Inspirado num
livro japonês de crónicas fantasmagóricas intitulado “Gazu Hyakki Yagyō” ou “The
Illustrated Night Parade of a Hundred Demons” (escrito por Toriyama
Sekien e originalmente publicado em 1776) que o baixista Mike Eginton
lera ao seu jovem filho (que nutre um particular fascínio por monstros míticos),
e onde é descrita a procissão de criaturas sobrenaturais que visitam e aterrorizam aldeias
japonesas, ceifando a vida de quem os vislumbra ou arrastando aldeões
desafortunados para o âmago do mundo espiritual, este novo álbum forjado pelo
titânico tridente californiano Earthless – oficialmente lançado hoje mesmo com o carimbo da influente companhia discográfica independente Nuclear Blast através dos formatos
físicos de CD e vinil – representa o tão ansiado e triunfante regresso de uma
das bandas mais acarinhadas e respeitadas do psicadelismo contemporâneo. Replicando
a fórmula ganhadora que os celebrizara, ‘Night Parade
Of One Hundred Demons’ vem assombrado e compartimentado por
três longas jams de índole instrumental onde fervilha um intoxicante,
catártico, sónico e electrizante Heavy Psych de propensão cósmica.
Desenraizando o ouvinte do abraço gravitacional que conserva a consciência
terrestre e embalando-o na redentora vertigem pelas abissais profundezas do negro
tecido sideral – driblando solitários planetas, montando chamejantes meteoroides
e penetrando a rutilante incandescência de fornalhas estelares – a viajante,
alucinada, centrifugada e embriagante sonoridade deste novíssimo registo de Earthless
adultera as coordenadas do espaço-tempo. Não se deixem iludir pelas especiarias
etéreas que condimentam e climatizam a branda e nirvânica balada Surf de brilho oceânico e odor a maresia (a
fazer recordar os já históricos surf-rockers californianos The Mermen)
que principia esta fantástica odisseia extraplanetária, pois ‘Night
Parade Of One Hundred Demons’ prontamente envereda – ainda que de forma
discreta e evolutiva – num trepidante, caleidoscópico, narcótico e delirante bacanal
de essência ritualista e toxicidade a perder de vista com cerca de uns imersivos 60 minutos de duração. Sorvidos e revolvidos
nesta psicotrópica efervescência, somos enlouquecidos pela virulenta extravagância
da virtuosa guitarra de Isaiah Mitchell ao serviço de provocantes, majestosos,
libidinosos e intrigantes Riffs sintonizados nas frequências dos britânicos
Black Sabbath ou dos nipónicos Blues Creation, estriados por um
enxame de ácidos, elásticos, insanos e bombásticos solos conduzidos furiosamente
em contramão, que homenageiam incontornáveis divindades das seis cordas como Jimi Hendrix
ou o argentino Pappo, baloiçados pela quente reverberação de um pesado baixo
motorizado a empoladas, fibróticas, magnéticas e torneadas linhas superiormente
desenhadas pelo Mike Eginton, e vibrados pela bateria em polvorosa do
endiabrado Mario Rubalcaba que – com as baquetas em chamas – arranca numa
frenética cavalgada esporeada a alta rotação. De distender elogios ainda ao vincado
e detalhado artwork – produzido pelo próprio baixista Mike Eginton
– que combina toda uma pluralidade de folclore japonês. ‘Night Parade Of
One Hundred Demons’ é uma autêntica montanha-russa que nos faz rasgar
as vestes da lucidez e surfar um mastodôntico tsunami de endorfinas. Embarquem
nesta épica viagem de efeito desorientador à boa e velha moda de Earthless,
e vivenciem com intenso e ardente entusiasmo toda a estonteante propulsão daquele que será seguramente um dos grandes
discos do ano.
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