domingo, 31 de janeiro de 2021

Review: ⚡ Pseudo Mind Hive - 'Volume III' EP (2021) ⚡

★★★★

Depois de lançados os álbuns ‘From Elsewhere’ (aqui desconstruído e elogiado) e ‘Of Seers and Sirens’ (aqui explanado e enaltecido), o fascinante quinteto australiano Pseudo Mind Hive – formado em 2017 e enraizado na cidade de Melbourne – acaba de presentear todos os seus ouvintes com o nascimento de um terceiro registo (o primeiro na configuração de EP) exteriorizado no imediato sob a forma digital e que será futuramente editado em formato físico de vinil pelo pequeno e independente selo discográfico local Salty Dog Records. Preservando a feitiçaria psicotrópica que nebuliza e alcooliza os seus antecessores, ‘Volume III’ desvenda um intrigante, esfíngico, litúrgico e intoxicante Heavy Psych de atmosfera ocultista que baloiça entre místicas, envolventes, plácidas e oníricas paisagens Folk de clima outonal e beleza pastoral, e toda uma fogosa, agitada, inflamada e jubilosa alquimia Prog’ressiva de borbulhante e trepidante ebulição. De olhar velado, narinas dilatadas e semblante petrificado, somos capturados, embevecidos e narcotizados pela fosforescente radiância deste esotérico ritual empoderado por uma dominante aura sobrenatural. Engolidos, embruxados e desnorteados por entre a polposa bruma de ‘Volume III’, somos farolizados pela tentadora dança de duas guitarras proféticas que se entrelaçam na edificação de cativantes, dinâmicos, seráficos e dançantes Riffs encrostados a gaseificado efeito Fuzz, e desenlaçam na condução de solos serpenteantes, pérsicos, lisérgicos e atordoantes, pelos murmúrios reverberantes de um baixo bafejado a linhas palpitantes, densas, tensas e hipnotizantes, pela contagiosa explosividade de uma bateria expressiva que saltita de forma acrobática nos timbalões e nos bronzeia com a cálida luminância exorcizada dos pratos, pelos etéreos ecos esvoaçantes de uma voz liderante, espectral, episcopal e aliciante, e ainda pela magia celestial vaporizada de um melodioso teclado que sulfata todo este EP com uma deslumbrante poeira estelar. São 23 minutos atestados de uma diluviana ofuscação que nos entorpece os sentidos, enlouquece a lucidez e arremessa a alma pelas fantasmagóricas, pitorescas e coloridas nébulas que pigmentam o negro solo cósmico. Não vai ser nada fácil sacudir toda esta massiva letargia que os druidas Pseudo Mind Hive em nós disseminaram. Percam-se e encontrem-se no epicentro deste naufrágio sensorial de glorificação espiritual.

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 Salty Dog Records

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

🎁 30 years of Screaming Trees - 'Uncle Anesthesia' (29/01/1991, Epic)

🍁 Black Sabbath, 1970

📀 Savanah - 'Olympus Mons' (27/05/2021 via StoneFree Records)

☕️ Blodwyn Pig ‎- 'Getting To This' (1970)

