se magnetizar, sedar e recostar numa perfeita sensação de bem-estar, e sintam-se alcançar e imortalizar nos domínios de um transe religioso. Seedium é um potente anestésico via auditivo que vos manterá cientes nas soterradas trevas de um sonho acordado, e de onde muito dificilmente conseguirão desancorar-se e emergir. Uma das maiores surpresas hasteadas neste início de 2019 está aqui, na cerrada e esverdeada exalação de ‘Awake’. Empestem-se na sua turva toxicidade.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Review: ⚡ High n' Heavy - ‘Warrior Queen’ (2019) ⚡

Da cidade norte-americana de New Bedford (localizada no estado de Massachusetts) chega-nos o quarto e novo álbum do pujante quarteto High n’ Heavy apelidado de ‘Warrior Queen’ e oficialmente lançado hoje mesmo através do selo discográfico italiano Electric Valley Records sob a forma física de vinil (disponível em três diferentes edições e ultra-limitadas a poucas dezenas de cópias existentes). Escudado e entrincheirado num tirânico, altivo, combativo e dinâmico Heavy Rock de indiscreta inspiração setentista em parceria com um empolgante, destravado e euforizante Skate Rock de ritmicidade e intensidade impróprias para cardíacos, este ‘Warrior Queen’ vem dotado de uma potência, robustez e efervescência capazes de nos fazer entrar em combustão. São 36 minutos galopados a uma pesada, titânica e desenfreada cavalgada que nos devasta sem qualquer misericórdia ou inibição. Absorvam toda esta dosagem de adrenalina via auditiva à boleia de uma guitarra intoxicante que se enlameia em intrigantes, corrosivos, pantanosos e fumegantes riffs e se galanteia em majestosos, electrizantes, dilacerantes e voluptuosos solos, um baixo dominante que se carrega através de linhas possantes, tensas, obscuras e trovejantes, um litúrgico órgão de bailados arrepiantes, enigmáticos, luciféricos e atemorizantes, uma bateria diligente que tanto se inebria e esmorece como se desprende e enlouquece, e uma voz exasperada, erosiva, cavernosa e escarpada que capitaneia toda esta avalanche bélica. ‘Warrior Queen’ é um registo despótico, de natureza intrigante, atormentada, distorcida e inquietante que nos mantém enfeitiçados e a ele atrelados do primeiro ao derradeiro tema. Ousem transpor as imponentes muralhas que protegem o invicto reinado de High n’ Heavy e enfrentem de forma destemida um dos álbuns mais vultosos, aparatosos e impactantes lançados até ao momento no ainda juvenil ano de 2019.

Review: ⚡ Plastic Woods - ‘Icarus’ (2019) ⚡

Este início de 2019 está a ser muito prolífico para as bandas espanholas, e por isso terei de prolongar a minha estadia – no que a matéria de reviews diz respeito – no país vizinho. Do município de Antequera (Málaga, Andaluzia) chega-nos o álbum de estreia do recém-formado trio Plastic Woods denominado ‘Icarus’. Lançado no passado dia 18 de Janeiro pela editora discográfica espanhola Surnia Records sob a forma física de CD, este fabuloso álbum de natureza conceptual prende um envolvente, harmonioso e fascinante sortido de sonoridades que nos cativa do primeiro ao último minuto. Superiormente orientado por um inventivo, complexo e altivo Prog Rock de veia jazzística e experimental, que se balanceia entre um contemplativo, quente, deslumbrante e lenitivo Psych Rock de aroma primaveril e um poderoso, obscuro e nebuloso Psych Doom de reverberação massiva, este primeiro registo dos jovens Plastic Woods demonstra e ostenta uma admirável maturidade capaz de convencer e apaixonar o mais exigente dos ouvintes. A sua musicalidade passeia-se livre e elegantemente por atmosferas marcadamente contrastantes, numa viagem evolutiva que alterna entre paisagens sonoras tingidas a uma estarrecedora placidez e outras incendiadas por uma vibrante efusividade. É esta rotatividade de climas que faz de ‘Icarus’ um extraordinário álbum de natureza imersiva, onde mergulhamos e nas suas profundezas nos atordoamos e sublimamos. Sintam-se transcender e embevecer ao extasiante som de uma guitarra fenomenal que se consolida em vistosos, monolíticos, pesados e oleosos riffs e se fragmenta em prodigiosos solos de desarmante beleza e destreza, um baixo de ressonância modorrenta que se conduz a linhas possantes, arrastadas e torneadas, uma bateria de toque cintilante, polido, delicado e estimulante que se aventura em criativas e aliciantes acrobacias, e uma liderante voz de feições bipolares que tanto surge branda, melódica e suave como colérica, aguerrida e cáustica. De destacar – ainda que num contexto secundário – a presença de uma flauta transversal que com os seus eróticos e compenetrados bailados confere toda uma misticidade extra a esta inspirada e caprichada obra de Plastic Woods. Recostem-se confortavelmente, respirem calma e profundamente, tombem as pálpebras, eclipsem o olhar, e deixem-se induzir pela intensa maviosidade irradiada por ‘Icarus’. Este é um álbum majestoso e cerimonioso – detentor de uma aura sagrada – que prontamente me convertera em seu devoto seguidor. Comunguem a consagrada música de Plastic Woods e convertam-se vocês também.

