sexta-feira, 31 de julho de 2020

Review: ⚡ King Gorm - 'King Gorm' (2020) ⚡

Da artística cidade costeira de San Diego (mapeada na Califórnia, EUA) chega-nos a inebriante, enigmática e enfeitiçante alquimia nebulizada e mistificada pelo álbum de estreia do quarteto King Gorm. Lançado hoje mesmo através do formato digital e das formas físicas de cassete (ultra-limitada a apenas 60 cópias existentes) e vinil (este pela mão do pequeno selo discográfico californiano Church Recordings), este homónimo álbum forjado e orquestrado pela jovem, trovadora e talentosa formação norte-americana vem talhado e pincelado por um glorioso, épico, estético e majestoso Heavy Prog desdobrado a vistosas, imponentes e espalhafatosas galopadas de esporas afiadas e à rédea solta, e um lenitivo, profético, edénico e introspectivo Psychedelic Folk de enternecedoras, envolventes, eloquentes e sonhadoras baladas emolduradas a beleza medieval, paisagens bucólicas e clima outonal. A sua apaixonante sonoridade de essência ritualística e devoção ocultista – tecida, acolchoada e condimentada a um carismático revivalismo emprestado pelo frutífero e dourado território setentista – ostenta elaboradas, caprichadas, principescas e ousadas composições que imediatamente fascinam, deleitam e transportam o ouvinte para uma sublimada, genuína e imaculada época ancestral caída há muito em desuso. Na génese desta sumptuosa, mágica e portentosa liturgia está um quimérico órgão Hammond profundamente compenetrado nos seus harmoniosos, virtuosos, romanescos e pomposos bailados, um magnetizante teclado Mellotron de encantadores véus sonoros polvilhados a poeira estelar, uma guitarra aristocrática de Riffs imperiosos, homéricos, sidéricos e umbrosos de onde sobressaem esvoaçantes, ácidos, gélidos e serpenteantes solos de elevada toxicidade, um enfático baixo valvulado a linhas empoladas, pulsantes, ondeantes e fibradas, uma dinâmica bateria de pratos flamejantes, explosivos e cintilantes, e timbalões retumbantes, acrobáticos e atordoantes, e uma voz melódica, jovial, odorosa e messiânica que – perseguida e banhada por um espectral, lustroso, ecoante e angelical coro vocal de natureza celestial – completa na perfeição toda esta heroica epopeia pela admirável Corte de King Gorm. Este é um álbum verdadeiramente fenomenal que me embrumara, persuadira e deslumbrara do primeiro ao derradeiro minuto. Percam-se e encontrem-se por entre as imersivas fábulas superiormente narradas por King Gorm, e testemunhem toda a lapidar magnificência de um álbum inaudito que resvala nas fronteiras da perfeição. Pressagia-se uma longa e apoteótica vida ao reinado deste fantástico e deveras auspicioso quarteto californiano que tem em ‘King Gorm’ uma estreia discográfica de sonho.

