Nos últimos dez anos
Portugal testemunhara um crescimento exponencial no que ao aparecimento e
sustento de novas bandas ligadas ao lado underground
da música Rock diz respeito, e hoje
vive-se toda uma cúmplice conjugação entre a diversidade e a qualidade,
saciando até os mais exóticos gostos dos ouvidos lusitanos. E é nesse contexto de
amor e vaidade próprios que a música Rock
nacional ostenta que aponto os holofotes para o quarteto bracarense Travo e verto para o universo lírico
tudo aquilo que o seu recém-nascido álbum de estreia em mim provocara. Lançado
no passado dia 25 de Maio através da sua página de Bandcamp e unicamente em formato digital, ‘Ano Luz’ encerra um eloquente
sortido sonoro de onde sobressai um deslumbrante, atmosférico e envolvente Psych Rock de indiscretas aproximações
a um narrativo Post-Rock de natureza
cinematográfica, um meditativo, hipnotizante e imersivo Krautrock e ainda um viajante, alienígena e entusiasmante Space Rock. A sua musicalidade de
propensão astral tem o dom de enfeitiçar e exorcizar a nossa espiritualidade,
desprendendo-a da gravidade consciencial e derramando-a pela vasta vacuidade de
um Cosmos sonolento e solitário. Uma digressão evolutiva pelos maravilhosos firmamentos
celestiais, onde chamejantes fornalhas estelares farolizam e magnetizam a nossa
atenção, e índigos e gélidos cometas golpeiam de luz todo o intenso negrume que
encobre a infinidade espacial. Deixem-se embalar e fascinar por toda esta
odisseia galáctica à adorável boleia de duas guitarras endeusadas que se atam em extasiantes, sublimes e cativantes riffs,
e desatam em delirantes, ácidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo
compenetrado e carregado a linhas murmurantes, leves, fluídas e oscilantes, uma
ardente bateria de ritmicidade destravada, expansiva e descomplicada, um mágico
sintetizador de idioma alienígena que perfuma e sulfata toda esta atmosfera com
uma embriagante e intrigante dosagem de experimentalismo e exotismo sónico, e
ainda uma harmoniosa, espectral e sedosa voz – de contornos proféticos e poéticos a fazer
lembrar José Cid ao volante do seu
mítico ‘10.000 anos depois entre Vénus e Marte’ – que apenas floresce já
no último suspiro do derradeiro tema que encerra este magnífico ‘Ano
Luz’. De destacar e aclamar ainda o fantástico artwork de créditos apontados ao artista português Guilherme Dourart que interpretara com perfeita
exatidão tudo o que a música de Travo
concebe e alimenta no imaginário do ouvinte: a gloriosa e redentora eclosão da alma pela vertiginosa verticalidade do universo, deixando para trás um corpo completamente inanimado e arrebatado. Este é um álbum verdadeiramente
comovente que tanto nos paralisa e eteriza de uma doce e febril inércia, como
nos atesta e infesta de uma intensa e incontida euforia. Sintam-se dissolver e perecer nas
profundezas siderais de ‘Ano Luz’, e converter em destemidos
astronautas do vosso Cosmos interior. Um autêntico bálsamo para todos os nossos membros e sentidos.
Fantástica review, e fantástica banda, concordo com tudo !
ResponderEliminarFantástica review, e fantástica banda, concordo com tudo ! Um brilhante futuro avizinha-se para estes rapazes !
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