sexta-feira, 30 de abril de 2021
quarta-feira, 28 de abril de 2021
terça-feira, 27 de abril de 2021
Review: ⚡ Ulrich Schnauss & Jonas Munk - 'Eight Fragments Of An Illusion' (2021) ⚡
É ainda de espírito arrebatado
e lucidez embaciada que escrevo estas palavras. ‘Eight Fragments Of An
Illusion’ é o terceiro trabalho de longa duração brilhantemente concebido
pela simbiótica colaboração entre o alemão Ulrich Schnauss e o
dinamarquês Jonas Munk (Causa Sui), que fora muito recentemente
lançado através dos formatos digital, CD e vinil pela mão da editora independente
Azure Vista Records, enraizada na nórdica cidade de Odense (Dinamarca)
e essencialmente especializada na disseminação do universo da música electrónica. Orvalhado
por um sonho sublimemente musicado de onde se revelam um embrumado, melancólico,
bucólico e embriagado Shoegaze sintonizado na mesma frequência dos ingleses Slowdive, e um misterioso, cósmico, hipnótico e ocioso Dream
Pop na linha dos escoceses Cocteau Twins, este novo registo do duo vem
embrulhado numa experimental alquimia electrónica que cultiva no solo do ouvinte
todo um apaziguante, sedativo e reconfortante sentimento de doce nostalgia capaz
de o embalar, mitigar e enfeitiçar do primeiro ao derradeiro minuto. A sua sonoridade arejada,
espaçada e ambiental – desenvolvida em slow-motion, e magicada por uma
textura melodiosa, paradisíaca, mística e aquosa – desdobra no nosso imaginário
todo um cinematográfico crepúsculo de fluorescência colorida e desfocada que se
entrega demoradamente aos negros e aveludados braços da noite. Submersos e
prazerosamente desmaiados nas profundezas deste vívido sonho açucarado, somos
absorvidos, embevecidos e namorados pelas líricas e fantásticas composições caprichosamente deambuladas
e ecoadas por um sintetizador alienígena de mugidos etéreos, ébrios e angelicais
que embrumam de frescas, fluídas e cheirosas harmonias os oito temas que
compartimentam esta obra divinal, e pelos delicados, ternurentos e deslumbrados
acordes copiosamente florescidos de uma guitarra estética, opalina e profética que surfa
com desarmante formosura toda a pacífica ondulação electrónica. ‘Eight
Fragments Of An Illusion’ é um admirável registo repleto de uma monção de aromas
frutados, suaves ventos tropicais, e uma transformadora calma que nos gravita e
agita. Um quimérico álbum ofuscado a intensa beatitude e climatizado a uma ataráxica
envolvência que em nós instaura toda uma permeabilidade sensitiva. Banhem-se
nas nirvânicas águas da introspecção, e recebam uma terapêutica massagem
cerebral de afago espiritual. Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – despertar
de todo este radioso psicadelismo bocejante e aceitar que a utópica ilusão terminara, dando lugar ao desconfortável e atordoante silêncio que reinará na ressaca da
sua audição. Esta é a banda-sonora perfeita para emoldurar finais de tarde ensolarados.
Links:
➥ Ulrich Schnauss Facebook
➥ Jonas Munk Facebook
➥ Azure Vista Records
➥ Bandcamp
sábado, 24 de abril de 2021
Review: ⚡ Hekate - 'Sermons to the Black Owl' (2021) ⚡
Da insuspeita Austrália
chega-nos uma das mais ousadas e impactantes surpresas sonoras do ano. ‘Sermons
to the Black Owl’ dá nome ao irrepreensível álbum de estreia forjado
pelo pujante quarteto Hekate, e que fora lançado na segunda metade do
passado mês de Março através da exclusiva forma digital (ainda que com a
garantia de uma futura edição em formato físico de vinil pela jovem mão da editora discográfica local Black Farm Records). Consequência de um nebuloso,
obscurantista e trevoso ritual onde são esconjurados e conjugados um enlutado, imperioso,
intrigante e fibrado Proto-Doom de ameaçadoras feições luciféricas, um musculoso,
oleado, flamejado e rumoroso Hard Rock de roupagem setentista, e ainda
um glorioso, torneado, serpenteado e majestoso Heavy Blues de sedutora fragância,
este primeiro registo da formação australiana impõe-se de faca nos dentes,
olhar fulminante e mangas arregaçadas. A sua poderosa sonoridade – que mescla a
demoníaca liturgia de Black Sabbath com o tenso negrume de Saint
Vitus e a enigmática feitiçaria de Witchcraft – pendula entre alucinadas,
eufóricas e destravadas galopadas esporeadas a escaldante ferocidade, e melancólicas,
embriagadas e misantrópicas passagens mergulhadas numa abissal obscuridade de beleza outonal. Consumidos nas negras lavaredas de Hekate, somos inflamados e
dominados pela urticante, titânica e rangente opulência de duas guitarras
predatórias que hasteiam tenebrosos, fumegantes, provocantes e montanhosos Riffs