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 Church Recordings

quarta-feira, 22 de julho de 2020

©️ Robert Crumb

🦩 Jimi Hendrix // Atlanta International Pop Festival, 1970

🦇 Geezer Butler // Black Sabbath '73

Review: ⚡ Heavy Whipped Cream - 'A Mouthful' EP (2020) ⚡

Proveniente da bonita cidade de Utrecht (situada na Holanda) chega-nos ‘A Mouthful’, o gracioso, jovial e polposo EP do quarteto Heavy Whipped Cream, que fora lançado em Abril do presente ano através do formato digital (com a elogiosa possibilidade de download gratuito) e numa simpática edição em CD carimbado com o seu cunho autoral. Ensolarado e massajado por um delirante, primaveril, pastoril e deslumbrante Psychedelic Rock de (in)discretas aproximações aos territórios do Folk rural e do Blues estival, este seu novo extasiante registo de curta duração proporciona ao ouvinte uma fácil digestão e inesgotável fascinação que o climatiza e eteriza do primeiro ao derradeiro minuto. A sua sonoridade emoldurada por um cheiroso, dançante, contagiante e charmoso revivalismo de ornamentos sessentistas passeia-se de forma relaxada, despretensiosa e sedutora pelos cinco melosos temas que o habitam. No imaginário de quem o vivencia é desdobrada, colorida e oxigenada toda uma planura verdejante e arborizada, de extensão a perder de vista, irrigada pelo morno e dourado bafo de um Sol poente e bocejante que se debruça no horizonte. Esta deliciosa iguaria de absorção via auditiva é superiormente servida por duas guitarras dialogantes de acordes agradáveis, risonhos, lustrosos e afáveis de onde florescem e ziguezagueiam solos serpenteantes, embriagados, ácidos e magnetizantes, um baixo de bafejo pululante orientado a linhas ondeantes, flácidas, despreocupadas e murmurantes, uma cativante bateria – aliada a uma percussão tribalista – de ritmicidade envolvente, entusiasmada, condimentada e eloquente, e ainda vocais sedosos, apurados, educados e melodiosos que emprestam toda uma distinta fineza à edénica simplicidade suspirada e disseminada por ‘A Mouthful’. É-me importante evidenciar e elogiar também o maravilhoso artwork de atmosfera paradísica que aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador holandês Artmaus. Embrenhem-se na boa disposição e estimulante vibração transpiradas pela açucarada, sumarenta e apaladada musicalidade de Heavy Whipped Cream que vos petrifica e pacifica os sentidos sedentos por poder experienciar algo assim. Este é um EP adubado, arejado e embelezado a enternecedor afago e singeleza estilística que seguramente não deixará nenhum dos seus ouvintes recostado à indiferença. São sensivelmente 28 minutos inteiramente farolizados e bronzeados por uma ternurenta, ataráxica e balsâmica brisa de origem oceânica que nos desmaia as pálpebras, dilata as narinas e hasteia um perpétuo sorriso no rosto rosado. Derretam-se na sua caramelizada e aromatizada maviosidade, e degustem detida e prazerosamente um dos EP’s mais reconfortantes, jubilosos e tocantes do ano. Não recomendado a diabéticos.

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sábado, 18 de julho de 2020

Review: ⚡ Kombynat Robotron - 'Dickfehler Studio Treffen I' (2020) ⚡

Procedente da cidade portuária de Kiel (situada na extremidade norte da Alemanha) chega-nos mais um registo dos inesgotáveis Kombynat Robotron. Batizado de ‘Dickfehler Studio Treffen I’ e lançado no final de Maio em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial (com a possibilidade de download gratuito) e sob a forma física de vinil pela mão da discográfica inglesa Drone Rock Records (entretanto já esgotado), este novo álbum do imparável quarteto germânico vem oxigenado por um hipnótico, envolvente e cósmico Krautrock pautado ao enfeitiçante ritmo motorik que se empoeira na misticidade estelar de um viajante, deslumbrante e exótico Space Rock tingido a intuitivo e criativo experimentalismo e se entrelaça nas labirínticas teias de um repetitivo, magnetizante e lenitivo Drone Rock. A sua sonoridade locomovida a evolutivas, deslumbrantes e narcotizantes jam’s de essência puramente instrumental – que conjugam a fascinante, etérea e alucinante toxicidade baforada pelos seus conterrâneos Electric Moon com a dançável, profunda e inescapável hipnose superiormente tecida pelos finlandeses Pharaoh Overlord – tem o dom de nos dilatar as pupilas e narinas, embalsamar membros e sentidos, e estacionar a alma num imperturbável estádio de extasiante letargia. Farolizados pelo ofuscante encantamento chamejado por ‘Dickfehler Studio Treffen I’, somos içados pela enfeitiçante gravidade dos astros que povoam as abissais profundezas do negro oceano cósmico, e soterrados na densa poeira estelar que nos eteriza e canoniza a espiritualidade. Enraizados e embalados numa dominante narcose que nos embebeda e sonega a lucidez, atrelamos toda a nossa atenção e consequente fascinação nas exploratórias divagações de duas guitarras messiânicas que se atropelam mutuamente à boleia de ecoantes, lisérgicos, exóticos e atordoantes solos, um baixo bafejante de reverberação pulsante, carregada, sombreada e ofegante, e uma bateria de orientação minimalista que se desdobra a absorvente, compenetrada e eloquente ritmicidade. Deixem-se efervescer, naufragar e embevecer no ataráxico misticismo destes astronautas com a bandeira alemã tricotada no peito, e testemunhem uma das mais maravilhosas, miríficas e audaciosas odisseias pelos insondáveis confins do vosso Cosmos interior. Não vai ser fácil, ou sequer tencionado, escapar da influente órbita gravitacional em nós exercida pelos Kombynat Robotron, e recuperar o total controlo de todas as nossas faculdades sensoriais, cognitivas e espirituais que nos foram subtraídas e domadas do primeiro ao derradeiro minuto. Despertem num perfeito estado de sonambulismo e vivenciem de forma detida e apaixonada toda a lasciva alquimia destilada de um dos álbuns mais petrificantes e purificantes do ano.

