sexta-feira, 19 de junho de 2020

Review: ⚡ Mothers of the Land - 'Hunting Grounds' (2020) ⚡

Depois de em 2016 terem lançado o seu irrepreensível e impactante álbum de estreia ‘Temple Without Walls’ (review aqui) – tendo eu o considero e condecorado mesmo como um dos melhores trabalhos de longa duração nascidos nesse ano (listagem aqui) – os austríacos Mothers of the Land acabam de presentear e saciar toda a sua crescente legião de seguidores com o tão aguardado sucessor designado de ‘Hunting Grounds’ e oficialmente lançado hoje mesmo nos formatos digital, de CD e vinil (estes físicos de prensagem ultra-limitada a parcas centenas de cópias disponíveis) pela mão da já conceituada editora discográfica local StoneFree Records. Repetindo a bem-sucedida receita musical estreada na caprichosa produção do seu primeiro registo, este imponente quarteto domiciliado na cidade-capital de Viena escuda-se num melódico, faustoso, poderoso e épico Hard Rock de feições setentistas e tingido a alucinante e flamejante psicadelismo em harmoniosa e libidinosa parceria com um desenfreado, fogoso, polvoroso e oleado Heavy Metal de sotaque britânico e matriz tradicional. A sua sonoridade vistosa, sublime e gloriosa – talhada a uma desarmante e apaixonante majestosidade, e carburada a uma musculada, dinâmica, redentora e entusiasmada cavalgada de instrumentos em debandada – causara em mim um inabalável estádio de crescente e ofuscante fascinação que desprendera e detonara toda uma saturada e exaltada comoção. Numa ornamentada alternância entre desembaraçadas, vertiginosas e inflamadas galopadas à rédea solta e espora aguçada, e passagens climatizadas a uma nirvânica, deslumbrante e afrodisíaca maviosidade, ‘Hunting Grounds’ adjectiva-se como uma obra verdadeiramente arrebatadora que tanto nos enternece de uma doce letargia como sobreaquece de uma diluviana euforia. Na génese de toda esta cuidada, inspirada e magistral epopeia de essência puramente instrumental estão duas sensacionais guitarras gémeas de formosa e lasciva excentricidade que hasteiam vultosos, principescos, titânicos e ostentosos Riffs esculpidos e encerados a sobranceira majestosidade, e esgrimam virtuosos, ziguezagueantes, atordoantes e gloriosos solos superiormente domesticados e esvoaçados a assombrosa e desarmante habilidade, um baixo ronronante valvulado e sombreado a linhas bafejantes, densas, tensas e possantes, e uma bateria combativa, magnética e altiva que – a trote de uma ritmicidade expressiva – tiquetaqueia toda esta despótica cavalaria pesada na imediata conquista do ouvinte. De salientar e aplaudir ainda o excepcional artwork brilhantemente pensado e executado pelo talentoso ilustrador local Markus Raffetseder (aka Dr. Knoche) que confere e este irretocável registo toda uma envolvente atmosfera de misticismo fabular. Confesso que depois de digerido e reverenciado o álbum de estreia de Mothers of the Land, arremessava na direcção deste seu sucessor as mais grandiosas expectativas que acabariam mesmo por lhe assentar na perfeição. Muito dificilmente este quarteto austríaco conseguiria um regresso mais apoteótico. São cerca de 37 minutos inteiramente oxigenados por uma constante, imersiva e provocante feitiçaria de superior primazia que nos esperta e liberta todos os membros e sentidos. Deixem-se embevecer, efervescer e naufragar nos revoltosos mares de ‘Hunting Grounds’ e vivenciar com plena entrega e devoção todo o brioso esplendor de um dos mais monumentais álbuns lançados este ano.

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