segunda-feira, 29 de junho de 2020

🎨 Alex Grey

🎂 Ian Paice // Deep Purple (29/06/1948)

🎬 Up In Smoke (1978)

☕️ Agitation Free - 'معليش = Malesch' (1972, Vertigo)

Review: ⚡ El Triángulo - 'La Fuga del Color' (2020) ⚡

Da cidade-capital argentina de Buenos Aires chega-nos a psicotrópica fogosidade nasalada pelo exímio power-trio El Triángulo com o lançamento do seu novo álbum. Designado de ‘La Fuga del Color’ e muito recentemente revelado na íntegra através do exclusivo formato digital (com a sempre elogiável possibilidade de download gratuito através da sua página de Bandcamp oficial), este tão ansiado regresso discográfico por parte de uma banda que partilha o domicílio e respectiva musicalidade com actuais e egrégias referências locais como Ambassador, Knei, Almanegra, Denso Crisol e Montenegro vem enriquecer, homenagear e enobrecer o vasto, influente e sui generis legado musical principiado por vultosos nomes, seus conterrâneos, trazidos da dourada década de 1970 como Pappo’s Blues, Pescado Rabioso, Crucis, Invisible, Almendra, Color Humano, Cuero e El Reloj. Saltitando de um inflamante, afrodisíaco e entusiasmante Heavy Blues que concilia a estonteante maestria de Pappo com a tenebrosa heresia de Black Sabbath - matizado a um delirado, caleidoscópico e embriagado Psych Rock, apimentado a um dançante, bem-disposto e contagiante Funk, e conduzido a um serpenteante, majestoso e extravagante Prog Rock – até um apaziguante, sublimado e deslumbrante Acid Folk de adornos idílicos, aromas primaveris e ensolarado por uma esbelta voz feminina, ‘La Fuga del Color’ respira e transpira toda uma mística aura de paladar vintage que me cativara, arrebatara e namorara do primeiro ao derradeiro tema. São 65 minutos integralmente condimentados por uma apurada, fascinante e elaborada ostentação sonora que nos aguça e prazenteia os sentidos. Na génese desta pitoresca, exótica e carnavalesca fusão de géneros está uma guitarra magistral que agarra firmemente a maior dose de protagonismo com os seus imponentes, sinuosos e incandescentes Riffs superiormente desdobrados a irresistível lubricidade, e solos electrizantes, apoteóticos e ziguezagueantes vomitados a imaculada tecnicidade, um baixo ondeante de pesada e saturada reverberação que sussurra linhas magnetizantes, densas  e vagueantes, uma bateria dinâmica que conjuga a vulcânica explosividade esporeada a destravada euforia com a maviosa suavidade de tez jazzística, e uma voz polida, acidificada e melodiosa – a fazer recordar as avinagradas cordas vocais de Geddy Lee (baixista / vocalista dos lendários Rush) – que lidera com distinção toda esta virtuosa obra de El Triángulo. De estender ainda lisonjeiras palavras ao fabuloso artwork de natureza novelesca, brilhantemente pincelado pelo prendado ilustrador argentino Agustín Murias (aka Marea Negra). Este é um álbum verdadeiramente sensacional – orquestrado e norteado a uma dialogante, vertiginosa e incessante simbiose instrumental – que me mantivera de atenção e fascinação a ele atreladas do primeiro ao último tema. ‘La Fuga del Color’ é um álbum talhado e emoldurado a contornos épicos, marcadamente contrastado a intrigante obscuridade e purificante luminosidade, que vive da destreza e subtileza. Um registo vivamente enfeitiçante que decerto cortejará e conquistará todo aquele que o comungar. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo por entre os mais medalhados trabalhos desabrochados no presente ano de 2020.

