quarta-feira, 7 de julho de 2021

Review: ⚡ White Canyon & The 5th Dimension - 'Spectral Illusion' (2021) ⚡

★★★★

Depois de em 2019 ter lançado o seu homónimo e muito elogiado álbum de estreia (aqui trazido e apaixonadamente escalpelizado), o talentoso casal brasileiro White Canyon & The 5th Dimension – enraizado em Minas Gerais – reaparece agora com o segundo trabalho de longa duração, apelidado de ‘Spectral Illusion’ e devidamente carimbado pelo selo discográfico peruano Necio Records numa limitada e apelativa edição em vinil (entretanto já esgotada). Orvalhado por um onírico, sidérico e embriagado Psychedelic Rock – a fazer recordar os californianos Sleepy Sun e os franceses Sunder – que se absorve num pornográfico flirt com um melódico, melancólico e nebuloso Shoegaze na linha dos britânicos Slowdive, este novo registo do duo sul-americano prende toda uma mística, magnetizante, embalante e fantasmagórica sonoridade que nos conduz, seduz e induz num nirvânico estádio de inescapável hipnose. Soterrados num febril torpor comatoso que nos embacia a lucidez, somos envolvidos, embevecidos e enfeitiçados por uma brumosa, nocturna e misteriosa atmosfera de efeito desorientador. De olhar selado, cabeça sonolenta, pendulada de ombro a ombro, sorriso imortalizado no rosto, e espírito alcoolizado, mergulhado num profundo deslumbramento sensorial, somos desamarrados da gravidade terrestre, içados na vertiginosa direcção da negra vacuidade cósmica, e empoeirados pela fosforescente neblina estelar. ‘Spectral Illusion’ é um mavioso, sumptuoso e irresistível sonho lúcido, sublimemente adubado e musicado por uma guitarra endeusada de serpenteantes, afrodisíacos e extasiantes Riffs onde escoam e ecoam solos uivantes, lisérgicos e arábicos, um baixo murmurante de reverberação ondulada, sombreada e dançante, uma tribalista bateria trauteada a uma ritmicidade diligente, reluzente e hipnotizante, um profético teclado de condimentadas, arejadas e ritualísticas melodias, e ainda duas vozes sussurrantes, angelicais e flutuantes que romantizam toda esta mirífica noite de corpos relaxados sobre um piloso relvado e olhos cravados nas longínquas fornalhas celestes que estrelam as perpétuas trevas de um Cosmos bocejante. O fabuloso artwork que tão bem casa com a musicalidade do álbum, aponta os seus créditos autorais ao clássico pintor alemão Karl Wilhelm Diefenbach com a épica obra “The Fairy Dance“ datada de 1895. Deixem-se vogar pela eterna fantasia de White Canyon & The 5th Dimension e reconfortem-se na nostálgica beatitude suavemente suspirada por um álbum verdadeiramente sedutor, sentimental e arrebatador. Um disco quimérico, tristemente belo, altamente recomendado a sonhadores que se permitam maravilhar pelas longínquas lâmpadas que farolizam todos aqueles que naufragam nas aveludadas noites acordadas. Lenifiquem-se e espreguicem-se nele.

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