segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Review: ⚡ Zack Oakley - 'Badlands' (2021) ⚡

★★★★

Da cidade costeira de San Diego (Califórnia) chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. ‘Badlands’ dá nome ao primeiro álbum a solo de Zack Oakley (mais conhecido de guitarra e microfone empunhados ao serviço dos irreverentes Joy) e acaba de ser lançado tanto em formato digital (com a possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp oficial, como em formato físico de vinil com o carimbo do recém-formado selo discográfico caseiro Kommune Records. Contando com a importante colaboração de um populoso bando composto por habilidosos músicos amigos – caras bem conhecidas de consagradas bandas locais, tais como Psicomagia, Harsh Toke, Ocelot, Volcano e Red Wizard – o talentoso multi-instrumentista Zack Oakley tem em ‘Badlands’ um sumarento cocktail sonoro, colorido, apaladado e gaseificado por um vistoso, serpenteante, cativante e libidinoso Blues Rock de balanço Boogie, aroma a Tex-Mex e roupagem setentista, um electrizante, fogoso, lustroso e delirante Psychedelic Rock de elevada toxicidade, estética revivalista e clima West Coast, e ainda um arejado, reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Folk de adornada moldura Western e uma doce fragância primaveril. A sua sonoridade verdadeiramente apaixonante, afrodisíaca e contagiante – sintonizada na mesma frequência de clássicas referências como ZZ Top, Eagles, James Gang, The Allman Brothers Band, Lynyrd Skynyrd, Black Oak Arkansas, Cactus, Humble Pie, The Outlaws e Foghat – embarca o ouvinte numa transformadora road trip pelas poeirentas estradas que estriam o deserto do Arizona rumo ao México. De olhar ofuscado pelo vibrante Sol que se debruça no inatingível firmamento, narinas dilatadas na aspiração da revitalizante brisa desértica, punhos cerrados no volante de um barulhento muscle car, e espirito embriagado de mescalina, somos embalados e consagrados num nirvânico vórtice de visões caleidoscópicas e ambiências utópicas. São 40 minutos de extasiante deslumbramento sob a psicotrópica influência de uma adorável guitarra de agradáveis, vaidosos, radiosos e afáveis Riffs de onde debandam venenosos, alucinógenos, uivantes e sinuosos solos distorcidos pela virulenta efervescência do pedal wah-wah, uma voz xamânica – ocasionalmente abraçada por um espectral, mélico, luminoso e sidérico coro vocal – de pele avinagrada, diabrina, hipnótica e aveludada, um baixo flácido de murmúrios vagueantes, relaxados, bocejados e ondulantes, uma eloquente bateria a galope de uma ritmicidade criativa, desembaraçada, leve e imersiva, um teclado fabular de frescos, melódicos, opulentos e romanescos mugidos, e ainda uma chamativa harmónica de sopros arenosos, incisivos, altivos e berrantes. ‘Badlands’ é um registo imensamente libertador. Um álbum extremamente sedutor, de fácil digestão e imediata veneração. Icem as velas da espiritualidade ao sabor da triunfante estreia a solo de Zack Oakley, e comunguem este poderoso peyote de absorção auditiva, massagem cerebral e evasão consciencial. Um dos momentos mais altos do ano musical de 2021 está aqui, no diluviano psicadelismo que tinge de ofuscante coloração o lamacento sangue que corre pelas largas artérias do rio Mississippi onde fora forjado e chorado o velho Delta-Blues, e desagua nas douradas areias que pavimentam as paradisíacas praias californianas. Bebam-no e reverenciem-no sem moderação.

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