domingo, 13 de dezembro de 2020

Review: ⚡ Mohama Saz - 'Quemar las Naves' (2020) ⚡


★★★★

Os espanhóis Mohama Saz estão de regresso com um dos álbuns mais grandiosos de 2020. Depois dos mais recentes títulos ‘Negro es el Poder’ de 2017 (aqui desconstruído e elogiado) e ‘Viva el Rey’ de 2018 (também aqui desmantelado e reverenciado), estes sultões madrilenos prosseguem agora a sua consagrada peregrinação na direcção do Sol nascente que se debruça no oriente, com este renovado capítulo discográfico dado pelo nome de ‘Quemar las Naves’ e que fora muito recentemente lançado através do selo discográfico independente Humo sob a forma física de vinil. De instrumentos apontados a um contagiante, colorido, delirado e excitante Psychedelic Rock – polvilhado com condimentos mediterrânicos e ventilado por um dançante, arenoso, majestoso e fascinante World Music de deslumbrante inspiração turca – este quarto álbum do quinteto hispânico não poderia ser mais do meu agrado. De coração a transbordar devoção, pés descalços trilhando as aveludadas, finas e bronzeadas areias de protuberantes dunas que se empolam no vasto oceano desértico, e olhos içados no longínquo firmamento fervilhado pelo intenso bafo de um Sol febril, somos gravitados de encontro à paradísica Babilónia com os seus imponentes, arborizados e verdejantes jardins suspensos. Toda uma nirvânica digressão de afago sensorial e alimento espiritual que nos absorve, extasia e revolve num miraculoso ritual. São 35 minutos de uma quimérica liturgia que nos purifica a alma e reveste o olhar com uma expressão sonhadora. Na génese desta cerimónia faraónica soberbamente musicada está um principesco baglama de sotaque pérsico que rubrica enfeitiçantes, arabescos, expressivos e serpenteantes acordes, e centrifuga atordoantes enxames de vistosos, alucinógenos e venenosos solos, uma portentosa bateria de delicada, habilidosa e luxuosa orientação rítmica aliada a uma exótica percussão de natureza tribal, um pululante baixo de reverberação meditativa, torneada, ondulada e imaginativa, um clarinete fabular de vagas palpáveis tecidas a doçura, melodia e simetria, um ostentoso saxofone de ziguezagueantes, inesperados e uivantes sopros que driblam todos os restantes instrumentos, vocais de coros evangélicos, messiânicos e angelicais que nos iluminam e mapeiam as regiões até então desconhecidas da nossa imaterialidade, e ainda triunfantes sintetizadores que sulfatam toda a esta esfíngica atmosfera com a sua enigmática e profética nebulosidade de aroma celestial. ‘Quemar las Naves’ é uma obra verdadeiramente deífica que nos banha de uma intensa luzência trigueira e promove a deserção da consciência pelas eternas planuras da religiosidade. Recebam a bênção de Mohama Saz que em vós perpetuará toda uma sensação de pleno bem-estar e uma eufórica dormência impossível de perturbar, e comunguem a ofuscante sublimação de um dos registos mais obcecantes, tantalizantes e piramidais do presente ano. Corações ao alto. Tudo em nós dança ao som redentor de Mohama Saz.

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