sábado, 28 de setembro de 2019

Review: ⚡ White Shape - 'Perfect Dark' (2019) ⚡

Da cidade de Rockford (localizada no estado norte-americano do Illinois) chega uma das mais agradáveis surpresas sonoras de 2019. ‘Perfect Dark’ é o segundo e novo álbum do quinteto White Shape que fora lançado no início do presente mês de Setembro sob a forma física de vinil pela mão da editora discográfica americana Little Cloud Records (com distribuição europeia através da Cardinal Fuzz, e australiana pela Psychedelic Salad). A sua sonoridade etérea conjuga um reconfortante, plácido, ensolarado e deslumbrante Psych Rock com um mágico, envolvente, anestésico e quimérico Shoegaze de pura beleza onírica. De membros paralisados, sentidos adormecidos e totalmente rendidos a esta morfínica infusão, somos banhados e embalados por uma mélica, profunda e melancólica narcose que nos iça na vertiginosa direcção de um Cosmos bocejante. Abraçados e sedados pela prazerosa obscuridade de ‘Perfect Dark’ despertamos num imperturbável estado de bem-estar que nos fascina e climatiza do primeiro ao derradeiro tema. São 52 minutos embebidos numa entorpecedora e libertadora sublimidade de coloração utopista que nos faz deslizar as pálpebras pelo olhar envidraçado, tombar a pesada, sonolenta e embrumada cabeça sobre o peito e sepultar nas mais íntimas profundezas da introspecção. Uma sidérica, embriagada e edénica hipnose que nos eteriza e canaliza pelas zonas mais secretas e erógenas da espiritualidade, e de onde não mais desejamos emergir. Percam-se na mística, divina e encantadora resplandecência farolizada pela ofuscante escuridão de ‘Perfect Dark’, e encontrem-se de alma integralmente relaxada e massajada ao sabor de uma pacífica, suave e lisérgica ondulação. Na composição deste poderoso opiáceo de absorção auditiva está uma endeusada voz feminina de textura delicada, enternecedora, sonhadora e imaculada (que prontamente me fizera recordar a célebre Dolores O'Riordan, voz de The Cranberries) que – de forma subtil e delicada – sobrevoa e ecoa pela harmonia estelar vaporizada por um mágico teclado / sintetizador, criador de uma intrigante envolvência alienígena, pelo esponjoso experimentalismo tricotado por uma hipnótica guitarra de tocantes, embelezados, esmerados e enfeitiçantes acordes, e atordoantes, ácidos e alucinantes solos de elevada toxicidade, pela magnetizante, diluviana e suavizante reverberação bafejada por um oscilante baixo de linhas desenhadas a sombreada volúpia, e pela redentora ritmicidade de uma cintilante bateria progressiva que confere pulso e vida a toda esta exploratória digressão que nos transcende tão para lá do lado eclipsado das fornalhas estelares. ‘Perfect Dark’ é um álbum verdadeiramente mirífico que me assoberbara e imortalizara num pleno estádio de alegre melancolia. Um registo de narrativa dramática que seguramente aquecerá e embevecerá até o mais gélido dos corações. Deixem-se massajar e deleitar pela inebriante sensibilidade que percorre todas as artérias deste disco tão singular. A banda-sonora perfeita para a doce solitude de atmosfera outonal que se avizinha está aqui, na essência tristemente bela de White Shape. Deifiquem a vossa alma n'Ele.

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