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🤩 Psychedelic Sixties

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Review: ⚡ Power Plant - 'Cargo' (2020) ⚡

Da cidade portuária de Szczecin (mapeada na Polónia) chega-nos o portentoso álbum de estreia forjado pelo auspicioso quarteto Power Plant, intitulado de ‘Cargo’ e oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do jovem selo discográfico polaco Galactic SmokeHouse através do formato digital e CD. Desancorando o seu navio cargueiro nas quietas águas de um contemplativo, ensolarado, deslumbrado e imersivo Space Rock banhado e bronzeado a desarmante, sublimado e ofuscante psicadelismo, que vai progredindo destemida e triunfantemente até alcançar, lavrar e combater os revoltosos, negros, espessos e tormentosos mares de um fogoso, denso, tenso e impetuoso Stoner Doom de saturação Grunge, a evolutiva, cinematográfica, enfática e expressiva sonoridade de Power Plant pendula entre a edénica bonança e a despótica tempestade, a embaciada letargia e a sedada euforia, a misantrópica negrura e a quimérica luminosidade. De olhar semi-selado e petrificado, semblante desbotado, cabeça pesadamente baloiçante e espírito intensamente atordoado por toda esta intoxicante, fumarenta e enfeitiçante nebulosidade – nasalada pela fresca formação polaca e untada a THC (tetrahidrocanabinol) – somos narcotizados, perturbados e sepultados na obscurantista vacuidade do perpétuo espaço interstelar. Este é um lugar onde a utopia e a distopia se entrelaçam e unificam. Tecido e colorido por duas guitarras dialogantes que tanto se enternecem em maviosos acordes de beleza deífica como se enfurece em titânicos Riffs de bafagem demoníaca e solos trepidantes, ácidos, alucinógenos e rutilantes, escoltado e sombreado por um possante baixo sobrecarregado a uma reverberação sufocante, massiva, altiva e hipnotizante, e tiquetaqueado por uma absorvente bateria de marcha arrojada, dinâmica e compenetrada, ‘Cargo’ é um álbum integralmente climatizado a sedutora, embrumada e redentora soberania que nos ensurdece, entontece e eteriza os sentidos sedentos de experienciar algo assim. São cerca de 46 minutos gravitados por uma empoeirada, profunda e irresistível narcose – amuralhada a sideral misticismo e perfurada pela mais esfaimada vontade de desvendar o ocultismo – que nos mantém de corpo e alma firmemente atrelados à esfíngica liturgia superiormente doutrinada pelos Power Plant. Uma das mais impactantes surpresas sonoras do ano está aqui, na intrigante, diáfana e apaixonante bruma em nós sulfatada e imortalizada por ‘Cargo’. Não vai ser fácil contrariar todo este onírico torpor que nos invadira e entupira do primeiro ao derradeiro tema, e reaver a lucidez que nos fora subtraída e asfixiada pelas propriedades druídicas destes jovens polacos. Estamos na presença de um álbum de natureza mutuamente esmagadora, exploradora, profética e emancipadora que seguramente não deixará nenhum dos ouvintes recostado à indiferença.

🎶 Sister Rosetta Tharpe

🥁 Ginger Baker // Cream

🌴 Whitewater, CA

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Review: ⚡ CUARZO - 'Vol. 2' (2020) ⚡

Da América Latina chega-nos o segundo e novo álbum do intenso power-trio peruano CUARZO. Lançado muito recentemente e exclusivamente através das mais variadas plataformas digitais, ‘Vol.2’ vem arrasado por um monstruoso tsunami fibrado a endorfinas de onde se testemunha toda a obscura ferocidade adensada por um vulcânico, vigoroso, violento e titânico Stoner Doom corado e saturado a pesado psicadelismo, a lodacenta toxicidade bafejada por um fumarento, denso, tenso e rumoroso Sludge Metal de borbulhante incandescência e ainda a atmosférica cinematografia dissertada por um hipnótico, deslumbrante, aliciante e letárgico Post-Rock de vocação e exploração espacial. A sua sonoridade discretamente eclética esperneia-se a duas velocidades e climas contrastados que combina combativas, possantes e altivas galopadas esporeadas a ardente euforia com apaziguantes, místicas e narcotizantes passagens condimentadas a fresca lisergia. De maxilares cerrados, narinas dilatadas, olhar eclipsado e cabeça baloiçada num constante ricochete de ombro a ombro, somos sombreados, dominados e incinerados pela despótica e misantrópica radiação agressivamente baforada por uma guitarra urticante que ruge Riffs arenosos, monolíticos, graníticos e fogosos – encrostados a corrosivo, apimentado e denteado efeito Fuzz – e exorciza ziguezagueantes, acidificados, embriagados e esvoaçantes solos de atordoante nebulosidade que ecoam, multiplicam e ressoam pela incomensurável vacuidade sideral, um baixo massivo de linhas troantes, sísmicas , melancólicas e imperantes que propaga toda uma trevosa e portentosa reverberação, e ainda uma bateria expressiva que tanto se acanha numa ritmicidade pausada, forte e carregada, como detona em fulminantes, destravadas e entusiasmantes galopadas à rédea solta. Este segundo álbum de CUARZO prende uma tenebrosa, ciclópica e assombrosa avalanche que nos consome e sepulta num profundo estádio de intensa narcose. Inalem os proféticos, alucinógenos e desérticos ares de ‘Vol.2’ e enlameiem-se nos seus viscosos pântanos de escurecida mescalina via auditiva. Embalem nesta obscurantista odisseia de longa duração pelos abissais desfiladeiros do Cosmos interior, e dissolvam-se na febril náusea que o envolve e revolve. Não vai ser fácil regressar de todo este abrasador torpor de longo alcance sensorial que o tridente sul-americano em nós instaurara e lavrara sem qualquer moderação.

