sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Review: ⚡ Earthless - 'Night Parade Of One Hundred Demons' (2022) ⚡

★★★★

Inspirado num livro japonês de crónicas fantasmagóricas intitulado “Gazu Hyakki Yagyō ou “The Illustrated Night Parade of a Hundred Demons” (escrito por Toriyama Sekien e originalmente publicado em 1776) que o baixista Mike Eginton lera ao seu jovem filho (que nutre um particular fascínio por monstros míticos), e onde é descrita a procissão de criaturas sobrenaturais que visitam e aterrorizam aldeias japonesas, ceifando a vida de quem os vislumbra ou arrastando aldeões desafortunados para o âmago do mundo espiritual, este novo álbum forjado pelo titânico tridente californiano Earthless – oficialmente lançado hoje mesmo com o carimbo da influente companhia discográfica independente Nuclear Blast através dos formatos físicos de CD e vinil – representa o tão ansiado e triunfante regresso de uma das bandas mais acarinhadas e respeitadas do psicadelismo contemporâneo. Replicando a fórmula ganhadora que os celebrizara, Night Parade Of One Hundred Demons’ vem assombrado e compartimentado por três longas jams de índole instrumental onde fervilha um intoxicante, catártico, sónico e electrizante Heavy Psych de propensão cósmica. Desenraizando o ouvinte do abraço gravitacional que conserva a consciência terrestre e embalando-o na redentora vertigem pelas abissais profundezas do negro tecido sideral – driblando solitários planetas, montando chamejantes meteoroides e penetrando a rutilante incandescência de fornalhas estelares – a viajante, alucinada, centrifugada e embriagante sonoridade deste novíssimo registo de Earthless adultera as coordenadas do espaço-tempo. Não se deixem iludir pelas especiarias etéreas que condimentam e climatizam a branda e nirvânica balada Surf de brilho oceânico e odor a maresia (a fazer recordar os já históricos surf-rockers californianos The Mermen) que principia esta fantástica odisseia extraplanetária, pois ‘Night Parade Of One Hundred Demons’ prontamente envereda – ainda que de forma discreta e evolutiva – num trepidante, caleidoscópico, narcótico e delirante bacanal de essência ritualista e toxicidade a perder de vista com cerca de uns imersivos 60 minutos de duração. Sorvidos e revolvidos nesta psicotrópica efervescência, somos enlouquecidos pela virulenta extravagância da virtuosa guitarra de Isaiah Mitchell ao serviço de provocantes, majestosos, libidinosos e intrigantes Riffs sintonizados nas frequências dos britânicos Black Sabbath ou dos nipónicos Blues Creation, estriados por um enxame de ácidos, elásticos, insanos e bombásticos solos conduzidos furiosamente em contramão, que homenageiam incontornáveis divindades das seis cordas como Jimi Hendrix ou o argentino Pappo, baloiçados pela quente reverberação de um pesado baixo motorizado a empoladas, fibróticas, magnéticas e torneadas linhas superiormente desenhadas pelo Mike Eginton, e vibrados pela bateria em polvorosa do endiabrado Mario Rubalcaba que – com as baquetas em chamas – arranca numa frenética cavalgada esporeada a alta rotação. De distender elogios ainda ao vincado e detalhado artwork – produzido pelo próprio baixista Mike Eginton – que combina toda uma pluralidade de folclore japonês. ‘Night Parade Of One Hundred Demons’ é uma autêntica montanha-russa que nos faz rasgar as vestes da lucidez e surfar um mastodôntico tsunami de endorfinas. Embarquem nesta épica viagem de efeito desorientador à boa e velha moda de Earthless, e vivenciem com intenso e ardente entusiasmo toda a estonteante propulsão daquele que será seguramente um dos grandes discos do ano.

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