Review: ⚡ Needlepoint - 'Walking Up That Valley' (2021) ⚡

★★★★

Proveniente da cidade-capital norueguesa de Oslo chega-nos a revitalizante frescura nórdica do fino quarteto Needlepoint com o seu novo e quinto álbum debaixo dos braços. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do influente selo discográfico de origem germânica Stickman Records sob a forma física de CD e vinil, ‘Walking Up That Valley’ irradia um melodioso, bucólico, estético e meloso Progressive Rock de carismático sotaque Canterbury’esco em alegre e dialogante consonância com um requintado, esplendoroso, envolvente e adornado Jazz Rock de odor vintage, e ainda um ensolarado, bem-disposto, contagiante e aromatizado Psychedelic Pop de coloração sessentista. A sua mágica sonoridade é lavrada, desabrochada e sulfatada por uma aura fabular de poder consolador – e inspiração subtraída a emblemáticas referências dos géneros tais como Emerson, Lake & Palmer, Genesis, Camel, Caravan, King Crimson e Soft Machine – que massaja e encanta o ouvinte com joviais, primaveris e estivais baladas que o inundam de uma castidade cristalina e florescem no seu imaginário todo um esverdeado, refrescante e arborizado tapete campesino, estriado por marulhantes riachos de águas translúcidas e vigidos por amplos céus manchados de um forte azul turquesa, que se desdobra na longínqua direcção de um Sol calmoso, profético e lustroso. Reinando em nós um inocente estádio da ausência de tempo e uma ligeira embriaguez que nos mantêm de sentidos anestesiados e apegados à delicada, fascinante e sublimada sonoridade de ‘Walking Up That Valley’, somos namorados e extasiados do primeiro ao derradeiro minuto por uma graciosa guitarra de cuidados, sensíveis e embelezados acordes superiormente caligrafados a perícia e volúpia, um baixo livremente ondeante de linhas murmurantes, fluídas, pensativas e magnetizantes, um fabuloso teclado de notas saltitantes, harmoniosas e magnificentes, uma bateria deliciosamente jazzística de toque cintilante, leve, polido e chamejante, e uma voz afável, diáfana e sedosa de tonalidade vaporosa, cantante e luminosa que sobrevoa de forma airosa os paradisíacos vales que decoram todo o álbum. Integralmente absorvidos, nutridos e reconfortados pela inefável doçura que Needlepoint destila, adormecemos num imperturbável e subterrâneo estado de sonhadora introspecção que nos embruma ao longo dos seus 42 minutos de duração. ‘Walking Up That Valley’ perfila-se como uma obra verdadeiramente arrebatadora. Percam-se e encontrem-se pelos meandros deste labiríntico jardim do Éden, e vivenciem com cega e devota sedução todo o esplendor deste registo magistral, pincelado a torrencial beleza, relaxada ternura e detalhada subtileza. Estamos seguramente na presença de um dos mais distintos álbuns do ano. Acalentem-se e deleitem-se nele.

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 Stickman Records

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

🥁 Carl Palmer // Emerson, Lake & Palmer

🏁 Led Zeppelin

📀 Earthless - 'Live in the Mojave Desert' (02/04/2021, Heavy Psych Sounds)

© Mati Klarwein - ‘Annunciation’ (1961)

Review: ⚡ Rostro del Sol - 'Rostro del Sol' (2021) ⚡

★★★★

Da populosa e fremente Cidade do México (capital do México) chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados de 2021. ‘Rostro del Sol’ é o homónimo disco de estreia deste jovem, mas muitíssimo talentoso, quarteto azteca, que de forma brilhante – e para meu trasbordante regozijo – conjuga a sua música no pretérito. Com o respectivo lançamento integral e oficial agendado para o próximo dia 29 do vigente mês (sexta-feira) pela mão do emergente selo discográfico local LSDR Records (acrónimo de Loud, Slow and Distorted Riffs) sob a forma digital e numa rara edição em CD (ultra-limitada a apenas 100 cópias disponíveis), este primeiro passo discográfico de Rostro del Sol traz-nos um colorido, perfumado e caleidoscópico sortido sonoro de onde se identifica e degusta um delirante, excitante e tropical Psychedelic Rock, um serpenteante, enfeitiçante e triunfal Progressive Rock e ainda um sumptuoso, aparatoso e orquestral Jazz Rock. Combinando o exótico virtuosismo de Jimi Hendrix e Carlos Santana com a carnavalesca vitalidade de uns Mogul Thrash, a aventurosa sagacidade de Soft Machine e Mahavishnu Orchestra, o arejado misticismo jazzístico de Sweet Smoke, e ainda com o abstracto cabaret domesticado pelo Frank Zappa, esta irretocável, caprichosa e venerável obra representa um imaculado tributo aos lisérgicos anos 60 e 70. Contando ainda com destemidas incursões pelos territórios de um sinuoso, principesco e majestoso Blues, e de um fogoso, ritmado e suado Funk, a sua sonoridade camaleónica, afrodisíaca, veraneante e prismática desdobra-se numa instrumentação habilmente elaborada que envolve e revolve a alma do ouvinte numa arborizada teia de sonhos. Na fórmula desta efervescente alquimia de chamejante simbiose instrumental dialogam entre si uma ácida guitarra que se envaidece num vendaval em espiral de ziguezagueantes, histéricos, orgiásticos e atordoantes solos de pomposa caligrafia Jimi Hendrix’eana, uma bateria soberbamente jazzy que – à boleia dos vertiginosos rufos na tarola, timbalões galopantes e pratos sibilantes – embala em imersivas, vistosas e criativas acrobacias circenses de tirar o fôlego, um baixo oscilante de linhas fluídas, onduladas, empoladas e magnetizantes, um excêntrico saxofone de sopros lustrosos, ferozes, turbilhonantes e gloriosos, um quimérico teclado de sotaque Jon Lord’eano que com as suas frescas, cheirosas e harmoniosas melodias banha e condimenta todo este álbum verdadeiramente piramidal. De salientar e exultar ainda o fabuloso artwork de ambiência surrealista – a fazer recordar o pitoresco Salvador Dalí – superiormente concebido pela artista mexicana Elena Ibáñez. São 32 minutos inteiramente climatizados por um idílico, ritualístico e sumarento deslumbramento de cores berrantes, palpáveis e pulsantes que me eclipsara a lucidez e em mim hospedara todo um febril estádio de doce e imperturbável embriaguez. Um paradisíaco deboche de redenção sensorial que nos ascende e prende aos braços do transe espiritual. Deixem-se dissolver, intoxicar e embevecer nesta profunda hipnose oxigenada a LSD, e comunguem todo o expressivo esplendor de um álbum recostado nas tão almejadas fronteiras da perfeição. Não vai ser nada fácil contrariar o seu imenso favoritismo à conquista do título de melhor disco do ano.

