Review: ⚡ Petyr - 'Smolyk' (2018) ⚡

Depois de no passado ano de 2017 ter ouvido, digerido e nomeado o álbum de estreia de Petyr como o melhor disco do ano (review aqui e listagem aqui), eis que esta empolgante e apaixonante formação californiana – sediada na carismática e oceânica cidade de San Diego, e liderada pelo influente pro-skater Riley Hawk – está de regresso com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração: ‘Smolyk’. Apresentado e promovido pelo selo discográfico nova-iorquino Outer Battery Records (com o qual a banda reforça o seu vínculo contratual) nos formatos físicos de CD e vinil, ‘Smolyk’ – a par do já sucedido com o seu antecessor – vem robustecido, fervido e domesticado por um excitante, sombrio, cáustico e intrigante Heavy Psych – de feições Black Sabbath’icas e ritmicidade contagiante – que nos pontapeia, sacode e euforiza do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade electrizante, hipnótica e galopante arrasa toda a duração de ‘Smolyk’ como que uma tirânica, agressiva e monolítica avalanche de endorfinas. Na génese de toda esta epopeica e exuberante majestosidade sonora – superiormente chefiada e manobrada por Petyr – estão duas guitarras de protagonismo alternado que se amuralham, cimentam e agigantam em riffs soberanos, obscuros, poderosos e profanos, e se entrançam e eclodem em ziguezagueantes, gélidos e alucinantes solos de propensão psicotrópica, uma enigmática voz – de natureza erosiva, ácida e diabrina – que acidifica e intoxica toda a magnetizante atmosfera sonora, um baixo dançante, viril e pulsante de linhas movidas a vigor, dinâmica e fervor, uma bateria verdadeiramente explosiva – de condução frenética, ardente e emotiva – que segura com firmeza e destreza as rédeas desta vertiginosa, estonteante e ostentosa cavalgada. Deixem-se absorver nas profundezas de toda esta adrenalina via auditiva e sintam-se saturar, estremecer e detonar de um prazeroso, ardente e impetuoso entusiasmo. ‘Smolyk’ era um dos álbuns (por mim) mais aguardados de 2018 e que seguramente estará perfilado por entre os mais elogiados e premiados registos na lista final dos melhores discos lançados este ano.

Review: ⚡ Dylan Carlson - ‘Conquistador’ (2018) ⚡

O já mitológico Dylan Carlson (membro fundador, guitarrista e actual líder da histórica banda Earth) acaba de apresentar o seu novo álbum designado de ‘Conquistador’. Oficialmente lançado pelo selo discográfico californiano Sargent House nos formatos físicos de CD e vinil, este renovado capítulo da sua admirável e evolutiva carreira a solo vem obscurecido e dominado por um intrigante Drone de feições sombrias, esmorecidas e melancólicas que nos envolve, enluta e imortaliza a alma num inamovível estádio de intensa misantropia. Hospedado na chuvosa e pardacenta cidade de Seattle (Washington, EUA), de guitarra empunhada, semblante caído, olhar semi-cerrado, e corpo prostrado à penumbra que o abraça e enegrece, Dylan Carlson dedilha pesarosos, imperiosos, fúnebres e ostentosos acordes numa atmosfera arruinada, turva e carregada onde a radiosa esperança não ousa entrar. E é neste clima tenebroso, opressivo e doloroso – contador de envolventes, tristes e angustiantes narrativas – que somos hipnotizados e remetidos para um solitário deserto pintado e eclipsado pelo cair da noite, onde os últimos raios solares se dissipam e esvanecem no crescente e absorvente negrume que reveste e toma de assalto os silenciosos céus. Sintam-se cambalear – tomados e embriagados de doce inércia – pelo solo calejado e arenoso do vazio, e encorar o vosso olhar sedado e empedernecido no horizonte desértico que se desdobra e renova pela infinidade adentro. ‘Conquistador’ é um álbum tristemente belo que nos respira e narcotiza. Um registo detentor de uma alma denegrida que nos ofusca e estabiliza num profundo estado de introspecção. Este é – sem qualquer dúvida – um dos meus discos favoritos de um ano já brindado pela quantidade e qualidade. Um dos trabalhos mais singulares de Dylan Carlson e decididamente o meu favorito da sua solitária digressão pelos grisalhos e lamacentos prados da música Drone. Deixem-se sombrear e anestesiar pela hermética misticidade de ‘Conquistador’ e testemunhem de forma detida toda a sua irrepreensível majestosidade fluir, esculpir e ecoar pelos longos e serpenteantes desfiladeiros que ramificam a vossa alma.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Review: ⚡ Blue Eyed Sons - ‘Alive at Semifinal’ (2018) ⚡

