quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Review: ⚡ Kanaan - ‘Odense Sessions’ (2020) ⚡

Depois da muito promissora estreia com ‘Windborne’ (desconstruído e elogiado aqui), o jovem e talentoso tridente norueguês Kanaan prepara-se agora para nos presentear com o seu tão aguardado segundo trabalho de longa duração. Intitulado de ‘Odense Sessions’ e com o seu lançamento oficial agendado para o dia de amanhã através do insuspeito selo discográfico dinamarquês El Paraiso Records sob a forma física de vinil (limitado a uma prensagem de apenas 500 cópias disponíveis) e digital na extensão mp3, este novo álbum da banda educada e norteada pela música Jazz conta com um reforço de peso na guitarra: Jonas Munk (Causa Sui). Se o álbum de estreia é capitaneado por uma dominante aura jazzística, transversal a todos os seus temas integrantes, este quimérico ‘Odense Sessions’ investe com mais firmeza e ousadia num aromatizado, anestésico e ensolarado psicadelismo de tez pastoril, bocejante, deslumbrante e primaveril que – aliado a uma veia experimental conduzida a uma fluída, inventiva e muito descontraída espontaneidade criativa – se desdobra pelas verdejantes, cheirosas e ondulantes planícies vigiadas e afagadas pelo Sol crepuscular. Para além deste radioso, cristalino, envolvente e delicioso Psychedelic Rock de agradável influência West Coast, esta mágica e estupenda obra forjada e gravada pelo trio sediado na cidade-capital de Oslo no município dinamarquês de Odense (casa-mãe da El Paraiso Records), vem também condimentada, adornada e massajada por um lenitivo, sublimado, inspirado e meditativo Krautrock de apurada estética cinematográfica. De narinas dilatadas a inalar e saborear a salgada brisa suspirada pela ondulação oceânica, pálpebras semi-cerradas escondendo um tímido e inebriado olhar encandeado pela intensa resplandecência bafejada pelo Sol, e alma extasiada e relaxada num perfeito oásis sensorial, somos maravilhados, alcoolizados e atordoados por um catártico e delirante transe espiritual que nos climatiza e eteriza do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 45 minutos vertidos e diluídos nas vertiginosas profundezas de uma edénica hipnose superiormente tricotada e canalizada por duas guitarras dialogantes, encantadoras e ziguezagueantes que se esperneiam em reconfortantes, místicos e fascinantes acordes e se entrançam em delirantes, orgásmicos e serpenteantes solos, um baixo murmurante de linhas pulsantes, densas, distensas e ondeantes, e uma sumptuosa bateria de sensibilidade, inteligência e sagacidade jazzísticas que – com o seu toque flamejante, acrobático, ponderado e elegante – tiquetaqueia e formoseia toda esta utópica digressão pela simbiótica sedução de Kanaan. Este é um purificante álbum de luminância diáfana e caleidoscópica, integralmente tecido a uma delicadeza e subtileza verdadeiramente enternecedoras, que nos enfeitiça, petrifica e ancora num inamovível estádio de febril embriaguez. Deixem-se prender, namorar e ofuscar pela irresistível, doce e ternurenta misticidade que gravita todo este ‘Odense Sessions’, e testemunhem toda a admirável e venerável maturação de uma banda que há muito deixara de ser uma dúvida para representar e ostentar a mais inabalável certeza. Percam-se e encontrem-se nele.

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