domingo, 31 de maio de 2020
sábado, 30 de maio de 2020
Review: ⚡ Jazz Sabbath - 'Jazz Sabbath' (2020) ⚡
Depois de nos bastidores da
produção deste álbum ter sido superiormente orquestrada uma cinematográfica teoria
da conspiração – aqui brilhantemente documentada – que visa “beliscar” a
“até então” imaculada reputação dos míticos Black Sabbath, o fabuloso e marcante trabalho
de estreia dos ingleses Jazz Sabbath – banda liderada por Adam
Wakeman, filho de Rick Wakeman (talentoso e consagrado ex-teclista dos históricos
britânicos YES que ostentam o elogioso e perpétuo título de uma das mais
influentes formações da história do Progressive Rock), que, tal como sucedera
com o seu pai, se dedica arduamente à virtuosa relação entre as pontas dos
dedos e as teclas do piano. Constituído por um jovem tridente de aprimorada vocação
jazzística e irrepreensivelmente orientado por um elegante, clássico,
lírico e eloquente Jazz que de forma ousada, mas discreta e subtil, resvala
nas fronteiras de um fogoso, expressivo, altivo e lustroso Jazz Rock,
este bem-disposto disco de designação homónima – que fora muito recentemente
lançado não só sob a forma digital, como também através dos formatos físicos de
CD, cassete e vinil pela mão da editora holandesa Blacklake – enfeitiçara-me
e conquistara-me com as suas opulentas, apuradas e condimentadas composições. A
sua sonoridade minuciosamente tricotada a delicadeza, emoção e destreza passeia-se
e esperneia-se airosa e graciosamente num edénico, envolvente e sofisticado diálogo
instrumental, culminando num perfumado, lúbrico e sublimado requinte musical que
desperta e cativa todos os nossos sentidos. De pupilas dilatadas, ouvidos
salivantes, cérebro massajado e alma arrebatada somos melificados e eterizados
pelas vistosas, frescas, principescas e sumptuosas melodias cultivadas por um galante
e aristocrático piano swing de notas saltitantes, afáveis e
deslumbrantes, uma exótica guitarra de solos exuberantes, refinados e ziguezagueantes,
um murmurante e bafejante contrabaixo de linhas pulsantes, sombreadas e vagueantes, e uma bateria acrobática e tiquetaqueante de toque polido, preciso e
cintilante que confere pulsação a esta maravilhosa digressão pelo lado mais
ensolarado da música Jazz. Deixem-se embriagar e deleitar pela sonhadora,
quimérica, feérica e trovadora fragância de ‘Jazz Sabbath’,
e regressem dele com a espiritualidade plenamente estarrecida e expurgada. Estamos na
honrosa presença de uma obra verdadeiramente excepcional de fio a pavio. Diluam-se
e deliciem-se nela.
sexta-feira, 29 de maio de 2020
Review: ⚡ Blackbird Hill - 'Razzle Dazzle' (2020) ⚡
Oriundo da cidade vinícola e
portuária de Bordéus (estabelecida em França) chega-nos o
admirável, caprichoso e irreprovável álbum de estreia do talentoso, jovem e auspicioso power-duo
Blackbird Hill. Intitulado de ‘Razzle Dazzle’ e oficialmente
lançado no passado mês de Fevereiro com o cunho autoral através dos formatos
digital, de CD e vinil, este primeiro trabalho de longa duração, impecavelmente modelado e cinzelado
pelos franceses, vem trajado e maquilhado por um serpenteante, erótico e contagiante Garage
Blues – de atenção ancorada numa bifurcação que contempla não só a
modernidade, como as rústicas e lamacentas raízes do género – que de forma
subtil vai alternando entre arrojadas, inflamadas e excitantes cavalgadas pelo desfocado
e flamejante horizonte de um vasto deserto tingido e envelhecido a sépia, e
apaziguantes, bucólicas e deslumbrantes baladas de inspiração Folk e
beleza crepuscular. Tendo como moldura uma carismática aura Western
que oxigena toda a atmosfera, a dançante, afrodisíaca, lírica e embriagante
sonoridade deste ‘Razzle Dazzle’ equilibra-se entre a efervescente
comoção e a nirvânica mansidão. De olhar eclipsado, sorriso imortalizado no rosto,
sentidos embriagados e corpo firmemente compenetrado em movimentos bamboleantes,
somos enfeitiçados e embalados pela majestosidade de uma guitarra messiânica
que se incendeia na condução de intoxicantes, irresistíveis e fulgurantes Riffs
encrostados pelo caloroso e espinhoso efeito Fuzz, e se envaidece
na diluviana e purificante libertação de solos extravagantes, orgásmicos e uivantes,
pela magnética e catártica ritmicidade de uma expressiva bateria soberbamente esporeada
numa marcha galopante, e pela arrebatada refulgência deflagrada por uma
refrescante, melodiosa, veludosa e extasiante voz que pincela a colorida e
perfumada frescura todo este radioso álbum de dominante bafagem veraneia. Num
plano secundário desabrocha ainda um revitalizante bandolim com os seus requintados,
sinuosos, prodigiosos e elaborados bailados de vistosos ornamentos, que assim
confere uma formosura complementar a este exímio trabalho cultivado a imaculada
delicadeza. ‘Razzle Dazzle’ é uma obra verdadeiramente ataráxica
que combina a impetuosa e rumorosa vivacidade com a ternurenta e melosa serenidade.