Da cidade-capital de Helsínquia chega-nos uma das mais agradáveis surpresas sonoras de 2018. ‘Alive at Semifinal’ é o primeiro álbum de Blue Eyed Sons que – tal como o nome sugere – fora gravado ao vivo em 2017 no clube nocturno Semifinal (situado na capital finlandesa) e encerra toda a elegante, apaixonante e carismática majestosidade deste fascinante quarteto de raízes revivalistas. Lançado hoje mesmo através da sua página oficial de Bandcamp, este épico e glamoroso registo vem ensolarado por um refinado, harmonioso, ostentoso e açucarado Classic Rock de ares britânicos em ardente e magnetizante combinação com um fulgurante, robusto, lascivo e serpenteante Heavy Blues de tração setentista. A sua sonoridade melosa, sublime e voluptuosa – resultada de um renhido embate de influências entre Led Zeppelin, The Doors e Black Sabbath – tem a capacidade de nos inebriar e encantar do primeiro ao derradeiro minuto. Sintam-se hipnotizados e extasiados pela desarmante primazia instrumental de onde se enfatiza uma guitarra desmesuradamente atraente que se enleva em riffs deliciosos, torneados, oleados e vistosos, e se desvaira e esgota em espantosos, arrepiantes, aparatosos e gritantes solos, uma voz melódica, felina, doce, quente e erótica a fazer lembrar os fabulosos dotes vocais de um Robert Plant, um baixo sólido e vigoroso de linhas murmurantes, dançantes, calorosas e ondulantes, uma bateria notável – locomovida a capricho, delicadeza, leveza e sentimento – que tiquetaqueia e norteia toda esta afrodisíaca fluidez sonora. De enaltecer ainda o rebuscado e sobejamente detalhado artwork superiormente ilustrado pela artista nórdica Aleksandra Majak, e a exemplarmente executada cover Led Zeppelin’eana do afamado tema “Immigrant Song” que – debaixo de um crescente e vibrante aplauso – encerra na perfeição todo este estético e memorável registo captado ao vivo. Deixem-se envolver e contagiar pela esplendorosa virtuosidade de Blue Eyed Sons e incendeiam-se de prazer ao volante de um dos mais extraordinários álbuns florescidos até ao momento em 2018.

Review: ⚡ TONS - ‘Filthy Flowers of Doom’ (2018) ⚡

Da cidade mediterrânica de Turim (Itália) chega-nos ‘Filthy Flowers of Doom’: o segundo e novo álbum da formação TONS. Lançado no passado dia 20 de Abril pelo selo discográfico italiano Heavy Psych Sounds sob a forma física de CD e vinil, este obscuro, tirânico e luciférico registo vem munido de um potente, colérico, sidérico e provocante Doom Metal enlameado por um ardente, saturado, condensado e euforizante Sludge Metal de psicotrópica viscosidade. A sua sonoridade agressiva, demoníaca e corrosiva soergue-se das mais soterradas profundezas do abismo terrestre e esvaia-se pela vasta negrura cósmica. Participem neste esotérico, profano e enigmático ritual superiormente chefiado por TONS e deixem-se possuir, dominar e eclipsar pela essência nefasta e soturna radiância que ‘Filthy Flowers of Doom’ carrega, ostenta e proclama. São cerca de 38 minutos envolvidos numa tenebrosa, opressiva e misantrópica nebulosidade – de densa e fumarenta toxicidade – que nos cerca, intimida e enluta a alma. Comunguem toda esta hipnótica liturgia de adoração herética ao luxuoso e impiedoso som de uma guitarra intensa e volumosa que se amplifica e tonifica em riffs massivos, dominantes, supremos e angustiantes, e se exorciza em solos trepidantes, alucinógenos e ecoantes, um baixo reverberante de linhas tensas, possantes, pesadas e vibrantes, uma bateria galopante de ritmicidade vertiginosa, estrondosa e atordoante, e uma voz áspera, turva, enérgica e hostil que acicata e atormenta toda a maliciosa e aterrorizadora atmosfera de ‘Filthy Flowers of Doom’. Este é um álbum vultoso, dinâmico e acintoso que nos agride, ultraja e profana do primeiro ao derradeiro tema. Um registo afogueado e administrado por uma revolta infernal que nos esporeia e estremece de uma insuportável exaltação. Inalem esta virosa exalação de TONS e vivenciem com plena entrega e devoção um dos discos mais poderosos e avassaladores de 2018.