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© Hugh Holland (San Diego, 1975)

🔥 Johanna Sadonis // LUCIFER

☕️ Herbie Hancock - 'Sextant' (1973, Columbia)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Review: ⚡ Lamp of the Universe - 'Dead Shrine' (2020) ⚡

Oremos. Alcançada e recentemente superada a admirável marca de duas décadas de existência enquanto projecto a solo, o talentoso multi-instrumentista neozelandês Craig Williamson parece não desacelerar a sua inesgotável e louvável capacidade criativa ao serviço de Lamp of the Universe, e o seu novíssimo 15º registo discográfico é bem demonstrativo disso. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da discográfica local Projection Records através do formato digital e de duas edições ultra-limitadas em formato físico de vinil, ‘Dead Shrine’ vem irrigado, oxigenado e endeusado por um profético, divinal, espiritual e edénico Acid Folk matizado por um místico, enfeitiçante, deslumbrante e caleidoscópico Psychedelic Rock de propensão astral que nos desobstrói os trilhos do transe religioso e canaliza a alma na direcção de um imersivo, purificante, magnetizante e meditativo ritual de culto dedicado ao hinduísmo. A sua sonoridade de toada mântrica, aliciante, intrigante e nirvânica tem o raro dom de nos eterizar, sublimar e canonizar o espírito, recostando-nos num olimpo sensorial perfumado a desarmante beatitude e melificado a incessante ataraxia. De olhar envidraçado, narinas dilatadas, semblante descorado, corpo serpenteante e consciência içada nas inacabáveis profundezas de um Cosmos bocejante e embaciado, somos convidados a comungar a sagrada doutrina deste eremítico guru. Dissolvidos numa labiríntica hipnose que nos adormece membros e sentidos, e mumifica num imperturbável estádio de febril letargia, testemunhamos a desapropriação e deserção do Eu numa constante levitação climatizada a sedada euforia. No leme de toda esta onírica digressão pela inexplorada intimidade do nosso Cosmos interior, está uma voz sidérica e messiânica de reconfortantes, inspiradoras e tocantes palavras, uma abençoada cítara de frondosos, esfíngicos, excêntricos e requintados bailados, uma alucinógena guitarra embrumada pelo atordoante efeito wah-wah que vomita solos borbulhantes, efervescentes e intoxicantes, uma trovadora viola acústica de balsâmicos contos fabulares, um baixo sussurrante de linhas bafejadas a uma reverberação ondulante, um mágico sintetizador de mil coros celestiais que adensa todo um misticismo de idioma alienígena, e uma bateria tribalista e embalante de ritmicidade constante, esponjosa e hipnotizante. O artwork piramidal – superiormente detalhado por uma vistosa e prismática textura de estética faraónica – é da autoria do ilustrador britânico Dale Simpson que traduzira para o universo visual tudo aquilo que a musicalidade de ‘Dead Shrine’ floresce e estabelece no nosso imaginário. Estamos na ilustre presença uma obra de essência deífica e vocação ritualística capaz de embevecer e converter em seus devotos peregrinos todos aqueles que nela se abrigarem. Deixem-se guiar e consagrar pela transformadora resplandecência de ‘Dead Shrine’, e eternizem-se na sua enigmática, diáfana e temulenta tranquilidade. Corações ao alto. O nosso coração está e permanecerá em Lamp of the Universe.

