Dois anos após
o lançamento da primeira parte da sublimada e exploratória jam-session intitulada
‘Dickfehler Studio Treffen’ (aqui vivamente experienciada e textualmente
narrada), eis que os cosmonautas germânicos de instrumentos empunhados Kombynat
Robotron disponibilizam agora o tão aguardado segundo capítulo desta
fantástica odisseia. Lançado nos formatos digital e LP pela mão da fértil
discográfica britânica Drone Rock Records, este fascinante registo de
essência instrumental – o vigésimo do quarteto sediado na cidade de Kiel
em apenas quatro anos de inesgotável criatividade e imparável produção discográfica
– gravita em órbita de um magnético, esponjoso e morfínico Krautrock de
propulsão astral – aliado a um intoxicante, balsâmico e delirante Psychedelic
Rock de absorvente textura Drone’sca, e um deslumbrante,
etéreo e viajante Space Rock com vista panorâmica para as estrelas.
Irrigada por generosas doses de um alienígena e refrescante experimentalismo que
se manifesta de forma livre, sem fronteiras que o espartilhem, a apaziguante,
embrumada e narcotizante sonoridade de ‘Dickfehler Studio Treffen 2’
desenraíza o ouvinte da gravidade terrestre e embala-o numa adorável, inescapável
e transcendente hipnose pela desmesurada vacuidade de um Cosmos sonolento. De
pálpebras seladas, narinas dilatadas, cabeça entorpecida e pesadamente
baloiçada de ombro a ombro, e espírito profundamente enfeitiçado, vagueamos e naufragamos
prazerosamente na eterna vertigem de Kombynat Robotron sem garantias de
um regresso ao ponto de partida. Capturados e relaxados pela lisérgica sedução
que as suas intuitivas, ácidas e evolutivas jams exalam, embalamos numa ataráxica
levitação – reproduzida em slow-motion – de encontro ao tão almejado
transe espiritual. Na composição deste poderoso opiáceo estão duas guitarras
embriagadas que se envolvem e revolvem num flirt de obcecantes, libidinosos
e contagiosos acordes de onde são destilados solos mirabolantes, frígidos e ecoantes,
um baixo liderante – balanceado a linhas pulsantes, hipnóticas e ondeantes – que
soletra repetida e incansavelmente todas as sílabas do riff-base, e uma bateria minimal – tiquetaqueada a uma repetitiva precisão robótica – que pauta toda esta
entontecida narcose com o inflexível rigor de um relógio suíço. São 44 minutos –
compartimentados em quatro longas faixas – dissolvidos na abissal intimidade de
um sono profundo que nos massaja o cerebelo e estaciona num inamovível estádio
de transe. Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – despertar disto.
Sem comentários:
Enviar um comentário