segunda-feira, 8 de julho de 2019

Review: ⚡ Jesus the Snake - 'Black Acid, Pink Rain' (2019) ⚡

Depois de no Outono de 2017 terem lançado o EP homónimo (devidamente desconstruído e elogiado aqui) – posteriormente considerando-o e premiando-o como um dos melhores EP’s produzidos nesse mesmo ano (listagem aqui) – os portugueses Jesus the Snake preparam-se agora para apresentar o seu tão aguardado primeiro trabalho de longa duração intitulado de ‘Black Acid, Pink Rain’. Apesar da sua data de nascimento estar programada apenas para o próximo dia 11 do presente mês de Julho, fora-me dada a honrosa e irrecusável oportunidade de o ouvir na íntegra e em primeira mão, e o que se segue adjectiva-se como o mais fiel e sentido resultado dessa experiência. Gravado, misturado e masterizado no estúdio minhoto Hertzcontrol (com o qual a banda reforça a sua ligação), este refinado e inspirado álbum de estreia do jovem quarteto natural da cidade de Vizela (Braga) é ensolarado, perfumado e condimentado por um edénico, deslumbrante e místico Psych Rock em agradável cumplicidade com um meditativo, lisérgico e lenitivo Krautrock e ainda um devocional, viajante e sideral Space Rock que nos desata as amarras da gravidade terrestre e magnetiza a nossa consciência de encontro à mais profunda intimidade do Cosmos. De bússola apontada a uns Causa Sui, Camel e Pink Floyd, a sonoridade de ‘Black Acid, Pink Rain’ provocara em mim toda uma febril e morfínica hipnose que me atestara, afagara e sedara de prazer. Uma evolutiva, criativa e maravilhosa peregrinação pelos desertos da mente, de pés descalços a trilhar onduladas, sedosas e amorenadas dunas, olhar petrificado e farolizado pelo Sol poente, e cabeça soterrada na densa e intoxicante nebulosidade astral. Empoeirem-se no ofuscante misticismo que aureola todo o corpo temporal deste álbum e sintam-se dormitar num prazeroso estádio de inércia que vos conduzirá ao tão almejado reino do transe espiritual. Maravilhem-se por entre a admirável simbiose instrumental de onde se enfatiza uma endeusada guitarra de orientação Floyd’eana que se enternece e embevece em suavizantes, sedutores, sublimados e uivantes acordes, e solos comoventes, delicados, apurados e anestesiantes, um baixo murmurante de hipnotizantes linhas norteadas a robustez, voluptuosidade e fluidez, uma bateria balsâmica de toque cintilante, leve, despretensioso e cativante, e ainda um magnético, fabuloso e sidérico teclado que confere a ‘Black Acid, Pink Rain’ toda uma mágica cobertura atmosférica oxigenada por uma sedutora e psicotrópica ataraxia via auditiva. De louvar também o quimérico artwork de créditos apontados ao imaginativo artista lusitano GuilhermeDourart, que – com este vertiginoso e caleidoscópico vórtice rendilhado por labirínticas, coloridas e lustrosas nebulosas – nos convida a um mergulho no esplendoroso universo de Jesus the Snake. Dissolvam a vossa lucidez nesta saturada narcose e despertem num pleno estádio de embriaguez do qual não será nada fácil regressar.

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