domingo, 4 de abril de 2021

Review: ⚡ La Era de Acuario - 'La Era de Acuario' (2021) ⚡

★★★★

Da outra margem do oceano Atlântico chega-nos uma das mais apaixonantes surpresas musicais do presente ano. Oficialmente lançado no passado mês de Março pela mão do incansável selo discográfico peruano Necio Records em formato digital e numa muito apelativa e ultra-limitada edição em formato físico de vinil (pintalgada com respingos de coloração violeta e de prensagem reduzida a apenas 300 cópias na iminência de esgotar), ‘La Era de Acuario’ simboliza o homónimo e paradisíaco álbum de estreia (e que estreia!) deste encantador sexteto mexicano. De pés ancorados na populosa capital da Cidade do México e espíritos boémios a vaguear pelo icónico bairro de Haight-Ashbury (localizado em São Francisco, Califórnia) – epicentro difusor do movimento hippie testemunhado na década de 1960 – estes aztecas celebram todo um purificante, nebuloso e misterioso ritual de essência xamânica e afago espiritual, de onde sobressai um embriagante, prismático, onírico e deslumbrante Neo-Psych em erótica consonância com um alucinante, colorido, perfumado e extasiante Acid Rock de buliçosa efervescência. A sua sonoridade extraordinariamente estimulante, psicotrópica e dançante – escaldada e saturada de um exótico e afrodisíaco misticismo, e costurada a exuberantes adereços de estética sessentista – provoca no ouvinte toda uma mesclada salada sensorial, inesgotáveis visões caleidoscópicas, flutuantes miragens utópicas, e um imaculado estádio de transe sacramental. De pupilas dilatadas e sentidos narcotizados, somos passeados acima de um tapete voador pelos purpúreos céus crepusculares da velha Pérsia. Uma nirvânica, messiânica e lisérgica hipnose impregnada de LSD que nos encandeia e bronzeia de filosófica resplandecência hinduísta, e escancara as portas da percepção para uma extraordinária imersão no excêntrico universo de Aldous Huxley. Na composição deste sagrado enteógeno de odor vintage e calor latino estão duas guitarras intoxicantes de Riffs serpentantes, arábicos e aliciantes de onde são uivados solos ziguezagueantes, ácidos e delirantes, um pulsante baixo de linhas fibradas, torneadas e murmurantes, uma bateria extrovertida de ritmicidade sedutora e clima tropical, uma contagiante percussão de exuberância tribalista, um mágico órgão de vaporosos, refrescantes e nebulosos bailados, e ainda uma voz enfeitiçante de tonalidade angelical, etérea e espectral que voa e ecoa pela esotérica, melosa e fantasmagórica bruma de La Era de Acuario. O sublimado portal visual – de seráficos, miríficos e detalhados ornamentos – que confere um rosto escultural a esta irretocável obra de perímetro magistral aponta os seus créditos autorais ao inconfundível ilustrador sueco Robin Gnista. Percam-se pelos infindáveis meandros desta labiríntica tapeçaria de texturas revivalistas e encontrem-se num balsâmico e terapêutico oásis de consolação e glorificação sensorial. ‘La Era de Acuario’ é condimentado por um chamejante erotismo que não deixará ninguém indiferente. Não vai ser nada fácil quebrar o dominante feitiço em nós instaurado por estes seis hippies da era moderna, e despertar das vertiginosas profundezas deste entontecido sonho lúcido para enfrentar o desconfortável silêncio que o sucede. Indubitavelmente um dos mais notáveis álbuns do ano. Empoeirem-se e empoderem-se nele.

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