domingo, 1 de dezembro de 2019

Review: ⚡ Scarecrow - 'Scarecrow' (2019) ⚡

Proveniente da cidade de Perm (Rússia), chega-nos o homónimo e ousado álbum de estreia (e que estreia!) da jovem formação ‘Scarecrow’ que – para minha plena satisfação – faz do passado o seu presente (e – espero eu – seu futuro). Lançado no passado mês de Setembro exclusivamente em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial, mas com a promessa deixada pela banda de uma futura edição física pensada para o final do presente ano – ‘Scarecrow’ presenteia e afogueia todos os seus ouvintes com um imperioso, sinfónico, ritualístico e ostentoso Proto-Metal de extravagância setentista em parceria com um poderoso, melódico, enigmático e majestoso Heavy Metal de raiz tradicionalista e ainda um contemplativo, outonal, estival e imersivo Folk trovador de ornamentadas e arrebatadoras baladas. A sua sonoridade eclética, de orientação revivalista, epopeica e romancista – executada a uma maestria e complexidade quase orquestral – tem o dom de nos intrigar, fascinar e transportar para uma mística era caída há muito em desuso. ‘Scarecrow’ conserva a esquecida magia dos contos fabulares que arregalavam o olhar chamejante e seduziam o espírito inquietante dos mais jovens. Toda uma maravilhosa e sumptuosa cerimónia de preces apontadas ao domínio ocultista que nos preserva num constante feitiço do primeiro ao derradeiro tema. São 36 minutos perfumados a uma imprevisível heterogeneidade musical que nos surpreende e sublima ao virar de cada esquina. Saltitando de género em género, a opulenta musicalidade de Scarecrow vai desbravando territórios inexplorados e saciando o voraz apetite dos ouvidos mais experimentados. Como ingredientes deste inspirado e apaladado sortido sonoro estão uma faustosa guitarra de montanhosos, portentosos e imponentes Riffs de onde são desatados magnetizantes, ácidos e gritantes solos, um volumoso e poderoso baixo Black Sabbath’ico de pesada ressonância que se balanceia por linhas pulsantes, sombreadas, musculadas e ondeantes, uma estimulante bateria de toque incisivo, lustroso e criativo que se ajusta na perfeição a todos os desiguais momentos do álbum, e uma voz de tez melodiosa, translúcida, gélida, diabrina e penetrante que sobrevoa e ecoa com destacada e exaltada presença. De referenciar e elogiar também – ainda que num plano secundário pelas suas fugazes aparições – os serpenteantes, hipnóticos e extravagantes bailados lavrados por uma harmónica e uma flauta, que conferem todo um endeusado carisma a esta aparatosa estreia da banda russa. Deixem-se ofuscar pelo sofisticado e erudito requinte que este ‘Scarecrow’ ostenta. Um álbum de contornos épicos, ideal como companhia sonora para quem se esconde e enluta na penumbra, e deixa absorver pela literatura gótica de Edgar Allan Poe. Deixem-se intrigar e maravilhar pela unicidade musical de Scarecrow, e testemunhar uma das estreias mais auspiciosas e assombrosas do ano.

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