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 LSDR Records

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

🤩 Liquid Tension Experiment - "The Passage Of Time" (2021, Inside Out)

🕇 Tony Iommi // Black Sabbath

🥤 Mark Lanegan

Review: ⚡ Here Lies Man - 'Ritual Divination' (2021) ⚡

★★★★

Oriundo da Hollywood’esca cidade de Los Angeles (Califórnia, EUA) chega-nos o quarto e novo álbum do muito sui generis e recém transfigurado de trio para quarteto Here Lies Man. Batizado de ‘Ritual Divination’ e oficialmente lançado hoje mesmo pela célebre discográfica californiana RidingEasy Records (com a qual a banda reforça o seu vínculo contractual de exclusividade editorial) através dos formatos físicos de CD e vinil, este vigente registo da banda serve-se da bem-sucedida receita sonora já posta em prática nos trabalhos antecessores. Fervido num majestoso, litúrgico, enigmático e imperioso Proto-Doom maquilhado a encarvoadas, demonizadas e espessas ressonâncias Black Sabbath’icas, profusamente apimentado por um dançante, tribalista, ritualista e empolgante Zamrock trauteado a contagiante ritmo Afrobeat, e ainda colorido por um lustroso, carnavalesco, afrodisíaco e fogoso Heavy Psych de efervescência vulcânica, ‘Ritual Divination’ embala o ouvinte num psicotrópico, emocionante, magnetizante e caleidoscópico safari de afago e imersão sensorial. De olhos revirados, corpo serpenteante, sentidos centrifugados e endorfinas em sónica debandada, somos enfeitiçados pelas extravagantes praxes tribais de Here Lies Man. A sua musicalidade intensamente sedutora, apaixonada e redentora é bailada por uma imponente guitarra Iommi’esca – vulcanizada a fumegante efeito Fuzz – que se envaidece na condução de ziguezagueantes, fibrosos e intoxicantes Riffs e uivantes, ácidos e embriagantes solos, galopada por uma exótica bateria esporeada a compassos quentes, vivos e entusiasmantes, reverberada por um bafejante baixo de linhas densas, tensas e torneadas, nebulizada por um perfumado teclado de refrescantes, arábicas e intrigantes harmonias, e sobrevoada por vocais proféticos, ecoantes e sidéricos. ‘Ritual Divination’ é uma euforizante, estonteante e endiabrada montanha-russa pela savana africana. Uma selvática combustão que nos empola os sentidos e sacode numa imperturbável dança climatizada a transe religioso. Permitam-se servir de cobaias neste místico voodoo superiormente cerimoniado pelos indígenas citadinos, e vivenciem numa incessante fascinação e transbordante devoção todo o erotismo transpirado pelos Here Lies Man. Seguramente o meu álbum favorito de uma banda que veio para ficar e se eternizar.

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 RidingEasy Records

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Review: ⚡ Blackjack Mountain - 'Holding Time' (2021) ⚡

