terça-feira, 4 de agosto de 2020

Review: ⚡ Atlanta - 'Nugrybauti' (2020) ⚡

Da Holanda chega-nos ‘Nugrybauti’, o segundo e novo trabalho de longa duração produzido pelo alucinante power-trio Atlanta. Oficialmente lançada na segunda metade do precedente mês de Julho tanto em formato digital como sob a forma física de vinil (reduzido a uma edição ultra-limitada à prensagem de apenas 250 cópias rotuladas pela editora discográfica local Lay Bare Recordings), esta extensível e apaixonante odisseia de interiorização via auditiva pela desmedida vacuidade do Cosmos bocejante tem como seu primordial combustível um intoxicante, imaginativo, expressivo e delirante Heavy Psych – distorcido por um sónico experimentalismo que nos atordoa a lucidez, e talhado a uma refrescante aura jazzística que nos matiza a embriaguez – que pendula entre a euforizante, carnavalesca e provocante efervescência e a relaxante, cinematográfica e extasiante quietude. A sua sonoridade maravilhosamente complexa, de paisagens e climas desiguais, é norteada e desenvolvida à boleia de intuitivas, exploratórias, enlouquecedoras e criativas jam’s de natureza e destreza puramente instrumentais provocam no ouvinte um inamovível estádio de ofuscante deslumbramento que o climatiza ao longo dos seus respectivos 62 minutos de duração. De pés descalços, enraizados nas bronzeadas e fervilhantes areias do deserto, e cabeça soterrada na vertiginosa e visceral verticalidade do negrume cósmico, somos seduzidos e conduzidos por uma uivante guitarra de exótico idioma Hendrix’eano que se perde e encontra por entre extravagantes, esvoaçantes, orgiásticos e estonteantes solos guiados a desarmante sagacidade e oleados a elevada toxicidade, um baixo pesadamente murmurante de serpenteantes, densas, tensas e ondeantes linhas sombreadas a fibrada reverberação, e uma bateria soberbamente Jazzy que – com um toque lustroso, saltitante, libertino e harmonioso – tiquetaqueia e capitaneia de forma airosa e graciosa toda esta temerária embarcação por nirvânicos e revoltosos mares que a esperam nos inesperados horizontes de ‘Nugrybauti’. Este é um álbum de estética veraneia onde a doce melancolia e a espirituosa euforia convivem em alegre concordância. Velejando e naufragando por todo um profundo espectro de emoções fortemente contrastadas, somos mutuamente sedados e agitados pela heterógena musicalidade de Atlanta. Inalem a fresca brisa suspirada pelas ondas do oceano e transpirem a vulcânica ardência que incendeia o deserto. Diluam-se no fértil improviso deste tridente holandês e experienciem todo o intenso encantamento farolizado pela magnetizante, admirável e dialogante simbiose que cola e não mais descola os três instrumentos. Uma das mais arrebatadoras surpresas sonoras do ano está aqui.

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