domingo, 23 de junho de 2019

Review: ⚡ 1782 - '1782' (2019) ⚡

No já muito remoto ano de 1782, a helvética Anna Göldi – considerada a última bruxa da Europa a ser executada – era acusada de infanticídio, condenada e punida através de decapitação. Em sua homenagem – assim como também em honra a todas as restantes bruxas perseguidas, julgadas e executadas pela severa tirania da Santa Inquisição – o recém-formado duo italiano 1782 lança agora o seu homónimo álbum de estreia através dos selos discográficos seus conterrâneos Heavy Psych Sounds Records (em CD e vinil) e Electric Valley Records (em cassete). Enegrecido, distorcido e demonizado por um intrigante, lodacento, bafiento e atemorizante Psych Doom de veneração pagã, este ‘1782’ causara em mim toda uma imersiva sensação de ininterrupta fascinação que enlutara e profanara a minha alma do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade maléfica, tenebrosa, densa e ritualística – descendente natural da magia negra doutrinada por uns Black Sabbath e Electric Wizard – convida o ouvinte a ingressar e participar numa luciférica liturgia climatizada a ocultismo. Assim que os sinos ressoam por entre o relaxante som da chuva e dos longínquos rugidos baforados pelos trovões – numa clara menção ao histórico tema “Black Sabbath” de 1970 (tema homónimo e pertencente ao álbum homónimo da lendária banda inglesa) – somos hipnotizados, assombrados e arrastados pela titânica, influente e demoníaca ressonância exalada e propagada ao longo de todo o álbum, desaguando e despertando num crescente sentimento de Déjà vu assim que o tema conclusivo de ‘1782’ nos surpreende com uma inspirada reinterpretação do mítico tema “A Saucerful Of Secrets” (1968) de créditos apontados aos inigualáveis Pink Floyd. De olhar eclipsado, cabeça pesada e lentamente baloiçada junto ao peito, e alma amortalhada e embaciada nas profundezas de um oceano morfínico, somos banhados e enlameados pela negra reverberação de uma guitarra profana que se agiganta em poderosos, vigorosos e monolíticos riffs tonificados, vibrados e calcinados a efeito Fuzz, um baixo modorrento de linhas possantes, carregadas e magnetizantes, uma bateria trovejante de ritmicidade lenta, pesada e retumbante, um cerimonioso órgão Hammond de intrigantes, trágicos, melancólicos e arrepiantes bailados, e ainda uma voz avinagrada, ecoante, inebriante e desconsagrada que nos mancha e rasga as vestes da religiosidade. ‘1782’ é um álbum governado a uma pervertida sobranceria que nos converte em seus devotos peregrinos. Um impactante registo de audição incontornável a todos os apaixonados pelo lado mais herético e psicotrópico do Doom Metal. Deixem-se sombrear e conspurcar nos viscosos pântanos de 1782 irrigados pelo próprio Diabo, e comungar com intensa sedução toda a sua gloriosa dominância.

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