Há dias em que é um prazer
oferecer resistência ao instintivo desejo de dormir, e alimentar este estado
ébrio nas asas de uma leviandade etérea. Hoje foi um desses dias. Pertenceu ao “Spiderland”
dos Slint esta honrosa missão. Esta magnifica obra que permaneceu na sombra da reputação
durante muitos e longos anos, é um dos raros exemplos de metamorfose musical. Ouvi
o “Spiderland” pela primeira vez quando tinha uns 16, 17 anos e, desde logo,
fiquei petrificado com a sonoridade austera do quarteto americano. Recordo-me
de sair de casa em dias de bruma outonal ao som deste álbum, e sem destino
predefinido. Datado de 1991, “Spiderland” aprisiona uma essência musical nunca
antes conhecida. É um disco perturbador que deve ser ouvido na penumbra do
entardecer ou no âmago da noite. É um disco para ser tocado num ambiente
soturno. É também lá que habita o meu tema favorito de sempre (e para sempre), “Good Morning, Captain”. Muito
possivelmente foi o disco que mais mudou a minha vida, e continua a transfigurá-la
sempre que o ouço. É um disco repleto de uma contundência emotiva personificada
pela sombria narração de Brian McMahan. Depois de tantos anos e consequentes
audições, “Spiderland” continua a conquistar-me e a permanecer invicto no
pelotão da minha estrada musical.
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