quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Review: ⚡ Bohren & der Club of Gore - 'Patchouli Blue' (2020) ⚡

Com quase 3 décadas de existência, os ímpares Bohren & der Club of Gore preparam-se agora para acrescentar à sua discografia o muito aguardado 11º trabalho de longa duração. Com o seu lançamento oficial agendado para o dia de amanhã – sexta, 24 de Janeiro – pelo influente selo discográfico multinacional PIAS Recordings (acrónimo de Play It Again Sam) nos formatos físicos de CD e vinil, ‘Patchouli Blue’ vem dar o tão desejado prosseguimento à enigmática, envolvente, misteriosa e melancólica ambiência de orientação Film Noir superiormente segredada e adensada pelos instrumentos desta muito peculiar e já emblemática formação germânica. Baseado num lutuoso, demorado, hipnótico e pesaroso Doom-Jazz que nos remete para uma noite fria e chuvosa de uma cidade pecadora onde o crime espreita a cada esquina, ‘Patchouli Blue’ é um fabuloso álbum de sensibilidade cinematográfica. Mãos soterradas nos largos e profundos bolsos de longos sobretudos acariciam revólveres famintos, olhares suspeitosos brilham na embrumada penumbra deixada e recortada pela aba larga de negros chapéus, farolizados e enfeitiçados pela ofuscante luminância flamejada e transbordada de uma janela despida – abraçada pelo fosco negrume – onde no seu interior um ruborizado batom se passeia graciosamente dentro dos limites territoriais de uns lábios murmurantes, um enegrecido rímel tonifica e penteia as pestanas, e um elegante vestido de tonalidade púrpura é desdobrado por toda a extensão de um corpo desnudo e decotado até às fronteiras da irresistível tentação. É esta a ambiência de intrigante e incessante sedução que ‘Patchouli Blue’ edifica no meu imaginário. Toda uma fatídica trama que se desprende das teclas de um funesto órgão de notas magnetizantes, sinistras e saltitantes, sombreadas pela soturna e misantrópica radiância borrifada por um enigmático sintetizador que ausculta as trevas, da boquilha de um saxofone uivante que se serpenteia e formoseia em extravagantes bailados, das vassouras luzidias que deixam todo um brilhante e poeirento lastro de pulsação ressoada de uma bateria detidamente entregue a uma ritmicidade minimalista, arrastada e intimista, e das gordas cordas de um contrabaixo prostrado que sussurra linhas pesadas, lastimosas, umbrosas e carregadas. Este é um álbum genuinamente cativante que nos petrifica e mergulha numa fumarenta atmosfera eclipsada e temperada pela doce melancolia. Deixem-se seduzir e conduzir pela trágica e perversa narrativa de Bohren & der Club of Gore e vivenciem de olhar intensamente fascinado uma das mais inspiradas odes aos nostálgicos e glamorosos policiais brilhantemente produzidos nas velhas décadas de 1940 e 1950. Não vai ser nada fácil regressar dos nebulosos, intimidantes e caliginosos becos citadinos de ‘Patchouli Blue’ por onde nos perdemos e entretemos ao longo de sensivelmente 60 minutos.

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