estriados de electrizantes, escorregadios, giratórios e esvoaçantes solos em ciclónica
e enlouquecedora debandada, um mastodôntico baixo de reverberação altiva e massiva
que bafeja linhas pesadas, umbrosas, polposas e onduladas, uma bateria rutilante,
explosiva e faiscante que é vergastada e pregueada a violenta, intensa e
desenfreada pujança, e ainda uma voz vampírica de tonalidade intoxicante, perfurante,
ácida e fantasmagórica que sobrevoa e assombra toda a atmosfera infernal de ‘Sermons
to the Black Owl’. Este é um álbum verdadeiramente avassalador que nos
centrifuga os sentidos, atesta de adrenalina e deixa em polvorosa. Uma abrasiva,
opressiva e triunfante cavalgada, locomovida a frenética rotação e de consumo
impróprio para cardíacos, que nos bombardeia, endoidece e incendeia de fascinada e transbordante
excitação. Precipitem-se numa veemente convulsão, incinerem-se numa eruptiva combustão,
e deixem-se engolir por este monstruoso furacão tricotado a endorfinas. Um dos
registos mais influentes e apoteóticos de 2021 está aqui. Encarvoem-se, demonizem-se e
empoderem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Black Farm Records
sexta-feira, 23 de abril de 2021
quinta-feira, 22 de abril de 2021
quarta-feira, 21 de abril de 2021
terça-feira, 20 de abril de 2021
Review: ⚡ Howling Giant - 'Alteration' EP (2021) ⚡
De Nashville –
a cidade mais populosa do estado norte-americano do Tennessee – chega-nos
‘Alteration’, o novíssimo EP da recém-transfigurada formação
Howling Giant (que passara de trio a quarteto) lançado hoje mesmo sob a
exclusiva forma digital, selo autoral, e através da sua página de Bandcamp oficial. Cozinhado
num chamejante, apimentado e borbulhante caldeirão onde um vulcânico,
empolgante e dinâmico Desert Rock, um intoxicante, poderoso e alucinante
Heavy Psych e ainda um virtuoso, fluído e sinuoso Prog Metal dialogam
numa sinérgica fusão, este adorável registo de curta duração, mas de duradoura
comoção, desdobra no imaginário do ouvinte cinematográficas paisagens de
ambiência SCI-FI. A sua sonoridade puramente instrumental, brilhantemente ostentosa, híbrida, envolvente e
sumptuosa, ziguezagueia entre meditativas, delicadas e lenitivas passagens sulfatadas
a embriagada beleza, e tumultuosas, vibrantes e rumorosas erupções carburadas a
pujante adrenalina. De corpo serpenteante, olhar eclipsado, espírito
deslumbrado e cabeça furiosamente rodopiada de ombro a ombro, somos aliciados
pelo inflamante erotismo de uma guitarra majestosa que – abrasada pelo gaseificado
efeito Fuzz – se enrijece na ascensão de épicos, musculosos e apoteóticos
Riffs rugidos a intenso fervor, e endoidece na condução de estonteantes,
ácidos e trepidantes solos rubricados em espiral, pesadamente bafejados pela
densa reverberação de um baixo fibrótico que se balanceia em sombreadas, volumosas
e lubrificadas linhas, açoitados pela estimulante efervescência de uma incisiva
bateria esporeada a uma galopante, frenética e provocante ritmicidade, e ainda
empoeirados pela nebulosa magia entoada por um teclado sublimado de perfumadas,
frescas e condimentadas harmonias. Pendulando entre a doce letargia que nos
embacia a lucidez, e a explosiva euforia que em nós provoca todo um sísmico
abalo sensorial, somos fascinados e arrebatados pela expressiva beleza deste ‘Alteration’
ao longo dos seus efémeros e ingratos 20 minutos. Um dos meus EP’s predilectos
– dos já desabrochados até à data – está aqui, na estética, transcendente e
simétrica opulência de Howling Giat. Não vai ser nada fácil experienciá-lo
apenas uma vez, duas ou três.
sábado, 17 de abril de 2021
sexta-feira, 16 de abril de 2021
quinta-feira, 15 de abril de 2021
quarta-feira, 14 de abril de 2021
terça-feira, 13 de abril de 2021
Review: ⚡ Potion - 'Oath to Flame' EP (2021) ⚡
O pujante power-trio
australiano Potion está de regresso com o lançamento do seu novo EP
intitulado de ‘Oath to Flame’ e devidamente promovido pela mão da
independente companhia discográfica local Brilliant Emperor Records através
da forma física de cassete (numa especial e ultra-limitada edição de apenas 100
cópias disponíveis). Encarvoado, atormentado e demonizado por um imperioso, despótico, distópico e
nebuloso Proto-Doom de feições ameaçadoras e carregadas que se
emporcalha nas paradas e pesadas águas de um pantanoso, crepitante, inflamante e
viscoso Sludge Metal em agitada ebulição, este novo trabalho de curta
duração – superiormente forjado pela formação enraizada na cidade de Sydney
– é climatizado por uma atmosfera verdadeiramente trevosa, perniciosa,
vampírica e misantrópica que nos cega e enluta de uma intensa e demoníaca negrura.
