Da cidade-capital
de Estocolmo (Suécia) chega-nos o terceiro trabalho de longa
duração – e o meu favorito até à data – do aliciante quarteto escandinavo Snowy
Dunes. Intitulado de ‘Sastrugi’ e lançado na primeira metade do
passado mês de Outubro sob a exclusiva forma digital – ainda que com a garantia
de uma edição física que será carimbada pela mão da discográfica local Ozium
Records pensada para um futuro próximo – este aprumado, novíssimo e açucarado álbum
dos nórdicos encerra toda uma psicotrópica fragância que combina um charmoso,
deslumbrante, apaixonante e libidinoso Classic Rock de opulento sotaque Led
Zeppelin’esco, um provocante, caleidoscópico, magnético e
intoxicante Psychedelic Rock de elegantes vestes aristocráticas a fazer
recordar os clássicos The Doors, e ainda um relaxante, pastoral, estival
e fascinante Psychedelic Country – com indiscretas e triunfantes invasões aos
territórios do serpenteante, fogoso, vistoso e electrificante Blues Rock
– sintonizado na mesma frequência dos saudosos norte-americanos The Flying Eyes. A sua sonoridade
verdadeiramente reconfortante, harmoniosa, melosa e elegante é orlada por um envolvente, místico e ensolarado revivalismo que nos faroliza, cega e eteriza do primeiro ao
derradeiro tema. São 40 minutos banhados e saturados de um deífico,
transbordante e mirífico brilho balsâmico que instala uma inextinguível sensação
de pleno bem-estar no espírito do ouvinte que nele comungar. Pendulando entre deliradas,
ardentes, sinuosas e ritmadas galopadas que nos efervescem, euforizam e embalam
na prismática vertigem, e proféticas, ensonadas, embriagadas e edénicas passagens
que nos esbatem os sentidos e dissolvem numa viagem desorientadora, ‘Sastrugi’
trata-se de um poderoso alucinógeno de dilatação consciencial e consagração espiritual.
De boca salivante, pálpebras rebaixadas, olhar sonhador, sorriso desenhado no rosto e cabeça
baloiçada de ombro em ombro, somos cortejados e dançados por uma guitarra ácida
de Riffs libidinosos, esponjosos, veneráveis e imperiosos, e solos
uivantes, polposos, aparatosos e esvoaçantes, uma voz felina de rugidos estéticos,
sedosos, lustrosos e eróticos que (en)canta a dois idiomas (inglês e sueco), um
baixo deliciosamente groovy de murmúrios ondeantes, fluídos, cálidos e
hipnotizantes, uma bateria de capricho jazzístico trauteada a um toque cintilante,
acrobático, enfático e excitante, e ainda um teclado litúrgico de principescas,
aquosas, odorosas e frescas melodias que ornamentam toda esta apurada,
irretocável e sublimada obra-prima. Deixem-se bronzear, afagar e enternecer no perfumado,
colorido e caramelizado psicadelismo de Snowy Dunes, e embarquem neste genuíno
oásis musicado. ‘Sastrugi’ é um álbum tremendamente encantador e
reparador – lavrado a refinada sensibilidade e climatizado a sagrada beatitude –
que seguramente figurará por entre os registos mais medalhados de 2021. Não
recomendado a diabéticos pelo seu elevadíssimo teor de sacarose.
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