A tempestade e a bonança de mãos dadas. Deixem-se namorar, envolver e sublimar
pela irretocável lubricidade transpirada pelo dueto Blackbird Hill, e
testemunhem todo o desértico e quimérico esplendor de um dos álbuns mais apetitosos
do ano. Não vai ser fácil ouvi-lo apenas uma vez, duas ou três.
quinta-feira, 28 de maio de 2020
quarta-feira, 27 de maio de 2020
Review: ⚡ Overdose - 'Two Wheels and Gone' (2020) ⚡
Do outro lado do oceano Atlântico
chega-nos o rumoroso álbum de estreia do enérgico quarteto nova-iorquino Overdose.
Carimbado com a designação de ‘Two Wheels and Gone’ e oficialmente
lançado muito recentemente através do exclusivo formato digital – ainda que com
um lançamento em formato de vinil, e provavelmente também de CD, agendado para
o próximo verão – através da Splattered! Records (selo discográfico
especializado em Heavy Metal, Hard Rock e Punk), este portentoso
primeiro registo de longa duração carburado pela formação norte-americana vem oleado,
locomovido e valvulado por um pujante, atiçado, conturbado e ofegante Heavy
Metal de intensa, tensa e cáustica fogosidade a fazer recordar os célebres Motörhead.
A sua sonoridade demasiadamente revoltosa, alucinada, potente e estrondosa – vergastada e
esporeada a uma alucinante galopada de consumo impróprio para cardíacos – é
lavrada e governada por uma frenética comoção que prontamente nos infesta e atesta de
adrenalina. De coração vibrante, cabeça rodopiante e corpo transpirado, somos
carbonizados pela absorvente incandescência flamejada por todos os poros de ‘Two
Wheels and Gone’. Banhados pela espessa lava deste fumegante vulcão em
constante ebulição, somos violentamente agredidos e atiçados por um febril estádio
de efervescente excitamento fermentado e destilado por duas guitarras predatórias
que rugem imperiosos, picantes, trepidantes e impetuosos Riffs de onde se
desprendem gritantes, ácidos, delirados e penetrantes solos em debandada, um baixo
ronronante de reverberação pulsante, pujante, tensa e empolada, uma incansável bateria
calibrada pelo estilo Punk, vivamente pontapeada a entusiasmada, frenética e
arrojada marcha, e ainda uma voz escarpada, felina, erosiva e enfurecida – de
um abrasamento gutural a fazer lembrar o saudoso Lemmy Kilmister – que assanha
toda esta maquinaria pesada a toda a velocidade pelas loucas estradas de
alcatrão escaldado. ‘Two Wheels and Gone’ é um álbum
verdadeiramente selvagem e esmagador que nos dispara a euforia à mais alta rotação.
Deixem-se provocar pela infernal veemência de Overdose, e vivenciem como
puderem um dos registos mais electrizantes e contagiantes do ano.
