sábado, 22 de julho de 2017

🐫 Tinariwen @ Mimo Festival, Amarante (2017)

Ontem – sexta-feira – viajei até à cidade de Amarante para testemunhar pela 2ª vez o fascinante Desert Blues dos malianos Tinariwen. Integrados na presente edição do festival Mimo, esta formação nativa da região rural de Tessalit trouxe os seus desertos sonoros a território português pelo segundo ano consecutivo. A noite de Amarante palpitava vida e emoção. As estreitas ruas que me afunilavam até ao Parque Ribeirinho (local dos concertos) estavam entupidas de pessoas, os bares lotados e barulhentos, e vivia-se uma atmosfera verdadeiramente encantadora nas margens do rio Tâmega. Já no recinto do festival pude testemunhar a extensão de toda aquela exuberante e contagiante vitalidade. Os muitos e diversificados restaurantes enraizados no Parque Ribeirinho estavam entregues a uma intensa azáfama provocada pela crescente procura e em frente ao palco já muitos peregrinos musicais (aos quais eu me juntava) aguardavam a subida ao palco de uma das bandas mais cobiçadas do festival. Poucos instantes depois de irromper e estabelecer no meio da multidão, os Tinariwen subiam ao palco para me presentear com um dos concertos mais apaixonantes testemunhados em toda a minha vida. Com uma actuação a rondar os 60/70 minutos, a banda nem precisou de amplificar os instrumentos para conquistar toda uma plateia que lhes arremessava amabilidade na forma de constantes gritos motivacionais. De seguida viveu-se um perfeito clima de êxtase religioso ao qual ninguém recusou comungar. O público – de olhar selado, sorriso talhado no rosto e detidamente entregue a uma luxuriante dança arábica – respondia como podia às guitarras que se serpentavam e envaideciam em acordes relaxantes, mélicos e hipnotizantes e se transcendiam em contagiantes, eróticos e comoventes solos, ao baixo pulsante de linhas robustas, torneadas e bailantes, à redentora e empolgante percussão tribalista e aos vocais messiânicos que lideravam toda esta envolvente, sagrada e harmoniosa expedição pelos dourados e aveludados desertos de Tinariwen. Respirava-se uma edénica atmosfera que climatizara a banda e o público do primeiro ao derradeiro tema. Um verdadeiro e pleno estádio de deslumbramento instaurara-se em todos nós proveniente da ataráxica sonoridade destes sete músicos de indumentária tuaregue. Quando os instrumentos se calaram pela última vez, um imponente, ruidoso e generalizado aplauso agigantou-se e abateu-se sobre a banda que retribuía o agradecimento ao público dedicando-lhe delongadas vénias. Não foi fácil aceitar que o concerto havia terminado. A plateia recuperava lentamente o estado de lucidez que havia sido raptado pelos malianos e – pela primeira vez – virava costas àquele palco que durante uma hora se transformara num imaculado altar e canonizara todas as almas daqueles que interiorizaram a consagrada profecia de Tinariwen.

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