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 Surnia Records

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Review: ⚡ Vertical - 'Vol.3' EP (2019) ⚡

Da cidade de Toledo (Espanha) chega-nos a irreverente e reverberante fogosidade do jovem power-trio Vertical com o lançamento do seu novo EP apelidado de ‘Vol.3’ e lançado muito recentemente tanto em formato digital (disponível para download gratuito) como em formato físico de CD (numa edição autoral e ultra-limitada a apenas 100 cópias existentes) através da sua página oficial de Bandcamp. Orientada e motorizada por um poderoso, fervilhante e ostentoso Hard Rock em harmoniosa parceria com um enérgico, provocante e carismático Grunge Rock à boa moda dos 90’s, a incitante sonoridade de Vertical arremessa-nos para uma alucinante e vertiginosa digressão à boleia de um furioso e ruidoso muscle car que desbrava e incendeia as estradas de um horizonte fervido pelo bafo solar. Contando ainda com lisérgicas passagens que nos envolvem num estádio de entorpecimento e fascinação, este ‘Vol.3’ é maioritariamente um registo governado a uma redentora explosividade que nos atesta de adrenalina. Na composição deste inflamante trago está uma guitarra dominante de riffs musculosos, oleados, ondulados e imperiosos, um murmurante baixo de linhas possantes, obscuras, viçosas e vibrantes, uma bateria ressonante de ritmicidade enérgica e galopante e ainda uma espantosa voz temperada a ardência, vivacidade, aspereza e intensidade que lidera com excelência e exuberância todo este disparo de euforia via auditiva. Sobrevivo ao sísmico entusiasmo desta impactante formação espanhola de respiração ofegante e coração entregue a um rufar incessante. Enfrentem toda esta massiva avalanche detonada pelos Vertical e experienciem todo o vigor transpirado pelo primeiro grande EP de 2019.

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Review: ⚡ Híbrido - 'I' (2019) ⚡

Da região sulista da nossa vizinha Espanha chega-nos o álbum de estreia do recém-formado quarteto Híbrido. Apesar de ser lançado apenas amanhã pelo selo discográfico espanhol Spinda Records sob a forma física de CD e vinil (ambos os formatos limitados a uma prensagem ultra-limitada de poucas centenas de cópias), esta banda domiciliada na cidade costeira e portuária de Algeciras (Andaluzia) acaba de disponibilizar ‘I’ para escuta integral através da sua página oficial de Bandcamp. Contando com membros dos históricos Viaje a 800 (que tantas saudades nos deixaram) e dos muito promissores Atavismo, esta nova formação espanhola presenteia-nos com uma encantadora fragância sonora de onde se desprendem e enfatizam um serpenteante, hipnótico e exuberante Prog Rock de clara invocação setentista a fazer lembrar os germânicos Eloy, um estival, sedutor, envolvente e celestial Psych Rock e ainda um dinâmico Alternative Rock de agradável digestão. A sua música – borrifada a misticismo, exotismo e sublimidade – edifica deslumbrantes paisagens sonoras que nos mantêm de respiração sustida, olhar petrificado e alma arrebatada. Na cativante atmosfera de ‘I’ passeia-se ainda uma adorável aura de essência revivalista que nos remete para uma vivência temporal há muito em desuso. Deixem-se envolver, enternecer e enlevar pela magnetizante majestosidade de Híbrido ao paradisíaco som de duas copiosas guitarras em constante diálogo entre si que se cortejam e entrançam em aromatizados, mélicos, doces e compenetrados acordes, e se libertam em solos vistosos, edénicos, sidéricos e donairosos, um baixo dançante soberbamente nutrido e conduzido a linhas viçosas, fluídas, flexíveis e vigorosas, uma estimulante bateria tanto pujante e explosiva como suave e contemplativa, e ainda um ecoante, límpida, profético e liderante coro vocal – de idioma castelhano – que sobrevoa toda esta quimérica exalação temperada e climatizada a desarmante fascinação. ‘I’ é um disco verdadeiramente surpreendente que certamente agradará e conquistará tanto gregos como troianos. Um álbum pensado e executado a uma redentora maestria que me assombrara e inebriara do primeiro ao derradeiro minuto. Velejem os adoráveis mares de Híbrido e testemunhem com inteiro apego e devoção aquele que espero tratar-se do capítulo inicial pertencente a uma rica, extensa e luxuosa odisseia musical. Empoeirem-se na sua nebulosa magia estelar.

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