terça-feira, 29 de agosto de 2017

Review: ⚡ SHC - 'SHC’ EP (2017) ⚡

No actual momento em que se testemunha uma forte disseminação do lado mais revivalista da música Rock em território português, SHC surge com uma proposta ousada e rebuscada que se desmarca da corrente sonora em voga para fundear a sua bandeira em território obscuro, pouco explorado até ao presente pelos músicos portugueses. Este EP de estreia do power-trio minhoto – natural de Ponte de Lima - nasce da extraordinária colisão entre o euforizante Heavy Psych, o poderoso Proto-Doom e o exaltado Punk Rock e promete ser um dos registos mais rodados do ano para todos os seguidores dos géneros anteriormente referidos. Baseado numa sonoridade sombria, cáustica e hipnótica que tanto se inflama e desgoverna em delirantes, entusiásticas e vertiginosas jam’s sem qualquer travão à vista como se arrasta vagarosamente numa pesada, robusta e morfínica avalanche de reverberação demoníaca capaz de nos narcotizar e profanar a alma, este ‘SCH’ representa uma tirânica cavalgada a duas velocidades que nos arrasa e absorve do primeiro ao derradeiro tema. São 38 minutos governados por uma intrigante e demoníaca liturgia superiormente rezada por duas guitarras hereges que se amuralham em riffs montanhosos, tenebrosos e soberanos capazes de nos sombrear e intimidar e se incendeiam em borbulhantes, ácidos e alucinantes solos que nos dilaceram, perturbam e extasiam, uma voz cava, ecoante e agressiva que emerge da caótica radiação instrumental para se enfatizar na infinidade espacial, e uma bateria troante de ritmicidade firme e estimulante que diligencia e esporeia com constância toda esta sinistra, ardente e melancólica digressão aos mais profundos abismos da nossa espiritualidade. ‘SHC’ é um EP irrigado de adrenalina que nos arremessa violentamente para o âmago de um conturbado vórtice capaz de nos esvaziar a lucidez e atestar de uma intensa e envolvente narcose. Chego ao fim do último tema completamente anestesiado pela funesta resplandecência que climatiza todo este EP e a desejar que o mesmo represente o primeiro capítulo de uma numerosa discografia. Montem a sela deste negro cometa e colonizem as trevas cósmicas.

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