Review: ⚡ Sleep - ‘The Sciences’ (2018) ⚡

É justo começar por dizer que este era muito provavelmente o álbum mais aguardado de 2018. Não só pelo regresso aos palcos (e aqui é-me importante lembrar toda aquela brumosa eucaristia Sleep’eana dada no saudoso festival Reverence Valada em 2015) de uma das mais míticas e aclamadas formações do panorama underground, mas essencialmente porque ‘The Sciences’ simboliza o tão ansiado término de um longo e mudo jejum de 15 anos que se seguira após o lançamento da irretocável obra-prima ‘Dopesmoker’ (2003), e surge agora com a ousada – mas bem-sucedida – missão de alimentar e saciar todo um crescente e ardente desejo que inquietara a numerosa legião de seguidores que os titânicos Sleep se orgulham de ter nas suas fileiras.

Lançado no passado dia 20 de Abril (numa clara e propositada referência ao místico número 420), ‘The Science’ fora anunciado publicamente a pouquíssimas horas do seu nascimento oficial, o que provocara uma completa e repentina histeria que tomara de assalto todos aqueles que – tal como eu – reverenciam de forma plena e incondicional esta histórica banda sediada na Califórnia. Promovido pelo conhecido selo discográfico norte-americano Third Man Records e convertido nos formatos físicos de CD e vinil, este novo álbum de Sleep escuda-se num nebuloso, meditativo, xamânico e poderoso Psych Doom que nos intriga, estremece e narcotiza com a sua granítica robustez, lamacenta densidade e ofuscante nebulosidade de propriedades altamente psicotrópicas. A sua sonoridade verdadeiramente hipnótica, messiânica, transcendental e tirânica – canalizadora de um transe de índole religioso e terapêutico que irriga todas as artérias da nossa alma e nos levita a um imperturbável estádio de êxtase – conta ainda com uma discreta radiância OM’esca de textura arábica e mântrica que climatiza e eteriza parte da ambiência sidérica de ‘The Sciences’. Sintam-se desprender das amarras gravitacionais e propulsionar na vertiginosa direcção dos mais idosos, remotos e secretos astros ancorados nas insondáveis fronteiras da infinidade espacial, mergulhando na intimidade de poeirentas, coloridas, espessas e majestosas nebulosas que perfumam e tingem o negrume cósmico. Matt Pike – de guitarra empunhada e postura tirânica – disfere monolíticos, obscuros, pesados e morfínicos riffs que se desconstroem e dissolvem em solos gélidos, alucinógenos e delirantes. Al Cisneros – de baixo firme, postura profética e voz magnetizante, monocórdica e liderante – lança-nos toda uma corpulenta, tensa e esfíngica reverberação de onde se decifram linhas massivas, viris, oscilantes e criativas. Jason Roeder – nas rédeas da bateria – explode em constantes, redentoras e empolgantes ofensivas que esporeiam e incendeiam toda esta caravana sonora que se distende numa envolvente expedição pelos desertos alienígenas. Deixem-se arrasar por toda esta prepotente avalanche de endorfinas que varre tudo e todos no seu caminho, submerjam num profundo oceano atestado de THC (tetra-hidrocanabinol) e sintam-se pisar e colonizar todos os domínios de um Cosmos rendido ao soberano poderio de Sleep. Não será nada fácil regressar à lúcida superfície desta profunda e demorada narcose que nos soterrara e aprisionara do primeiro ao derradeiro tema. Comunguem este renovado capítulo bíblico superiormente rezado por estes três druidas e convertam-se em devotos discípulos no elogio e disseminação da doutrina canabinoide ao longo de toda esta consagrada, épica e maravilhada odisseia pelos deslumbrantes horizontes de ‘The Sciences’. Tudo em mim já gritava por um álbum assim. Absorvam-se nele.