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🎨 Veruschka von Lehndorff

terça-feira, 14 de julho de 2020

☀️ Emmylou Harris

✠ Lemmy Kilmister

🎙 Ian Gillan // Deep Purple

Review: ⚡ 10,000 Years - '10,000 Years' EP (2020) ⚡

Oriundo da cidade sueca de Västerås chega-nos o impactante EP de estreia do enérgico power-trio 10,000 Years. Carimbado com designação homónima e lançado muito recentemente através do formato digital e numa edição de autor em CD (este último ultra-limitado à existência de apenas 50 exemplares físicos numerados à mão), ’10,000 Years’ vem enegrecido, escaldado e tonificado por um narcotizante, musculado, sombreado e fumegante Stoner Doom de pesada, saturada e sísmica nasalação luciférica, que se emporcalha nas esverdeadas águas paradas de um viscoso, bafiento e fibroso Sludge Metal encrostado pelo fogoso efeito Fuzz. Descendente de vultosas referências do género tais como Kyuss, Acid King, Bongzilla e Weedeater, a ameaçadora, densa, tensa e esmagadora sonoridade violenta e ardentemente bafejada pelo jovem tridente nórdico é desdobrada e pautada a duas velocidades fortemente contrastadas. Combinando uma lodacenta, misantrópica e sonolenta letargia climatizada a distopia com uma saturada, turbulenta e destravada euforia de consumo impróprio para cardíacos, este titânico EP é motorizado por uma guitarra inquisidora de Riffs massivos, intrigantes, gigantes e altivos de onde efervescem e entoam solos serpenteantes, ácidos, delirados e intoxicantes, enlutado por um possante baixo de mugido reverberante, obeso, vigoroso e magnetizante, pontapeado por uma convulsiva bateria locomovida a ritmicidade explosiva, frenética e coerciva, e rugido por uma voz fogosa, gritada, escarpada e cavernosa que assombra e ecoa por todos os abismos desta sufocante atmosfera de ‘10,000 Years’. São 21 minutos locomovidos a um fervilhante, corrosivo e formigante negrume. Deixem-se banhar e arrasar por esta monolítica avalanche tecida a lava incandescente, expurgada e vomitada por um rumoroso vulcão em constante e inesgotável erupção. Este é um EP autenticamente impiedoso e demolidor que atropelará todo aquele que na sua frente estacionar. Um ardente e urticante trago de pura adrenalina via auditiva que estará seguramente perfilado por entre os mais medalhados registo de curta duração germinados e promovidos no presente ano de 2020.

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domingo, 12 de julho de 2020

Boston - "Peace of Mind" (1976)

Screaming Trees - "More or Less" (1992)

Review: ⚡ Holy Monitor - 'This Desert Land' EP (2020) ⚡

Da cidade-capital grega de Atenas chega-nos o renovado sonho musicado do quimérico quinteto helénico Holy Monitor. Intitulado de ‘This Desert Land’ e lançado no primeiro vislumbre do passado mês de Junho sob a exclusiva forma digital através da sua página de Bandcamp oficial, este fabuloso e caprichoso EP prende uma sublimada, onírica, paradísica e embriagada envolvência onde se envaidece, naufraga e embevece um magnético, imersivo, sidérico e sedativo Krautrock em harmoniosa e dialogante conjugação com um viajante, mágico, enigmático e enfeitiçante Space Rock, um deslumbrante, ensolarado, perfumado e narcotizante Psychedelic Rock, e ainda um estimulante, melódico, radiofónico e extasiante Indie Rock. A sua sonoridade de tez caramelizada, afrodisíaca e arrebatada tem o especial condão de embaciar a nossa lucidez e mergulhar os nossos sentidos num profundo, delirante e ofuscante estádio de deleitável embriaguez. Num admirável equilíbrio entre a doce letargia e a exótica euforia, somos afunilados e escoados numa anestésica, profética e nirvânica hipnose que desagua a nossa espiritualidade no edénico areal do tão almejado transe sensorial. De alma atordoada, olhar eclipsado e corpo balanceado e compenetrado num movimento serpenteante, comungamos toda esta febril saturação de Holy Monitor, farolizados e guiados por uma voz messiânica de paladar aveludado, tropical, sensual e melificado, duas deliciosas guitarras de esponjosos, místicos, caleidoscópicos e lustrosos acordes, e ziguezagueantes, alucinados, alcoolizados e ecoantes solos de extravagância arábica, um baixo ensonado de reverberação arrastada, pulsante, ondeante e sombreada, uma esplendorosa bateria de ritmicidade detida,  hipnotizante, tranquilizante e voluptuosa, e ainda um magnífico teclado de arejados, desarmantes, intrigantes e aromatizados bailados que ensaboa e acolchoa toda a jubilosa atmosfera de ‘This Desert Land’ com uma endeusada, encantada e diluviana fluorescência. Este é um registo verdadeiramente apaixonante, precioso e obcecante que me incitara a ouvi-lo e apreciá-lo vezes e vezes sem conta. São apenas 16 minutos integralmente empoeirados de uma tangível utopia onde o ouvinte se esperneia, enleva e hasteia ao mais genuíno estádio epicurista. Uma incansável massagem cerebral e um lúbrico afago sensorial que nos mantêm imortalizados num inenarrável orgasmo espiritual. Banhem-se e bronzeiem-se na louvável, deífica e insuperável beatitude resplandecida pelos gregos Holy Monitor, e experienciem toda a ataráxica alquimia nebulizada pelos poros de um dos EP’s mais magistrais de 2020. Não vai ser fácil – ou sequer desejável – emergir e despertar desta entorpecedora, estupenda e sonhadora nebulosidade que nos amortalhara e oxigenara do primeiro ao derradeiro tema.

