quarta-feira, 18 de outubro de 2017

⚡️ Brant Bjork c/ Sean Wheeler & Ana Paris @ Cave 45, Porto ⚡️

O já carismático espaço portuense Cave 45 – tristemente com morte anunciada e agendada para o final do presente ano – recebia o lendário Brant Bjork na extravagante companhia do Desert Freak Sean Wheeler para mais uma data da sua extensa tour europeia “Gree Heen” e adivinhava-se uma agradável, intensa e memorável noite de clima californiano carimbada pela imparável promotora de eventos Garboyl Lives. Depois de ter estado presente no mítico concerto de 2008 no Porto-Rio (Porto) – o qual se mantem perfilado por entre os mais impactantes da minha experiência enquanto peregrino musical – não podia perder por nada o regresso a Portugal de um dos mais icónicos músicos da minha vida.

A sala começava a preencher-se e a banda local Ana Paris subia ao palco com a invejável responsabilidade de inaugurar toda uma cerimónia a que ninguém se recusou comungar. De motor barulhento e agressivo, acelerador a fundo e um forte aroma a pneu queimado, a banda portuguesa arrancou para uma performance de sentido único que motivara e nutrira as primeiras vibrações corporais de uma plateia cada vez mais numerosa. Fundamentados num fervilhante, vigoroso e empolgante Stoner Rock de atitude Punk, os Ana Paris brindaram todos os presentes com 45 minutos transpirados de emoção e adrenalina. No final mostraram-se imensamente agradecidos e orgulhosos pela confiança em neles depositada e a plateia respondeu com um forte aplauso, num sinal claro de que Ana Paris havia sido uma aposta ganha.

Brant Bjork estava aí – juntamente com a sua nova matilha – e na plateia que lotava toda a sala do Cave 45 suspirava-se em uníssono de ansiedade e entusiasmo. Nem foi preciso esta prestigiosa figura da Desert Scene acabar de subir ao palco para que a audiência exteriorizasse toda o seu empolgamento num rugido quase ensurdecedor. E assim que BB – em hipnótica e arrebatadora consonância com a formação que presentemente o acompanha – teceu e desenvolveu os primeiros acordes, todos nós fomos arremessados para os quentes, frondosos e ensolarados desertos que a sonoridade de BB desenha em nós. Bronzeados, apreendidos e contagiados pelo seu característico Low Desert Punk de natureza erótica – que tão bem combina a lubricidade com a robustez e ritmicidade – todos os nossos corpos empoeirados e embriagados dançavam de olhar cerrado e narinas dilatadas. Numa excitante e fascinante digressão sonora – maioritariamente pautada pelos seus últimos álbuns e uma breve, mas muito aplaudida, vivida e elogiada passagem por temas incontornáveis do emblemático ‘Jalamanta’ – este eremita sediado no deserto de Mojave perfumou a nossa alma arrebatada com a sua ambiência psicotrópica ao longo de aproximadamente 90 minutos de actuação. A plateia debatia-se como podia na instintiva resposta à libidinosa sonoridade de BB e os corpos luziam em suor. Vivia-se um ambiente de incessante deslumbramento. As duas guitarras reinantes abraçavam-se e numa magnetizante unificação floresciam e conduziam riffs serpenteantes, sólidos, robustos e dançantes que desaguavam em solos delirantes, místicos e uivantes, o baixo deliciosamente groovy carregava-se em linhas pulsantes, acentuadas, fibróticas e bailantes, a bateria provocante – detidamente entregue a investidas fogosas, fortes e emocionantes – compassava com autoridade, e a quente e afável voz de BB liderava toda esta absorvente eucaristia desértica que prontamente nos convertera em seus devotos seguidores. De salientar ainda a entrada em palco do singular Sean Wheeler que com as suas danças exóticas e caricatas emprestara uma atmosfera burlesca a toda aquela performance de BB coroada com um ruidoso, frenético e demorado aplauso.  

* Um agradecimento especial ao Bruno Pereira (Wav.) pela cedência do registo fotográfico.

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