★★★★

Da pequena cidade de Carrollton (localizada no estado americano de Geórgia) chega-nos o eruptivo álbum de estreia do jovem power-trio Blackjack Mountain. Lançado no primeiro choro deste recém-nascido ano de 2021 pela mão do selo discográfico norte-americano The Swamp Records através do formato físico de CD, ‘Holding Time’ vem carburado por um musculado, empolgante, inflamante e oleado Heavy Rock de forte odor a gasolina, e um fogoso, melódico, despótico e ostentoso Southern Rock de espumosas e transbordantes garrafas de cerveja ao alto. A sua sonoridade conflagrada a picante sedução, alta rotação e vulcânica comoção atesta o ouvinte de uma incontida euforia que o sacode, sobreaquece e explode do primeiro ao derradeiro tema. De punhos cerrados numa barulhenta e fumegante chopper que veleja o incandescente asfalto da carismática Route 66, e olhar cravado na vertiginosa direcção de um longínquo e chamejante firmamento que se desdobra repetidamente, somos provocados e excitados pela magmática ardência destilada e gritada por todos os poros deste álbum. Fervido por uma enérgica guitarra de poderosos, serpenteantes e rumorosos Riffs encrostados a fumegante distorção, e solos uivantes, ácidos e borbulhantes, fibrado por um baixo vigoroso de linhas dominantes, bafejantes e umbrosas, pontapeado por uma bateria galopante de passada firme, robusta e apressada, e aromatizado por uma voz felina de harmoniosos, urticantes e melosos rugidos banhados a Whiskey. Polegares levantados também ao vistoso artwork de créditos apontados ao talentoso ilustrador indonésio Steven Yoyada. São 41 minutos saturados de obcecante, afrodisíaca e excitante adrenalina via auditiva não recomendável a cardíacos. Deixem-se deflagrar, entontecer e amotinar pela intensa, sísmica e densa pujança de Blackjack Mountain, e vivenciem de forma compenetrada e apaixonada toda esta irreverente estreia de uma banda deveras promissora.

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 The Swamp Records

☕️ Irish Coffee - 'Irish Coffee' (1971)

All Them Witches - "Charles William" @ SXSW (2015)

sábado, 16 de janeiro de 2021

☄️ Slift @ Eurosonic 2021

🪐 Charlottas Burning Trio - "Warrior Queen" (Live, 2020)

🎁 50 years of ZZ Top's First Album (16/01/1971, London Records)

🥁 Bill Ward 🕇 Black Sabbath

🤩 Verner Panton (Cologne, Germany, 1970)

Review: ⚡ Korb - 'Korb' (2018/2021) ⚡

★★★★

O prolífico selo discográfico peruano Necio Records acaba de apontar os holofotes mediáticos para o homónimo álbum de estreia dos ingleses Korb e reanimá-lo, reeditando-o pela primeira vez em formato de vinil (numa especial edição ultra-limitada). Originalmente lançado em 2018 pela caseira e inexpressiva Dreamlord Recordings sob a forma física de CD (entretanto já esgotado), este fantástico álbum do dueto disfruta agora de uma segunda vida merecidamente presenteada pela discográfica sul-americana. De instrumentos apontados a um imersivo, magnetizante e lenitivo Krautrock importado directamente da emblemática e distinta Alemanha setentista, e a um onírico, viajante e ritualístico Space Rock de paisagens sonoras futuristas, estes cosmonautas sustentam uma etérea musicalidade de ambiência cinematográfica e feitiçaria electrónica que nos desamarra a consciência, emudece os sentidos e transcende em slow-motion pela vertiginosa intimidade da negra e gélida vacuidade que oxigena o Cosmos bocejante. Nebulizado ainda por um experimentalismo abstracto que perscruta o espaço alienígena, ‘Korb’ é sublimemente norteado por variados sintetizadores que se atropelam nos seus melódicos, surrealistas e litúrgicos coros de intrigante idioma estelar, uma absorvente bateria de batida Motorik que nos serpenteia a cabeça e dilata as pupilas, uma guitarra de solos uivantes, alucinógenos e ecoantes, e um baixo pulsante de ondulante, palpável e enfeitiçante reverberação. De lucidez anestesiada pelas acariciantes brisas suspiradas pelos astros, e espírito dissolvido e naufragado nas trevosas profundezas do espaço sideral, somos farolizados pelas admiráveis profecias de Carl Sagan e integrados em fascinantes narrativas SCI-FI. Deixando para trás um corpo vazio de vitalidade e içando a alma pelos firmamentos cósmicos que se desdobram e renovam pela infinidade adentro, comungamos e reverenciamos a eucaristia celestial de Korb. Imobilizados e perpetuados num penetrado estádio de sonambulismo, testemunhamos a ascensão da nossa imaterialidade aos nirvânicos céus do transe. Deixem-se inebriar e embevecer pela morfínica ambiência de ‘Korb’, e mergulhem nos secretos abismos da doce introspecção. Não vai ser nada fácil despertar deste sonho acordado, e recuperar a lucidez que nos fora subtraída e sonegada.

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➥ Necio Records