sábado, 28 de novembro de 2020

Review: ⚡ All Them Witches - 'Nothing as the Ideal' (2020) ⚡

★★★★

É justo começar por confessar que o meu primeiro encontro com o muitíssimo ansiado novo álbum dos norte-americanos All Them Witches não tivera em mim o impacto que eu até então perspectivava, mas havia algo nele que reclamava para si próprio um prolongamento de paciência e consequente compreensão. E em boa hora não desisti dele, pois o mesmo acabara por se materializar num daqueles raros casos em que primeiro se estranha, depois entranha-se e reverencia-se. Com o acumular de frescas e renovadas audições, ‘Nothing as the Ideal’ foi-se agigantando em mim, e em mim cimentando a madura convicção de que se trata de um bonito álbum à altura de uma adorável banda detentora de uma admirável capacidade de se reinventar sem que a qualidade da sua musicalidade saia beliscada. Lançado na madrugada de Setembro pela mão da editora independente New West Records através dos formatos físicos de CD e vinil, este quinto álbum de estúdio da consagrada formação sediada na cidade de Nashville (capital do estado do Tennessee) ostenta uma fascinante hibridez que se balanceia entre composições trajadas a uma singeleza estilística e outras de uma ousada complexidade cerebral. Na fórmula deste colorido sortido sonoro temos toda uma constante mutação de intensos, apetitosos mas efémeros paladares que se desprendem e passeiam de um ensolarado, místico, afrodisíaco e embriagado Psychedelic Rock de mãos dadas a um meditativo, hipnótico e imersivo Krautrock de propensão astral que em coligação se desenvolvem, inflamam e revolvem num fibrado, dinâmico e oleado Progressive Metal, a um arenoso, nirvânico, pacífico e lustroso Country Blues de aura crepuscular que nos empoeira a alma de uma purificante fragância desértica. Num andar felino que – de forma cuidada, caprichada e elegante – se equilibra por entre fogosas, troantes e poderosas cavalgadas de instrumentos em debandada e a todo o vapor que nos sobreaquecem o motor, e atmosféricas, ociosas e lisérgicas baladas sublimemente dedilhadas a beleza e delicadeza que nos estarrecem o espírito sedento por experienciar algo assim, ‘Nothing as the Ideal’ recosta o ouvinte a um etéreo e imperturbável estádio de diluviana ataraxia que lhe massaja membros e sentidos. Embebidos neste balsâmico néctar, somos levemente embriagados e canalizados até às praias do transe espiritual. Recentemente metamorfoseados de quarteto para trio, os All Them Witches conduzem esta sua nova obra ao volante de uma primorosa guitarra que ruge vigorosos, garridos fragorosos Riffs e uiva comoventes, histéricos e atordoantes solos, um baixo pulsante de reverberação fluída, tonificada e dançante, uma bateria enfática de pratos flamejantes e timbalões acrobáticos, e uma liderante voz de tez açucarada, melodiosa e aveludada. ‘Nothing as the Ideal’ encerra uma sedutora, preclara e emancipadora quimera que nos entontece a lucidez e atesta de uma eufórica e melancólica embriaguez. Um dos melhores álbuns do ano está aqui, no mais recente rasgo criativo de uma das bandas merecidamente mais respeitadas e estimadas do momento.

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