quinta-feira, 25 de março de 2021

Review: ⚡ Saturnia - 'Stranded in the Green' (2021) ⚡

★★★★

Depois de uma longa estadia na residência editorial da muito conceituada Elektrohasch (casa-mãe dos germânicos Colour Haze), que carimbara e promovera cinco dos seus sete álbuns lançados até à data, o talentoso multi-instrumentista português Luís Simões (ex-Blasted Mechanism) ao serviço de Saturnia acaba de celebrar um vínculo contratual com o produtivo selo discográfico alemão Sultron Records, e o primeiro fruto desta recém-formada relação está na iminência de ser colhido e saboreado. Com o seu nascimento oficial calendarizado para o dia de amanhã - sexta-feira, 26 de Março – através dos formatos físicos de CD e vinil (ambos limitados à prensagem de apenas 500 cópias disponíveis), este muito aguardado oitavo álbum, apelidado de ‘Stranded in the Green’, é consequência da enriquecedora exposição de Saturnia à religiosidade de deus Baco. Gravado dentro de uma moldura vínica, em perfeita comunhão com a natureza de vestes primaveris e onde toda uma resplandecência bucólica aliada a uma devoção mitológica fermentam e materializam este mélico e espirituoso néctar de ingestão auditiva, esta renovada, balsâmica e elaborada obra tricotada a duas mãos embriaga, afaga e reconforta o ouvinte com base num meditativo, ensolarado e imersivo Psychedelic Rock em afrodisíaca consonância com um lenitivo, hipnótico e criativo Space Rock. Oxigenada por um aventuroso experimentalismo que explora e perscruta os domínios alienígenas, e nos empoeira a alma de nebulosidade estelar, a onírica, arejada, espaçada e ritualística sonoridade de ‘Stranded in the Green’ gravita em órbita de um imperturbável estádio de plena tranquilidade. São 57 minutos – repartidos por nove temas (o vinil conta com sete faixas) de almas aparentadas – de inescapável hipnose pelos nirvânicos trilhos da introspecção. Perfilando e combinando toda uma panóplia de instrumentos – onde se lavram deslumbrantes diálogos entre uma messiânica guitarra de incessantes, alucinógenos e serpenteantes solos, um murmurante baixo de sombreada, densa e bafejada reverberação, uma cítara endeusada de extravagantes, proféticos e revitalizantes bailados, um místico gong de prolongados bocejos repletos de luz estival e empoderamento oriental, um cósmico sintetizador de majestáticos coros celestiais, um litúrgico mellotron de mugidos polifónicos, intrigantes e melancólicos, um clássico piano Rhodes de teclas harmoniosas, cheirosas e saltitantes, uma tambura indiana de magnéticos, absorventes e enigmáticos véus sonoros, chimes de colorida e tilintante luzência,  e uma bateria tribalista de compasso lento e minimalista – à sua voz macia, etérea e xamânica, Saturnia conta ainda com as presenças dos convidados Ana Vitorino (que embeleza o tema introdutório do disco com a sua recitada voz de entoação fantasmagórica e dramática) e Winga (que enriquece a percussão do segundo tema a trote de um acrobático djambé). ‘Stranded in the Green’ é um álbum de textura campesina, clima ensolarado, coloração esverdeada e afago espiritual que nos mantém suspensos num mântrico zen. Um registo de doutrina evangelista que nos alinha os chakras, eteriza e canaliza rumo ao tão desejado transe religioso. Bronzeiem-se, prazenteiem-se e canonizem-se numa das melhores colheitas da sua respeitável discografia.

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