sábado, 21 de março de 2020

Review: ⚡ Arbouretum - 'Let It All In' (2020) ⚡

Chegou a Primavera e com ela veio um dos álbuns por mim mais aguardados de 2020. Da cidade portuária de Baltimore (Maryland, EUA) é suspirado e disseminado o agradável aroma sonoro de Arbouretum com o lançamento integral do seu novo e seráfico álbum intitulado ‘Let It All In’ e devidamente promovido pela afamada gravadora nova-iorquina Thrill Jockey sob a forma física de CD e vinil. Oxigenado e embalado por um sublimado, místico, melódico e refinado Folk – em constante ricochete entre o Indie Folk e o Folk Rock – de mãos dadas a um radioso, diáfano, açucarado e carinhoso Psychedelic Rock de raiz revivalista e uma quente e oceânica ambiência West Coast, esta estupenda obra raciocinada e lapidada pelo fascinante quarteto norte-americano vive da sensibilidade, do detalhe e primor. A sua sedosa, apaladada, desanuviada e melodiosa sonoridade – aureolada e encerada por um jubiloso esplendor de clima primaveril e uma ensolarada atmosfera campesina – tem o dom de nos sedar o olhar, rebaixar as pálpebras a meia-haste, desenhar um inextinguível sorriso no rosto, corar as bochechas, purificando e extasiando a alma sedenta de algo assim. De ouvidos salivantes, sentidos adormecidos e corpo mitigado, detidamente entregue a uma suave dança serpenteante, somos absorvidos, estarrecidos e canonizados por uma guitarra intensamente afrodisíaca que se enaltece e embevece à boleia de contemplativos, ternurentos e lenitivos acordes pincelados a desarmante subtileza, de onde florescem e se envaidecem estonteantes, labirínticos e inebriantes solos conduzidos a vistosa destreza, um pulsante baixo de magnética reverberação Krauty balanceado a linhas flutuantes, sombreadas, tonificadas e ambulantes, uma cativante bateria de afável ritmicidade galopada a um toque cintilante, polido, descontraído e enfeitiçante, um fabuloso teclado de magia onírica que deambula nas asas dos seus eloquentes, etéreos e atraentes bailados, e uma irresistível voz de aparência veludosa, lustrosa, risonha, e deleitosa que sobrevoa de forma harmoniosa, liderante e graciosa toda a vastidão deste frondoso, magnificente e cheiroso jardim sonoro. Chego ao indesejado final deste irretocável e venerável álbum integralmente entontecido e comovido pela doce maviosidade transudada pelo mesmo. ‘Let It All In’ é um trabalho magistral – de beleza consumada e fineza lapidar – que provocara em mim um firme e febril estado de ofuscante encantamento. Um autêntico oásis espiritual onde todos os nossos membros e sentidos se esperneiam, massajam e prazenteiam demoradamente. Deixem-se inspirar e arrebatar pela renovada e inspirada fragância de Arbouretum, e testemunhem toda a edénica e catártica refulgência farolizada por um disco fadado a perpetuar-se numa das mais cobiçadas posições por entre os melhores álbuns do presente ano. Já sentia saudades de vivenciar um registo tão lírico, íntimo e sincero assim.

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