sexta-feira, 18 de março de 2022

Review: 🌻 Children of the Sün - 'Roots' (2022) 🌻

★★★★

Da pequena cidade sueca de Arvika chega-nos o odor floral desprendido de um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. ‘Roots’ dá nome ao segundo e novo trabalho de longa duração superiormente germinado pelo aprumado, apaixonante e inspirado sexteto Children of the Sün que – de vestes vintage e postura envaidecida – saíra hoje à rua pela mão da influente companhia discográfica nórdica The Sign Records através dos formatos LP, CD e digital. Combinando variadas colorações num vibrante arco-íris de onde sobressaem um ensolarado, ofuscante, tocante e arejado Psychedelic Rock de agradável clima primaveril, um trovador, mélico, nostálgico e sonhador Folk de verdejantes paisagens campestres a perder de vista, e um comovente, afrodisíaco, balsâmico e resplandecente Blues de aliciante swing Soul, a perfumada, sublimada, harmoniosa e refinada sonoridade desta purificante obra – envernizada a uma tonalidade sessentista e condimentada a uma doce aura intimista – passeia-se e galanteia-se livremente a trote de pausadas, reconfortantes, suavizantes e açucaradas baladas, bem como de excitantes, majestosas, sinuosas e galvanizantes galopadas desdobradas à rédea solta. Reencarnando o santificado espírito do memorioso Woodstock, estes jovens hippies da era moderna libertam toda uma pureza, delicadeza e beatitude que nos emudecem os sentidos e adormecem num pleno estádio de transbordante êxtase. É de genuíno sorriso estampado no rosto, narinas dilatadas, olhar incendiado por uma imperturbável expressão sonhadora, e alma desabrochada numa evasão transformadora que nos encontramos sob o intenso e miraculoso feitiço de Children of the Sün. Todo um deslumbramento sensorial emanado por uma messiânica voz tomada por sentimentos fortes e diáfanos, de pele nutrida, melodiosa, luminosa e aveludada – escoltada de perto por um angelical, espectral, lustroso e charmoso coro vocal – que capitaneia todo este sonho acordado, uma adorável guitarra dedilhada a arrepiante melosidade, ardente sensualidade e desarmante sensibilidade, um murmurante baixo bafejado a linhas ondeantes, sombreadas, desatadas e vagueantes, uma estimulante bateria compassada a um toque preciso, polido, acrobático e galopante, e um teclado fabular de frescas, romanescas e envolventes harmonias que nos mantêm de espírito ancorado nesta consumada utopia oxigenada a reflexiva melancolia e expressiva euforia. De apontar ainda as mais elogiosas palavras ao ostentoso, detalhado e prodigioso artwork, soberbamente ilustrado pela Revolver Design, e que casa na perfeição com a mística sonoridade que o disco encerra. ‘Roots’ é um álbum que se enraizara profundamente em mim e em mim deixara uma inapagável sensação de bem-estar. Um registo verdadeiramente edénico, afável, venerável e profético – de consagração espiritual – que nos seduz e conduz aos nirvânicos céus azul-turquesa. Esta é a banda-sonora perfeita para musicar a Primavera que se aproxima. Um paraíso naturista de pés desnudos sobre a pilosa erva e olhar selado, içado na direcção do astro-rei. Uma relaxada excursão pelo Jardim do Éden. Uma inspiradora ode à paz que se hasteia num período onde é tão urgente ser restabelecida por entre os filhos do Sol. Alcanço e perco-me na intimidade da mágica e seráfica bruma que orvalha e embacia o derradeiro tema completamente rendido e embevecido pela inefável formosura com que este álbum fora bordado e orlado. Saboreiem imoderadamente este viciante néctar caprichosamente produzido pelos polinizadores suecos Children of the Sün, e comunguem o deífico esplendor chamejado e irradiado por um dos mais belos álbuns florescidos nos últimos tempos.

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