Review: ⚡ Dead Combo - ‘Odeon Hotel’ (2018) ⚡

Os lusitanos Dead Combo acabam de apresentar o seu sexto disco de originais ‘Odeon Hotel’ e no mesmo pernoitam variados músicos, entre os quais os carismático Mark Lanegan que empresta a sua inconfundível, soturna e cavernosa voz a um dos temas do álbum. Lançado pela Sony Music em formato de CD e produzido pelo músico norte-americano Alain Johannes, este ‘Odeon Hotel’ dá continuidade à luxuosa e extravagante sonoridade da célebre formação ancorada em Lisboa, presenteando todos os seus ouvintes com um requintado, sensual, clássico e exótico Fado de ares empoeirados por uma contemplativa veia Western que nos remete para o solo bronzeado e calejado de um deserto mexicano – de corpo sonolento e abraçado a um cavalo cansado de galope pausado – onde o Sol intenso e vigilante – debruçado e perpetuado no horizonte – ruboriza frondosos e suculentos peyotes atestados de mescalina. A sua sonoridade quente, sedutora e magnetizante – profundamente influenciada pela música tradicional latina e pela velha cultura mariachi – é essencialmente irrigada e conduzida por duas guitarras comoventes, calorosas e comunicativas de acordes desarmantes, delicados, arrepiantes e narrativos que nos envolvem, enternecem e extasiam com as suas emocionantes palavras dedilhadas, um imperioso e torneado contrabaixo de reverberação pulsante, densa, robusta e dançante que mareia, tonifica e sombreia todas as incursões da guitarra, um uivante saxofone de excêntricos, serpenteantes e aveludados bailados, e uma bateria primorosa de acrobacias tribalistas e mirabolantes – movida a destreza, sensibilidade e deslumbrante fineza – que tiquetaqueia e esporeia com admirável sublimidade todos os diversos momentos de ‘Odeon Hotel’. São cerca de 45 minutos de estadia numa edénica e perfumada sensação de fascínio e bem-estar que nos petrifica e conquista do primeiro ao último tema. Este é – indubitavelmente – o meu álbum favorito de Dead Combo. Um registo verdadeiramente apaixonante, detentor de uma alma opulenta, que distendera na minha todo um tapete desértico e nele brotara imponentes saguaros que se espreguiçam e agigantam na vertiginosa direcção do Sol. Recostem-se confortavelmente, desmaiem as pálpebras, respirem profundamente e engulam este ardente trago de dourado misticismo. Não vai ser nada fácil fazer o check-out neste memorável e marcante ‘Odeon Hotel’. Tenham uma boa estadia neste novo álbum de Dead Combo e vivenciem de forma detida e submissa todo o inebriante encantamento difundido por um dos melhores discos lançados até ao momento em 2018.

