sexta-feira, 14 de junho de 2019

Review: ⚡ Mote - 'Samalas' (2019) ⚡

Da boémia e irreverente cidade australiana de Melbourne – residência de carismáticas referências como Ahkmed, Child, Holy Serpent, Hotel Wrecking City Traders, Elbrus, Buried Feather, Khan e Pseudo Mind Hive – chega-nos o fabuloso e auspicioso álbum de estreia do quarteto Mote intitulado de ‘Samalas’. Lançado no passado mês de Março sob a forma física de vinil (numa edição autoral de prensagem ultra-limitada a apenas 150 cópias, (in)felizmente já esgotadas), este seu primeiro trabalho de estúdio traz-nos a fragância astral e os devaneios alienígenas de um hipnotizante, alucinógeno e deslumbrante Psych Rock de criativa orientação experimental e ritmicidade pautada por um envolvente e magnetizante Drone Rock. A sua sonoridade camaleónica distende-se de uma paisagem desértica, cálida e árida até aos longínquos e secretos domínios de um Cosmos distorcido, esbatido e embriagado. Numa vistosa ignição consciencial que nos catapulta e canaliza através de um delirante vórtice, somos absorvidos, intoxicados e atordoados por uma crescente alucinação sem destino à vista. Entregues a um movimento pendular que tanto nos soterra numa meditativa introspecção que climatiza o nosso Universo interior, como nos cospe violentamente na vertiginosa direcção das costuras que amuralham o espaço sideral, somos prontamente convertidos em astronautas à descoberta de ‘Samalas’. Deixem-se escorregar pelas viscosas artérias desta quimérica hipnose à incrível boleia de duas guitarras mântricas que dialogam em extasiantes, ensolarados, sublimados e inebriantes acordes, e se repelem em solos temulentos, ácidos, coloridos e anestésicos, um murmurante baixo de linhas onduladas, fluídas, densas e musculadas, uma bateria criativa, arrojada e incisiva de cadência empolgante, uma voz ecoante, messiânica e penetrante que raras vezes emerge desta saturada e psicotrópica radiação, e ainda um fascinante sintetizador que irriga e sulfata toda a exótica atmosfera de ‘Samalas’ com a sua intrigante, mágica e enternecedora bafagem de odor estelar. Este é um álbum de natureza celestial que nos sufoca a lucidez e em nós instala um profundo e duradouro estádio de total embriaguez. Não será fácil regressar das profundezas deste deturpado, lisérgico e maravilhado álbum de Mote que nos embaciara os sentidos e os sepultara nos mais fundos abismos do universo onírico.

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