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 Projection Records

🌽 Neil Young - 'Homegrown' (2020, Reprise Records)

⚜️ Black Sabbath

💸 Birth Control - "Buy!" (1973)

domingo, 21 de junho de 2020

🏄‍♂️ Monarch -band - "Face to Face" (Live at Steel Mill Coffee)

🎗John Lee Hooker (22/08/1917 - 21/06/2001)

🌊 Robin Alaway @ Carlsbad skatepark (1970's)

©️ Vincent Di Fate (1976)

🌹 Thin Lizzy

Review: ⚡ PALMIERS - 'PALMIERS' (2020) ⚡

Proveniente da cidade do Porto, chega-nos uma das mais agradáveis e elogiáveis surpresas sonoras do ano. Revelado no solstício de Verão, denominado de forma homónima e devidamente lançado nos formatos de digital e CD (este último ultra-limitado à existência de apenas 200 cópias disponíveis para venda) pela mão da editora discográfica local Saliva Diva, este irresistível álbum de estreia produzido pelo quarteto portuense PALMIERS traz-nos um frutado, sumarento e adocicado cocktail musical – de clima tropical e carácter devocional – de onde se reconhece e saboreia um meditativo, envolvente, eloquente e imersivo Krautrock – banhado e tingido a um deslumbrante, ensolarado, apaladado e extasiante psicadelismo – de mãos dadas com um atmosférico, estival, neptuniano e quimérico Dream Pop – oxigenado e sublimado a embriagada letargia – que se acalora e revigora nas paradisíacas praias de um dançante, místico, onírico e contagiante Surf Rock de exotismo arábico. De pálpebras entreabertas, narinas dilatadas, sorriso inextinguível, corpo bamboleante, alma maravilhada e sentidos ensurdecidos e entontecidos pela ofuscante e purificante radiância bafejada pela utópica sonoridade de PALMIERS, somos conservados num perfeito estádio de pleno bem-estar que nos enternece, reconforta e embevece do primeiro ao derradeiro tema. Uma adorável epifania veraneia que nos deixa firmemente suspensos em órbita do tão almejado nirvana. Embrenhados e embalados numa profunda e entretida hipnose de natureza oceânica e inefável doçura, somos namorados por uma guitarra pérsica de serpenteantes, jubilosos, libidinosos e apaixonantes bailados, um baixo deliciosamente groovy de linhas murmurantes, hipnóticas, exóticas e flutuantes, um harmonioso teclado de melodias arejadas, refrescantes, bailantes e embriagadas, e ainda uma instigante bateria a trote de uma ritmicidade cintilante, compenetrada, inspirada e revigorante. O artwork de endeusamento e saturação solar aponta os seus créditos autorais à ilustradora portuguesa Joana Carneiro. Deixem-se farolizar, bronzear e seduzir pela seráfica e esplendorosa beatitude de ‘PALMIERS’, e embarquem numa fabulosa digressão desértica povoada por miragens tangíveis e frondosos oásis de deleite sensorial e espiritual. Não vai ser fácil emergir e despertar das funduras deste edénico sonho acordado e reaver a lucidez que nos fora subtraída e sonegada. Um dos mais miríficos álbuns nacionais de 2020 está aqui, na irretocável e muito promissora estreia dos portugueses PALMIERS.

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 Saliva Diva

sexta-feira, 19 de junho de 2020

✠ Lemmy Kilmister

🎗Nick Drake (19/06/1948 - 25/11/1974)