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terça-feira, 26 de maio de 2020
segunda-feira, 25 de maio de 2020
Review: ⚡ The OMY - 'The OMY' (2020) ⚡
Da
cidade-capital de Moscovo chega-nos o novo álbum de estúdio do
híbrido e populoso colectivo russo The OMY que pulando e
foliando de género em género, vão surpreendendo e fascinando o ouvinte com a
sua inesgotável capacidade metamorfose sonora. De identificação homónima e
oficialmente lançado hoje mesmo através das mais variadas plataformas digitais,
este renovado, complexo e frutado cocktail de ingestão via
auditiva é magistralmente elaborado por um radiante, exótico, onírico e
deslumbrante Psychedelic Rock de clima veraneio, um
radiofónico, despretensioso, ocioso e agradável Indie Rock de
baladas fluídas e descomplicadas, um atordoante, virtuoso, impetuoso e
extravagante Free-Jazz de ousadas aproximações a um intuitivo,
abstracto e inventivo Avant-Garde de fronteiras descosidas, um
nocturno, outonal, misterioso e soturno Dark-Folk tecido a uma
sombria e enlutada harmonia, e ainda um vaporoso, ritmado, arrojado e
audacioso Trip Hop vocalizado e doutrinado na sua língua
nativa. A engenhosa, inteligente e dialogante conjugação entre todos estes
géneros musicais de ADN teoricamente incompatíveis, é posta em prática de uma forma verdadeiramente líquida, subtil e espontânea, fazendo assim com que nenhum ínfimo e arenoso grão de estranheza seja identificado pela engrenagem da sua ingestão sonora. ‘The OMY’ é
um registo imensamente eclético – de excentricidade carnavalesca e contornos
épicos – superiormente orquestrado por uma profusa e esdrúxula orgia
instrumental de apurada simbiose onde se notabiliza e pavoneia uma guitarra
quimérica de acordes delicadamente dedilhados a desarmante sublimidade, um
baixo bafejante de linhas murmurantes, hipnóticas e dançantes, uma magnetizante
bateria que – aliada a uma imersiva percussão tribalista – se lança numa dinâmica, colorida e vistosa marcha
marcadamente orientada e condimentada pelo Hip Hop, um gritante e serpenteante saxofone barítono de uivantes, afrodisíacos e esvoaçantes bailados, um mágico sintetizador de essência cósmica que ausculta formosos coros celestiais suspirados pelos astros, um melódico e melancólico piano de notas saltitantes, acrobática, enfáticas e petrificantes, e uma voz profética de tez estival, cristalina, fresca e angelical que sobrevoa de forma leve e vaporosa toda esta edénica, feérica e catalisadora alquimia sensorial. Oscilando entre suavizantes, afáveis, letárgicas e inebriantes passagens integralmente banhadas pelos tímidos e derradeiros raios emanados pelo Sol crepuscular, e fogosas, efervescentes, vibrantes e espalhafatosas detonações de uma súbita e inestancável expurgação e inflamação instrumental, 'The OMY' é um álbum de aspecto camaleónico que me prendera e conquistara com a sua curiosa personalidade capitaneada pela ambiguidade e multiplicidade. Um registo nutrido e locomovido a composições mescladas, labirínticas e inesperadas que decerto saciarão o apetite dos ouvidos mais eruditos e descomplexados. Bronzeiem-se na sua sumarenta, aromática e refrescante tropicalidade, e vivenciem um dos trabalhos mais originais do ano.
domingo, 24 de maio de 2020
sábado, 23 de maio de 2020
sexta-feira, 22 de maio de 2020
Review: ⚡ Pablo - 'Wave Myself Goodbye' (2020) ⚡
Pablo – virtuoso
guitarrista e vocalista da enérgica banda suíça de Heavy Blues chamada The
Dues – acaba de se aventurar e estrear na surpreendente produção de um
registo lavrado a solo. Deixando de parte a ardência electrificada da expressiva música Blues que o caracteriza e canalizando toda a sua inspiração para o flanco acústico de um poético,
deslumbrante, reconfortante e edénico Folk de clima primaveril e beleza
pastoril, o jovem músico helvético Pablo tem em ‘Wave Myself
Goodbye’ um álbum de curta duração, fácil digestão e pronta
fascinação. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do selo discográfico local
Sixteentimes Music através do exclusivo formato digital, esta obra agradavelmente
narrada por uma voz veludosa, acolhedora e melodiosa, e superiormente tecida e conduzida
por uma guitarra acústica de acordes frutados, condimentados a leveza, ternura,
doçura e subtileza, tivera em mim um efeito verdadeiramente calmante e purificante.
