Do sul de Itália chega-nos
a intrigante, fumarenta e inebriante nebulosidade baforada e propagada pela
jovem formação Lunar Swamp que no início do passado mês de Março lançara
o seu fabuloso EP de estreia denominado de ‘UnderMudBlues’
e devidamente promovido pela pequena editora californiana Fuzzy Cracklins
sob a forma física de CD. Este soberano registo de curta duração – mas intensa e prolongada
fascinação – amortalha um cavernoso, esverdeado, embriagado e pantanoso Doom
Blues de orientação ocultista e tenebrosas ressonâncias Black Sabbath’icas
que nos obscurece, entorpece e profana a alma. A sua sonoridade de tez pegajosa,
carrancuda, encorpada e vagarosa – encrostada pelo abrasivo efeito Fuzz
– é orientada por uma imersiva liturgia xamânica capaz de mergulhar e ancorar o
ouvinte nas turvas águas de uma saturada, profunda e demonizada narcose. Varrido
por uma titânica, monolítica e possante avalanche de efeitos morfínicos, este poderoso
EP lavrado pelo auspicioso tridente italiano embaciara a minha lucidez e
entupira os meus sentidos com uma febril e pesada embriaguez. De corpo relaxado,
olhar anestesiado e semi-cerrado, narinas dilatadas, e cabeça baloiçada de
ombro a ombro somos canalizados e desaguados numa absorvente hipnose. Na
composição desta forte dosagem de morfina via auditiva está uma guitarra Tony Iommi’ca
de Riffs amaldiçoados, lutuosos, oleosos e apavorados, e solos acrimoniosos, efervescentes, gélidos e lustrosos, um baixo sísmico
de reverberação carregada, soturna e adensada, uma bateria trovejante de
ritmicidade ardente, pausada e potente, e uma voz opressiva, altiva e luciférica
que sobrevoa e ecoa pelos murchados e embrumados pântanos de Lunar Swamp.
Num plano secundário é-me ainda importante destacar e louvar a tímida aparição
de uma serpenteante, expressiva e refrescante harmónica que confere toda uma arenosa,
carismática e radiosa aura Western a este registo trajado e dominado
pelas trevas. Já a distinta ilustração – onde a cósmica e mística noite é
acordada pelas árvores chamejantes e uma enigmática coruja de olhar vigilante –
tem os seus créditos autorais apontados à artista italiana Damiana Merante. São 28 minutos atestados de um incessante feitiço impossível de quebrar. Deixem-se inundar e enlamear pela fumegante, letárgica, esotérica e intoxicante ambiência
de ‘UnderMudBlues’, e vivenciar de espírito dormente todo este autêntico
ópio sonoro.
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