Review: ⚡ Mothers of the Land - 'Hunting Grounds' (2020) ⚡

Depois de em 2016 terem lançado o seu irrepreensível e impactante álbum de estreia ‘Temple Without Walls’ (review aqui) – tendo eu o considero e condecorado mesmo como um dos melhores trabalhos de longa duração nascidos nesse ano (listagem aqui) – os austríacos Mothers of the Land acabam de presentear e saciar toda a sua crescente legião de seguidores com o tão aguardado sucessor designado de ‘Hunting Grounds’ e oficialmente lançado hoje mesmo nos formatos digital, de CD e vinil (estes físicos de prensagem ultra-limitada a parcas centenas de cópias disponíveis) pela mão da já conceituada editora discográfica local StoneFree Records. Repetindo a bem-sucedida receita musical estreada na caprichosa produção do seu primeiro registo, este imponente quarteto domiciliado na cidade-capital de Viena escuda-se num melódico, faustoso, poderoso e épico Hard Rock de feições setentistas e tingido a alucinante e flamejante psicadelismo em harmoniosa e libidinosa parceria com um desenfreado, fogoso, polvoroso e oleado Heavy Metal de sotaque britânico e matriz tradicional. A sua sonoridade vistosa, sublime e gloriosa – talhada a uma desarmante e apaixonante majestosidade, e carburada a uma musculada, dinâmica, redentora e entusiasmada cavalgada de instrumentos em debandada – causara em mim um inabalável estádio de crescente e ofuscante fascinação que desprendera e detonara toda uma saturada e exaltada comoção. Numa ornamentada alternância entre desembaraçadas, vertiginosas e inflamadas galopadas à rédea solta e espora aguçada, e passagens climatizadas a uma nirvânica, deslumbrante e afrodisíaca maviosidade, ‘Hunting Grounds’ adjectiva-se como uma obra verdadeiramente arrebatadora que tanto nos enternece de uma doce letargia como sobreaquece de uma diluviana euforia. Na génese de toda esta cuidada, inspirada e magistral epopeia de essência puramente instrumental estão duas sensacionais guitarras gémeas de formosa e lasciva excentricidade que hasteiam vultosos, principescos, titânicos e ostentosos Riffs esculpidos e encerados a sobranceira majestosidade, e esgrimam virtuosos, ziguezagueantes, atordoantes e gloriosos solos superiormente domesticados e esvoaçados a assombrosa e desarmante habilidade, um baixo ronronante valvulado e sombreado a linhas bafejantes, densas, tensas e possantes, e uma bateria combativa, magnética e altiva que – a trote de uma ritmicidade expressiva – tiquetaqueia toda esta despótica cavalaria pesada na imediata conquista do ouvinte. De salientar e aplaudir ainda o excepcional artwork brilhantemente pensado e executado pelo talentoso ilustrador local Markus Raffetseder (aka Dr. Knoche) que confere e este irretocável registo toda uma envolvente atmosfera de misticismo fabular. Confesso que depois de digerido e reverenciado o álbum de estreia de Mothers of the Land, arremessava na direcção deste seu sucessor as mais grandiosas expectativas que acabariam mesmo por lhe assentar na perfeição. Muito dificilmente este quarteto austríaco conseguiria um regresso mais apoteótico. São cerca de 37 minutos inteiramente oxigenados por uma constante, imersiva e provocante feitiçaria de superior primazia que nos esperta e liberta todos os membros e sentidos. Deixem-se embevecer, efervescer e naufragar nos revoltosos mares de ‘Hunting Grounds’ e vivenciar com plena entrega e devoção todo o brioso esplendor de um dos mais monumentais álbuns lançados este ano.

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 StoneFree Records

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Caravan - "Winter Wine" (Live, 1971)

Townes Van Zandt - "Our Mother The Mountain" (1969)