Review: ⚡ Sun Voyager - ‘Seismic Vibes’ (2018) ⚡

Da cidade de Nova-Iorque chega-nos o empolgante álbum de estreia do power-trio Sun Voyager apelidado de ‘Seismic Vibes’. Lançado ontem – dia 20 de Abril – no formato físico de vinil (disponível em três edições ultra-limitadas) pela mão do selo discográfico local King Pizza Records, este comovente registo carrega um inflamante, animado, nublado e excitante Heavy Psych efervescido num ardente, veemente, destravado e irreverente Garage Rock. A sua atmosfera febril – saturada e incendiada pelo cáustico efeito fuzz – tem a capacidade de nos atestar de um absorvente entusiasmo que nos provoca e esporeia do primeiro ao último tema. São cerca de 34 minutos embebidos numa sonoridade enlouquecedora – movida e conduzida a alta rotação – que tanto nos intriga, embacia e narcotiza, como nos pontapeia, euforiza e afogueia sem qualquer reserva ou compaixão. Enfrentem destemidamente todas as psicotrópicas, reverberantes e sísmicas vibrações de Sun Voyager ao combinado som de uma guitarra influente que se aviva e alonga em riffs montanhosos, turbulentos, ácidos e tenebrosos, e se eriça em solos venenosos, berrantes, atordoantes e sinuosos, um baixo pesado, possante e sombreado de linhas murmurantes, dinâmicas e bailantes, uma bateria expedita e revigorante de ritmicidade ofensiva, activa e estonteante, um messiânico teclado de hipnóticos, charmosos e ostentosos bailados, e ainda uma voz espectral, translúcida e sideral que sulfatiza e eteriza toda a mística ambiência de ‘Seismic Vibes’ com uma aura climatizada pelas estrelas. Este é um álbum verdadeiramente encantador – de desarmante e contagiante maviosidade – que não deixará nenhum ouvinte indiferente. Embebedem-se na redentora adrenalina transpirada por este fascinante registo e dancem-no de forma detida, ininterrupta e extravagante. Um dos álbuns mais emocionantes de 2018 está aqui, na nebulosa alma de ‘Seismic Vibes’. Envolvam-se na sua pardacenta toxicidade.

Review: ⚡ Kosmodrom - ‘Gravitationsnarkose’ (2018) ⚡

Depois de em 2016 ter comungado, digerido e enaltecido o EP de estreia ‘Sonnenfracht’ (review aqui), eis que a formação germânica Kosmodrom acaba de motivar novo elogio da minha parte com o lançamento do seu primeiro e tão esperado álbum de estúdio ‘Gravitationsnarkose’. Apesar do seu nascimento oficial estar agendado apenas para o próximo dia 21 de Abril nos formatos físicos de CD e vinil, este quarteto sediado na região de Oberfranken deu-me a irrecusável e honrosa oportunidade de ouvir em primeira mão este seu novo registo, acrescentando ainda a agradável curiosidade de se ter baseado num termo usado na minha análise ao seu EP para a eleição da denominação deste belíssimo álbum. E se a sua estreia já me tinha conquistado e apaixonado, ‘Gravitationsnarkose’ representa a confirmação acabada de todo o seu requinte instrumental. Este álbum baseia-se e passeia-se num deslumbrante, edénico, sidérico e contagiante Psych Rock de radiância veraneia que se obscurece, agiganta e robustece num fervilhante, vigoroso, furioso e tonificante Stoner Rock saturado de adrenalina. Existe algo de verdadeiramente extasiante na mélica e ataráxica ambiência de ‘Gravitationsnarkose’ que me perfuma, acalora, e me obriga a vivenciá-lo do primeiro ao último minuto numa intensa e imperturbável sensação de bem-estar. É de olhar selado e narcotizado, alma relaxada e deliciada, e corpo totalmente entregue e balanceado à hipnótica, fascinante e apoteótica ritmicidade, que este venerável registo de Kosmodrom nos enleva e carrega pelas suas prazerosas, idílicas e fantasiosas paisagens sonoras. São cerca de 39 minutos ensolarados e afagados por uma atmosfera paradisíaca, sublimemente climatizada por duas guitarras maravilhosas que se entrelaçam na criação e condução de comoventes, voluptuosos, ostentosos e resplandecentes acordes, e se esgrimam com os seus solos atordoantes, velozes e delirantes, um baixo meditativo de linhas dançantes, envolventes, sombreadas e oscilantes, e ainda uma bateria encantadora de afável e deleitável orientação rítmica que tiquetaqueia com desarmante delicadeza e emoção todos os momentos de ‘Gravitationsnarkose’. Inalem toda a arrebatadora, inebriante e magnetizante brisa sonora desta inspirada obra-prima de Kosmodrom e sintam-se transcender e gravitar a órbita de um dos mais ataráxicos álbuns desabrochados em 2018.