Depois de comungado e reverenciado
o seu fascinante álbum de estreia (review
aqui), eis que um ano mais tarde me sinto impelido a repetir as palavras
elogiosas desta vez dedicadas ao segundo álbum de Shades apelidado de ‘Nightfall’. Este duo natural da
cidade portuguesa de Tomar, de
guitarras empunhadas e alma eclipsada pelo lado obscuro e outonal do Folk acaba de lançar o seu novo álbum e
devo antecipar que se trata de um disco verdadeiramente sublime que nos envolve
e lapidifica do primeiro ao último tema. São cerca de 50 minutos governados por
uma plácida e contemplativa melancolia que nos respira, anestesia e enluta a
alma. As duas guitarras eremíticas entrançam-se numa hipnótica, bucólica e
encantadora dança que nos recosta a um estádio de plena soturnidade, confessando
na penumbra plangentes e majestosas epopeias que nos intrigam e seduzem. Os
seus acordes tricotados com uma desarmante sensibilidade têm em nós um efeito
morfínico que nos drena a lucidez, eteriza e fossiliza numa intensa e
imperturbável serenidade. ‘Nightfall’ é um álbum para ser
escutado relaxadamente debaixo de um céu cor de noite e de olhar adormecido e
ancorado num vasto cemitério estelar. Um disco de alma prostrada, lúgubre e solitária
que nos navega e conduz pelos lugares mais recônditos, tenebrosos e
misantrópicos da existência humana. A narrativa sonora de ‘Nighfall’ é tragicamente
bela. Bronzeiem-se e embrenhem-se na soturnidade irradiada por Shades e vivenciem um dos álbuns mais estéticos e poéticos de 2017.
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