Review: ⚡ Magick Brother & Mystic Sister - 'S/T' (2020) ⚡

Com a sua designação espelhada e vertida do carismático álbum de estreia produzido pelos clássicos franceses Gong que fora revelado no último suspiro da década de 1960, os espanhóis Magick Brother & Mystic Sister – domiciliados na cidade de Barcelona – acabam de apresentar o seu primeiro e fabuloso álbum de denominação homónima que fora recentemente lançado nos formatos físicos de CD e vinil (ambos de disponibilidade ultra-limitada) e devidamente promovido pela mão da parceria discográfica multinacional que coliga a editora espanhola The John Colby Sect à grega Sound Effect Records. Polinizada por um deslumbrante, edénico, místico e radiante Psychedelic Rock de paladar Pink Floyd’eano e um charmoso, pérsico, profético e ostentoso Progressive Rock de sotaque Canterbury’eano e influências trazidas dos britânicos Caravan, a mágica, opalescente e quimérica sonoridade de Magick Brother & Mystic Sister’ é abraçada, embrumada e canonizada por uma apaixonante atmosfera onírica que prontamente remete o ouvinte para a narrativa trovadora de uma absorvente fábula escrita a requinte e romantismo. Emoldurado por majestosos adornos de polimento jazzístico, sobrevoado por um contemplativo Psychedelic Folk de estética pastoral, lenitiva e medieval, e ainda colorido por discretos e efémeros vestígios de um animado, quente e ritmado Funk de aroma tropical, esta imaculada estreia do quarteto catalão provocara em mim a plena pacificação dos sentidos e a catártica deserção da alma pela seráfica, sagrada e caleidoscópica luminescência que o mesmo faroliza. Na génese de toda esta secreção deliciosa que nos banha e massaja as zonas mais erógenas do cérebro, desobstruindo as artérias espirituais que nos canalizam e confluem nas paradisíacas praias ensolaradas pelo transe religioso, está uma serpenteante, sedutora e refrescante flauta transversal de extravagância e fragância Jethro Tull’esca, um enigmático, enfeitiçante e majestático sintetizador disseminador de uma alquimia ritualista e ocultista, uma guitarra magistral de acordes tricotados a delicadeza, sublimidade e destreza, um baixo murmurante de linhas ondulantes, fluídas e errantes, um afrodisíaco teclado de notas harmoniosas, saltitantes, dançantes e faustosas, uma bateria elegante, tribalista e cintilante de timbalões acrobáticos e pratos tintilantes, e uns vocais sirénicos de tez translúcida, diamantina, gentil e aveludada que flutuam pelas tantalizantes, utópicas e embriagantes epopeias de beleza intocada. De desdobrar ainda os louvores ao endeusado artwork de créditos apontados ao já afamado artista brasileiro Pena Branca que com fiel precisão traduzira para o universo visual toda a ataráxica luzência de clima primaveril e essência revivalista que a libertadora musicalidade – superiormente orquestrada por estes quatro discípulos dos dourados 60’s – de Magick Brother & Mystic Sister’ filosofa. Inalem a ensolarada e apaladada fragância sonora desta obra irretocável e reconfortem-se num balsâmico e ataráxico oásis sensorial sob o feitiço de um dos álbuns mais esplendorosos e sumptuosos do ano.

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sábado, 13 de junho de 2020

🎖 37 years of Stevie Ray Vaughan & Double Trouble - 'Texas Flood' (13/06/1983)

Highway Robbery - 'For Love or Money' (1972, US)

Review: ⚡ Tia Carrera - 'Tried and True' (2020) ⚡

Os radicais Tia Carrera estão de regresso com um renovado capítulo das suas electrizantes, inesgotáveis, adoráveis e provocantes Jams puramente instrumentais. Intitulado de ‘Tried and True’ e recentemente lançado sob a forma física de CD e vinil através da histórica discográfica norte-americana Small Stone Records, este novo álbum produzido pelo enérgico power-trio sediado na cidade de Austin (Texas, EUA) vem chamejado por um inflamante, delirado, embrumado e narcotizante Heavy Psych de essência skater que alterna entre a absorvente lisergia e a efervescente euforia. A sua sonoridade de orientação imersiva, sónica, caleidoscópica e intuitiva tem a capacidade de nos envolver, revolver e atordoar de uma contida adrenalina que nos sobreaquece, alcooliza e enlouquece do primeiro ao derradeiro minuto. Uma atraente, empolgante e desenfreada galopada de esporas afiadas e à rédea solta à vertiginosa boleia de uma epopeica guitarra de sotaque Jimi Hendrix’eano – revestida e encrostada pelo escaldante, rugoso e intoxicante efeito Fuzz – que vomita todo um ciclónico vendaval de selváticos, ácidos, alucinados e orgásmicos solos em debandada, um baixo de bafo fibroso, ardente e rumoroso – locomovido a linhas magnetizantes, densas, tensas e ondulantes – que nunca perde de vista o Riff base, e uma polvorosa bateria a trote de uma ritmicidade retumbante, explosiva, ostensiva e contagiante que tiquetaqueia toda esta vistosa detonação de transbordante, berrante e ofuscante psicadelismo. De espalhar ainda elogiosas palavras pelo chamativo artwork, soberbamente detalhado, colorido e arquitectado, que aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador germânico Alexander von Weding. Este ‘Tried and True’ é um esverdeado, viscoso, musguento e nublado lodaçal de psicotrópica letargia que nos embacia a lucidez e atesta de uma febril embriaguez. Embalados na arrebatadora tontura provocada pelos expressivos, simbióticos e convincentes diálogos entre os três instrumentos padrão, somos desenraizados da gravidade consciencial e violentamente dissipados pela mística vacuidade astral. Deixem-se estontear, prender e maravilhar pelo exotismo diluviano de Tia Carrera, e vivenciem com plena entrega e sedução mais uma fantástica odisseia canalizada pelo interminável universo das suas venenosas, excêntricas e gloriosas Jams de fumarenta toxicidade.