Da insuspeita Austrália
chega-nos uma das mais ousadas e impactantes surpresas sonoras do ano. ‘Sermons
to the Black Owl’ dá nome ao irrepreensível álbum de estreia forjado
pelo pujante quarteto Hekate, e que fora lançado na segunda metade do
passado mês de Março através da exclusiva forma digital (ainda que com a
garantia de uma futura edição em formato físico de vinil pela jovem mão da editora discográfica local Black Farm Records). Consequência de um nebuloso,
obscurantista e trevoso ritual onde são esconjurados e conjugados um enlutado, imperioso,
intrigante e fibrado Proto-Doom de ameaçadoras feições luciféricas, um musculoso,
oleado, flamejado e rumoroso Hard Rock de roupagem setentista, e ainda
um glorioso, torneado, serpenteado e majestoso Heavy Blues de sedutora fragância,
este primeiro registo da formação australiana impõe-se de faca nos dentes,
olhar fulminante e mangas arregaçadas. A sua poderosa sonoridade – que mescla a
demoníaca liturgia de Black Sabbath com o tenso negrume de Saint
Vitus e a enigmática feitiçaria de Witchcraft – pendula entre alucinadas,
eufóricas e destravadas galopadas esporeadas a escaldante ferocidade, e melancólicas,
embriagadas e misantrópicas passagens mergulhadas numa abissal obscuridade de beleza outonal. Consumidos nas negras lavaredas de Hekate, somos inflamados e
dominados pela urticante, titânica e rangente opulência de duas guitarras
predatórias que hasteiam tenebrosos, fumegantes, provocantes e montanhosos Riffs
estriados de electrizantes, escorregadios, giratórios e esvoaçantes solos em ciclónica
e enlouquecedora debandada, um mastodôntico baixo de reverberação altiva e massiva
que bafeja linhas pesadas, umbrosas, polposas e onduladas, uma bateria rutilante,
explosiva e faiscante que é vergastada e pregueada a violenta, intensa e
desenfreada pujança, e ainda uma voz vampírica de tonalidade intoxicante, perfurante,
ácida e fantasmagórica que sobrevoa e assombra toda a atmosfera infernal de ‘Sermons
to the Black Owl’. Este é um álbum verdadeiramente avassalador que nos
centrifuga os sentidos, atesta de adrenalina e deixa em polvorosa. Uma abrasiva,
opressiva e triunfante cavalgada, locomovida a frenética rotação e de consumo
impróprio para cardíacos, que nos bombardeia, endoidece e incendeia de fascinada e transbordante
excitação. Precipitem-se numa veemente convulsão, incinerem-se numa eruptiva combustão,
e deixem-se engolir por este monstruoso furacão tricotado a endorfinas. Um dos
registos mais influentes e apoteóticos de 2021 está aqui. Encarvoem-se, demonizem-se e
empoderem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Black Farm Records
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