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

👻 Petyr

📸 Sam Giles

☕️ Molior Superum - 'As Time Slowly Passes By​.​.​.' (2019)

🥁 Michael Shrieve // Santana (Woodstock '69)

Review: ⚡ Acid Moon and the Pregnant Sun - 'Speakin' of the Devil' (2020) ⚡

Da histórica e devota cidade de Tel Aviv (Israel) chega-nos o novíssimo álbum de estreia produzido pelo talentoso colectivo Acid Moon and the Pregnant Sun, um projecto formado em 2015 e que reúne diversos músicos locais. Designado de ‘Speakin' of the Devil’ e oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do influente selo discográfico local Reality Rehab Records através do exclusivo formato digital, este primeiro, mas ousado e caprichado, passo discográfico desta muito promissora formação israelita, vem nutrido por um carismático, agradável e radiofónico Classic Rock de aroma revivalista, matizado por um ensolarado, caleidoscópico e perfumado Psychedelic Rock de textura sessentista e ainda massajado por um contemplativo, lírico e lenitivo Folk Rock de mãos dadas a um cativante, jovial e dançante Alternative Country que em estética e simbiótica parceria conferem toda uma aura edénica, profética e pastoral à apaixonante ambiência que climatiza e eteriza todo o corpo temporal desta inspirada obra. Destilada deste emaranhado novelo – estilo musical comummente apelidado de Americana - onde coabitam e dialogam entre si todos os géneros acima referidos e retratados, a envolvente, sedutora e eloquente sonoridade de ‘Speakin' of the Devil’ traz-nos todo um inefável paladar à mais purificante, extasiante e catártica liberdade espiritual. Uma transformadora passeata pelas rugosas, idosas e poeirentas estradas do velho-oeste americano de punhos firmemente cerrados no volante de um velho e vistoso Cadillac, sorriso genuíno esboçado e eternizado no rosto, olhar embriagado e cravado no desfocado horizonte fervilhado pelo corado Sol poente, e de esvoaçantes cabelos entrelaçados na refrescante brisa suspirada pelo deserto crepuscular. Toda uma ataráxica absorção sensorial e espiritual que em nós cultiva um profundo estádio de compenetrada e viajada introspecção. São 43 minutos integralmente farolizados e banhados a uma nirvânica luminância que nos bronzeia, deleita e esperneia sem a mais pequena réstia de inibição. Deixem-se embalar neste sonho acordado – superiormente capitaneado pelos Acid Moon and the Pregnant Sun – à mística boleia de uma liderante voz de feição verdadeiramente garbosa, simpática, melódica e melosa, duas fabulosas guitarras Grateful Dead’eanas que se manifestam em fascinantes, paradisíacos e comoventes acordes, e enlouquecem na emancipação de ostentosos, ácidos e cheirosos solos, um baixo bocejante de reverberação relaxante, sombreada, fluída e ondeante, um harmonioso teclado de refrescantes, airosos, lustrosos e deslumbrantes bailados, e uma bateria lasciva que – na companhia de uma percussão tropical, exótica e tribalista, e a galope de uma ritmicidade luminosa, delicada e despretensiosa – tiquetaqueia e trauteia com apurada graciosidade toda esta edénica digressão pelos arborizados trilhos do reino da esperança, bonança e alegria. De arremessar ainda elogiosas palavras ao enigmático e ritualístico artwork que deve a sua distinta existência à já célebre espanhola Branca Studio. Este é um álbum coroado a uma devocional beatitude de clima veraneio que me cortejara e embriagara do primeiro ao derradeiro tema. Deixem-se glorificar, embevecer e empoderar pela terapêutica musicalidade de Acid Moon and the Pregnant Sun e testemunhem na primeira pessoa todo o mágico, ofuscante e prismático esplendor de um dos mais maviosos e deliciosos álbuns nascidos em 2020.

