terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Review: ⚡ Rostro del Sol - 'Rostro del Sol' (2021) ⚡

★★★★

Da populosa e fremente Cidade do México (capital do México) chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados de 2021. ‘Rostro del Sol’ é o homónimo disco de estreia deste jovem, mas muitíssimo talentoso, quarteto azteca, que de forma brilhante – e para meu trasbordante regozijo – conjuga a sua música no pretérito. Com o respectivo lançamento integral e oficial agendado para o próximo dia 29 do vigente mês (sexta-feira) pela mão do emergente selo discográfico local LSDR Records (acrónimo de Loud, Slow and Distorted Riffs) sob a forma digital e numa rara edição em CD (ultra-limitada a apenas 100 cópias disponíveis), este primeiro passo discográfico de Rostro del Sol traz-nos um colorido, perfumado e caleidoscópico sortido sonoro de onde se identifica e degusta um delirante, excitante e tropical Psychedelic Rock, um serpenteante, enfeitiçante e triunfal Progressive Rock e ainda um sumptuoso, aparatoso e orquestral Jazz Rock. Combinando o exótico virtuosismo de Jimi Hendrix e Carlos Santana com a carnavalesca vitalidade de uns Mogul Thrash, a aventurosa sagacidade de Soft Machine e Mahavishnu Orchestra, o arejado misticismo jazzístico de Sweet Smoke, e ainda com o abstracto cabaret domesticado pelo Frank Zappa, esta irretocável, caprichosa e venerável obra representa um imaculado tributo aos lisérgicos anos 60 e 70. Contando ainda com destemidas incursões pelos territórios de um sinuoso, principesco e majestoso Blues, e de um fogoso, ritmado e suado Funk, a sua sonoridade camaleónica, afrodisíaca, veraneante e prismática desdobra-se numa instrumentação habilmente elaborada que envolve e revolve a alma do ouvinte numa arborizada teia de sonhos. Na fórmula desta efervescente alquimia de chamejante simbiose instrumental dialogam entre si uma ácida guitarra que se envaidece num vendaval em espiral de ziguezagueantes, histéricos, orgiásticos e atordoantes solos de pomposa caligrafia Jimi Hendrix’eana, uma bateria soberbamente jazzy que – à boleia dos vertiginosos rufos na tarola, timbalões galopantes e pratos sibilantes – embala em imersivas, vistosas e criativas acrobacias circenses de tirar o fôlego, um baixo oscilante de linhas fluídas, onduladas, empoladas e magnetizantes, um excêntrico saxofone de sopros lustrosos, ferozes, turbilhonantes e gloriosos, um quimérico teclado de sotaque Jon Lord’eano que com as suas frescas, cheirosas e harmoniosas melodias banha e condimenta todo este álbum verdadeiramente piramidal. De salientar e exultar ainda o fabuloso artwork de ambiência surrealista – a fazer recordar o pitoresco Salvador Dalí – superiormente concebido pela artista mexicana Elena Ibáñez. São 32 minutos inteiramente climatizados por um idílico, ritualístico e sumarento deslumbramento de cores berrantes, palpáveis e pulsantes que me eclipsara a lucidez e em mim hospedara todo um febril estádio de doce e imperturbável embriaguez. Um paradisíaco deboche de redenção sensorial que nos ascende e prende aos braços do transe espiritual. Deixem-se dissolver, intoxicar e embevecer nesta profunda hipnose oxigenada a LSD, e comunguem todo o expressivo esplendor de um álbum recostado nas tão almejadas fronteiras da perfeição. Não vai ser nada fácil contrariar o seu imenso favoritismo à conquista do título de melhor disco do ano.

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