A sua sonoridade intrigante, ritualística e atemorizante agiganta-se e empodera-se
numa monolítica, mastodôntica e rumorosa avalanche que nos atropela e soterra
nos abismos de um imperturbável estádio de sedada euforia. De espírito
enfeitiçado e sentidos mumificados pela trágica, mórbida e melancólica liturgia
celebrada pelos Potion, somos conduzidos ao lado ímpio e eclipsado da
religiosidade. Na génese deste prepotente, nocivo e intoxicante elixir que tumultuosamente borbulha
num chamejante caldeirão, está uma guitarra profana que se enegrece e robustece
em Riffs gordurosos, fumarentos, bafientos e monstruosos de onde são
escoados solos lancinantes, esvoaçantes, avinagrados e uivantes, um titânico baixo
de reverberação massiva, dilatada, sombreada e opressiva, uma violenta bateria
de ritmicidade incisiva, trovejante, potente e explosiva, e ainda uma enrugada voz
de natureza gutural, incandescente, erodente e infernal que, num atormentado,
cavernoso e inflamado bramido, emerge das trevas e em nós provoca todo um vibrante
sismo sensorial. ‘Oath to Flame’ é um EP hostil e brutal, extremamente
impetuoso, tenebroso e dominante, que me envolvera e revolvera do primeiro ao
derradeiro minuto nas suas ferozes lavaredas. Mergulhem e naufraguem nas vertiginosas, obscuras e aterradoras
profundezas de ‘Oath to Flame’, e regressem à tona completamente
atordoados e conquistados pela sua reinante potência que fará até estremecer e desmoronar
os resistentes alicerces que sustentam o mais devoto e imaculado coração. Um dos mais sérios candidatos a EP
do ano está aqui, na temível e amaldiçoada alma de Potion. Poluam-se e arruínem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Brilliant Emperor
domingo, 11 de abril de 2021
sábado, 10 de abril de 2021
sexta-feira, 9 de abril de 2021
Review: ⚡ Heavy Feather - 'Mountain of Sugar' (2021) ⚡
Da cidade-capital Estocolmo
chega-nos a doce, estética e carismática fragância de essência revivalista brilhantemente
desenvolvida pelo quarteto sueco Heavy Feather com a apresentação do seu
muito aguardado segundo trabalho de longa duração. Oficialmente lançado hoje
mesmo pela mão da influente discográfica nórdica The Sign Records em
formato digital e sob a forma física de CD e vinil, ‘Mountain of Sugar’
vem chamejado e condimentado por um ostentoso, lubrificado, açucarado e melodioso Blues-Rock
de roupagem vintage que ocasionalmente se maquilha e metamorfoseia num picante,
lascivo, convidativo e dançante Boogie-Rock. De inspiração resgatada aos
saudosos 60’s e 70’s onde se notabilizaram vultosas referências do género como Cream,
Taste, Stevie Ray Vaughan, Free, Cactus e Lynyrd
Skynyrd, e com um forte grau de parentesco com bandas contemporâneas tais como
Siena Root, Blues Pills, Radio Moscow, DeWolff, Wucan
e Three Seasons, a fogosa, afrodisíaca e majestosa sonoridade deste
talentoso colectivo escandinavo equilibra-se e envaidece-se por entre relaxantes,
idílicas, românticas e reconfortantes baladas climatizadas a inefável doçura, e euforizantes,
inflamadas, destravadas e alucinantes cavalgadas locomovidas à rédea solta. Tricotado por uma
guitarra luxuosa que se manifesta em excitantes, magnéticos, eróticos e deslumbrantes
Riffs de onde são vertidos e gritados lustrosos, ácidos, trepidantes e
sinuosos solos, bafejado por um baixo pulsante de linhas inchadas, densas, tensas
e torneadas, tiquetaqueado por uma bateria de ritmicidade cuidada, diligente,
envolvente e desembaraçada, e ensolarado por uma caramelizada, vistosa,
portentosa e encorpada voz de feição felina que evoca o espírito Soul da icónica Janis
Joplin, este excepcional ‘Mountain of Sugar’ vem embrulhado
numa irresistível formusura de conteúdo impróprio para diabéticos. De olhar
semi-selado, boca salivada, semblante rosado, sorriso golpeado no rosto e
espírito inteiramente embrumado por um ofuscante estádio de pura satisfação, somos
enfeitiçados, embevecidos e cortejados pela transbordante sensualidade que a apetitosa musicalidade
de Heavy Feather transpira por todos os seus poros. Este é um álbum verdadeiramente
magistral, de simetria aprumada e beleza consumada, que preenchera a profunda barragem de
expectativas a ele previamente dedicadas. Uma obra simultaneamente delicada, ternurenta,
atiçada e turbulenta que tanto nos absorve num embriagado encantamento, como revolve num vulcânico empolgamento. Prazenteiem-se, incendeiem-se e viciem-se neste meloso e montanhoso néctar de
ingestão auditiva, e vivenciem com inesgotável fascinação e imediata veneração um
dos registos mais requintados do ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ The Sign Records