terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Review: ⚡ Brunt - 'Ataraxy' (2019) ⚡

Da pequena ilha de Guernsey – situada no Canal da Mancha, entre o território inglês e francês – chega-nos ‘Ataraxy’, o novo e segundo álbum – e o meu registo favorito até à data – do trio Brunt. Oficialmente lançado no último suspiro do passado mês de Novembro, exclusivamente em formato digital e de crédito autoral – ainda que com a garantia deixada pela banda de um futuro lançamento em vinil – este adorável registo de Brunt faz inteiramente jus ao nome que o mesmo enverga. Baseado num delicado, cinematográfico e sublimado Post-Rock polvilhado e perfumado a um primaveril psicadelismo que discretamente se desenvolve, agiganta e revolve num inflamante, vigoroso e empolgante Desert Rock enlameado num pantanoso Psych Doom de águas espessas e paradas, ‘Ataraxy’ perfila-se como um dos trabalhos de longa duração mais prazerosos do ano. Integralmente desdobrado à boleia de um envolvente, hipnótico, evolutivo e eloquente diálogo entre os três instrumentos-base, ‘Ataraxy’ tem a capacidade de florescer e estabelecer na alma do ouvinte um inamovível estádio de perfeita tranquilidade, massajando e afagando o seu cerebelo, e climatizando e inebriando todos os seus membros e sentidos ao longo dos 34 minutos de duração. A sua sonoridade imensamente edénica e visual edifica no nosso imaginário toda uma deslumbrante narrativa utópica da qual não queremos regressar. De corpo inanimado e espiritualidade mergulhada no atmosférico, meditativo e lisérgico universo de Brunt, somos iluminados, banhados e canonizados pela etérea maviosidade destilada por uma guitarra enternecedora de imperturbáveis, doces, sensitivos e afáveis acordes, e gritantes, gélidos e delirantes solos que ecoam pela infinidade espacial, para de seguida nos enlutar, atemorizar e sepultar numa misantrópica narcose amuralhada pelos seus umbrosos, melancólicos, monolíticos e rumorosos Riffs de ressonâncias Black Sabbath’icas, um baixo pulsante, magnético e murmurante de pausada, densa, obscura e tonificada reverberação, e uma catártica bateria de ritmicidade libertadora e estimulante que nos mantém de olhar arregalado e cabeça pendulante do primeiro ao derradeiro tema. É-me ainda importante reverenciar o encantador artwork brilhantemente ilustrado pelo artista Eric Krick, que de forma irretocável e imaginativa estendera toda a mágica beleza sonora de ‘Ataraxy’ para o universo visual. Este é um álbum purificante que tanto nos encandeia de esperançosa luminosidade como nos eclipsa de um soturno negrume. Deixem-se enfeitiçar pelo fabular mistério que emoldura ‘Ataraxy’ e vivenciar com detida entrega e sentida devoção um álbum lapidado a capricho, subtileza e emoção.

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