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domingo, 5 de julho de 2020

Review: ⚡ Slypon - 'Slypon! Alive at Fitzroy Street' (2020) ⚡

Da cidade costeira de Melbourne (situada na Austrália) chega-nos uma das mais aprazíveis surpresas sonoras do ano. ‘Slypon! Alive at Fitzroy Street’ dá nome ao adorável álbum de estreia do jovem quinteto Slypon que fora lançado no passado mês de maio sob a exclusiva forma digital. Orquestrado por um delicioso cocktail musical de receita complexa e paladar tropical, que ostenta um ensolarado, sumarento, melífluo e sublimado Psychedelic Rock de clima West Coast, um majestoso, dançante, serpenteante e lustroso Progressive Rock de reconhecível sotaque Canterbury’eano e ainda um exuberante, místico, carnavalesco e hipnotizante Jazz Fusion de vocação arábica, este primeiro trabalho dos inspiradores Slypon traz-nos um irresistível exotismo capaz de fazer salivar os nossos ouvidos. Integralmente sobrevoado e farolizado por uma carismática atmosfera setentista, esta irretocável obra do colectivo australiano respira e transpira uma sonoridade refrescante, inebriada, condimentada e extasiante que decora o imaginário do ouvinte com paradisíacas paisagens de ardência veraneia. De olhar envidraçado, semblante anestesiado, sorriso perpetuado no rosto e alma plenamente arrebatada, somos passeados pelas fervilhantes, bronzeadas e ziguezagueantes estradas de Big Sur enquanto de narinas dilatadas aspiramos a fresca e salgada brisa suspirada pelo Oceano Pacífico e de lucidez embaciada procuramos resistir à tentação de mergulhar num súbito desmaio de prazer. Na génese desta espirituosa, frutada, sagrada e airosa bebida de consumo via auditivo está uma exótica guitarra de inspiração emprestada pelo virtuosismo de Santana e Peter Green que desdobra maviosos, enfeitiçantes, relaxantes e sumptuosos acordes e vomita borbulhantes, orgiásticos, bombásticos e atordoantes solos de elevada toxicidade, um baixo bamboleante de linhas ondeantes, magnéticas, proféticas e magnetizantes, uma bateria jazzística que – aliada a uma percussão de extravagância tribalista – tiquetaqueia com delicadeza, sensibilidade, criatividade e destreza, um lírico piano Fender Rhodes de notas saltitantes, simétricas e sonantes, um órgão Farfisa de intrigantes, litúrgicas e revigorantes melodias, toda uma panóplia de cósmicos sintetizadores que sulfatam a ambiência do disco com uma harmoniosa poeira estelar, um gracioso clarinete de envolventes narrativas fabulares, uma vistosa gaita de fole detidamente entregue aos seus excêntricos bailados de aura celta, e ainda tímidas aparições de vocais entorpecidos, sedosos, melodiosos e amolecidos que flutuam vagarosamente pelo sereno caudal deste verdadeiro sonho acordado. Conseguem imaginar um concordante diálogo instrumental entre o esplendoroso psicadelismo espelhado pelos californianos Monarch e a extravagância pérsica vagabundeada pelos texanos Khruangbin? Se sim, chegaram aos nirvânicos domínios de Slypon. Um real oásis de afago espiritual e sensorial que nos lenifica, seduz, conduz e purifica do primeiro ao derradeiro tema. São 52 minutos atestados de uma afrodisíaca beatitude capaz de expurgar e canonizar a alma de quem nele se deixar absorver, namorar e embevecer. Decididamente um dos mais cativantes álbuns do ano está aqui, na impecável estreia discográfica de uma banda que tem tanto de talentosa quanto de auspiciosa. Não vai ser fácil escutá-lo apenas uma vez, duas ou três. Quatro ou cinco. Ou seis.

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