segunda-feira, 23 de junho de 2014

"Tristessa" de Jack Kerouac


Terminei de ler aquele que é dado como o livro favorito de Jack Kerouac, “Tristessa”. Apesar da minha inabalável devoção pelo “On the Road” e, principalmente, pelo “Big Sur”, confesso que Tristessa é um livro muito especial, escrito com todo o amor possível e impossível.


"O semblante frágil e sem pecado da pobre Tristessa, a coragem trémula do seu corpito devastado pela droga, que um homem poderia atirar três metros ao ar sem esforço algum – a mescla de morte e beleza – a forma pura em todo o seu esplendor ali parada diante de mim, todos os suplícios e torturas da beleza sexual, o seio, o ramo de árvore do tronco, a mulher-amálgama-caótica que apetece abraçar, e, ainda que alguma meçam um metro e oitenta, podemos dormir-lhes de noite sobre o ventre, qual sesta numa colina-fêmea, suave e sonhadora – como Goethe aos 80 anos, temos noção da futilidade do amor e encolhemos os ombros – encolhemos os ombros, repelindo o beijo cálido, a língua e os lábios, o repuxar da cintura esguia, toda aquela massa quente e flutuante que se comprime contra nós – a mulherzinha – por quem os rios correm e os homens caem do alto de escadotes – os dedos esguios e frios e longos e morenos das mãos de Tristessa, lentos, despreocupados e ociosos, como lábios ao unirem-se – a noite Espanhola onde Tristessa tem a sua funda lura de amor, as touradas nos seus sonhos que tu e eu povoamos, a indolente rosa de chuva contra o rosto ocioso – e todos os encantos concomitantes de uma mulher encantadora por quem um jovem num país longínquo deveria desejar permanecer por lá – eu viajava em círculos na América do Norte, revivendo incontáveis tragédias cinzentas."
Jack Kerouac, Tristessa
 

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