Compenetrados, encandeados e eterizados por toda esta sublimada e arrebatadora envolvência
destilada dos harmoniosos e voluptuosos diálogos entre a voz pacífica e a
guitarra lírica, somos invadidos por uma perdurável e adorável sensação de pleno
bem-estar que nos desmaia as pálpebras, desenha um sorriso no rosto e pendula a
cabeça num pausado e constante ricochete de ombro e ombro. De bússola apontada
a egrégias referências do género como Nick Drake, George Harrison, Rory Gallagher
e Bob Dylan, a enternecedora, solarenga, afectuosa e inspiradora sonoridade de Pablo
desdobra-se despretensiosa e relaxadamente ao longo dos onze estreitos temas que
o habitam. São cerca de 26 minutos de uma encantadora, solitária, balsâmica e sonhadora passeata que livre e graciosamente sobrevoa verdejantes, perfumadas, arborizadas e ondulantes planícies, banhadas e
massajadas pelo endeusado e vigilante Sol de bafagem morna e luzência crepuscular. Uma obra imensamente contemplativa e aconchegante que vive essencialmente da intimidade e da sensibilidade espelhadas pela alma do seu autor. Esta é a
banda-sonora perfeita para finais de tarde ensolarados e introspectivos, de corpo ensonado e
sentidos pacificados. Recostem-se e esperneiam-se descontraidamente nela.
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quinta-feira, 21 de maio de 2020
quarta-feira, 20 de maio de 2020
terça-feira, 19 de maio de 2020
Review: ⚡ Lunar Swamp - 'UnderMudBlues' EP (2020) ⚡
Do sul de Itália chega-nos
a intrigante, fumarenta e inebriante nebulosidade baforada e propagada pela
jovem formação Lunar Swamp que no início do passado mês de Março lançara
o seu fabuloso EP de estreia denominado de ‘UnderMudBlues’
e devidamente promovido pela pequena editora californiana Fuzzy Cracklins
sob a forma física de CD. Este soberano registo de curta duração – mas intensa e prolongada
fascinação – amortalha um cavernoso, esverdeado, embriagado e pantanoso Doom
Blues de orientação ocultista e tenebrosas ressonâncias Black Sabbath’icas
que nos obscurece, entorpece e profana a alma. A sua sonoridade de tez pegajosa,
carrancuda, encorpada e vagarosa – encrostada pelo abrasivo efeito Fuzz
– é orientada por uma imersiva liturgia xamânica capaz de mergulhar e ancorar o
ouvinte nas turvas águas de uma saturada, profunda e demonizada narcose. Varrido
por uma titânica, monolítica e possante avalanche de efeitos morfínicos, este poderoso
EP lavrado pelo auspicioso tridente italiano embaciara a minha lucidez e
entupira os meus sentidos com uma febril e pesada embriaguez. De corpo relaxado,
olhar anestesiado e semi-cerrado, narinas dilatadas, e cabeça baloiçada de
ombro a ombro somos canalizados e desaguados numa absorvente hipnose. Na
composição desta forte dosagem de morfina via auditiva está uma guitarra Tony Iommi’ca
de Riffs amaldiçoados, lutuosos, oleosos e apavorados, e solos acrimoniosos, efervescentes, gélidos e lustrosos, um baixo sísmico
de reverberação carregada, soturna e adensada, uma bateria trovejante de
ritmicidade ardente, pausada e potente, e uma voz opressiva, altiva e luciférica
que sobrevoa e ecoa pelos murchados e embrumados pântanos de Lunar Swamp.
Num plano secundário é-me ainda importante destacar e louvar a tímida aparição
de uma serpenteante, expressiva e refrescante harmónica que confere toda uma arenosa,
carismática e radiosa aura Western a este registo trajado e dominado
pelas trevas. Já a distinta ilustração – onde a cósmica e mística noite é
acordada pelas árvores chamejantes e uma enigmática coruja de olhar vigilante –
tem os seus créditos autorais apontados à artista italiana Damiana Merante. São 28 minutos atestados de um incessante feitiço impossível de quebrar. Deixem-se inundar e enlamear pela fumegante, letárgica, esotérica e intoxicante ambiência
de ‘UnderMudBlues’, e vivenciar de espírito dormente todo este autêntico
ópio sonoro.
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