terça-feira, 31 de janeiro de 2023
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
Review: 👻 Heavy Blanket - 'Moon Is' (2023) 👻
Subitamente despertado
de um longo estado comatoso com quase uma década de duração, o electrizante tridente norte-americano Heavy Blanket está finalmente de regresso com o
tão aguardado lançamento do seu novo trabalho denominado ‘Moon Is’ sob as
formas de LP, CD e digital, carimbadas pela mão do selo discográfico nova-iorquino
Outer Battery Records. Enraizados na cidade de Amherst (Massachusetts)
e capitaneados pelo talentoso e irreverente J. Mascis (Dinosaur Jr.),
os Heavy Blanket intoxicam os ouvintes com um atordoante, sulfuroso,
viscoso e embriagante Heavy Psych, chamejado por uma bolorenta, áspera e
poeirenta nebulosidade Lo-Fi e gaseificado por uma fogosa, rugosa e crepitante
distorção. A sua sonoridade febril, selvática, inflamada e intensamente
psicotrópica – caligrafada a intuitivas, ácidas e evolutivas jams
instrumentais – varrem a nossa lucidez e em nós impregnam toda uma delirante embriaguez.
Soterrados nas profundezas da atmosfera lodacenta, entorpecida e fumacenta de ‘Moon
Is’, somos farolizados pelas guitarras reinantes que se amontoam em esponjosos,
polposos, espinhosos e temulentos riffs de onde são destilados solos desvairados, caóticos, ciclónicos
e destemperados, um baixo modorrento de linhas obesas, grossas, coesas e abafadas, uma
bateria dinâmica de desembraçada, dançada e eloquente ritmicidade, e ainda uma hipnotizante,
subterrânea e sussurrante voz que incensa o clima do derradeiro tema. São 35 minutos desfocados
e embrulhados por um alucinógeno torpor que nos tomba as pálpebras e balanceia pesadamente
a cabeça sonolenta entre os ombros. Uma vertiginosa hipnose de cores vibrantes
e brilhos relampejantes que nos enevoa e entontece. Num passo cambaleante entre a morfínica letargia e a efervescente
euforia, vagueamos sonâmbulos pelos pastosos, umbrosos e tóxicos pântanos de Heavy
Blanket. Deixem-se embaciar, insensibilizar e diluir nesta turbulenta e enlouquecedora alunagem
em ‘Moon Is’, e entrem na inescapável órbita deste poderoso narcótico sem
a mais pequena vontade dele acordar e retornar.
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domingo, 29 de janeiro de 2023
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
Review: 🎢 LOVE GANG - 'Meanstreak' (2023) 🎢
Depois de no
verão de 2019 ter lançado o seu incendiário álbum de estreia ‘Dead Man’s
Game’ (aqui escalpelizado e imoderadamente reverenciado), o rebelde
quarteto LOVE GANG – sediado na populosa cidade de Denver,
capital do estado norte-americano do Colorado – acaba de detonar o seu
muito ansiado sucessor ‘Meanstreak’. Lançado hoje mesmo sob os formatos
LP, CD e digital pela mão da imparável discográfica romana Heavy Psych
Sounds, este novo álbum de LOVE GANG é locomovido a um musculado,
fogoso e lubrificado Hard Rock de alta rotação, um apimentado,
serpenteante e torneado Heavy Blues de balanço Boogie, e ainda um
combativo, predatório e altivo Proto-Metal que nos crava os dentes
caninos na jugular. Gravada de forma analógica – para replicar, assim, toda a
crueza, aspereza e autenticidade dos dourados 70’s – a sonoridade abrasiva, rotativa, apressada e incisiva de ‘Meanstreak’ transporta o ouvinte para as poeirentas
estradas do deserto, farolizadas pela rosada luzência de um Sol crepuscular, ao
volante de uma barulhenta chopper que o viaja a alta velocidade. Apontando
a mira a incontáveis referências do prolífico território setentista –
onde facilmente se reconhecem bandas como Cactus, Toad, MC5, Sir
Lord Baltimore, Mountain, Leaf Hound, ZZ TOP, Budgie,
Pappo’s Blues, Iron Claw, Truth and Janey e Highway
Robbery – os insubordinados LOVE GANG têm em ‘Meanstreak’ um álbum
inteiramente arquitectado à minha imagem. Endemoninhado por uma guitarra selvagem
que hasteia bem alto flamejantes, empolgantes, espadaúdos e trepidantes riffs
de onde ziguezagueiam ácidos, desvairados e efervescentes solos, enrijecido por
um fibrótico baixo motorizado a linhas sombreadas, tensas, densas e oleadas, enfeitiçado
por um carismático órgão Hammond que se adensa em bailados intrigantes, harmoniosos,
aquosos e encaracolados, pontapeado por uma pujante bateria de forte odor a
pólvora, esporas ensanguentadas e baquetas em chamas que cavalga a uma
ritmicidade verdadeiramente estonteante, e atiçado por uma liderante voz Lemmy’esca
de pele fragosa, rouquenha, urticante e fervorosa, ‘Meanstreak’ é um registo
carburado a indomável turbulência – de fulminante rebuliço
e penetrante aroma a gasolina – que nos chicoteia e incendeia de incontida euforia.
São 37 minutos transpirados de adrenalina, com o mercúrio a cabecear persistentemente
o cume do termómetro. Uma enlouquecedora, excitante e libertadora galopada à
rédea solta, que só no penúltimo tema do disco conhece um súbito relaxamento
com a singela composição de uma rústica balada de Texas Blues, a permitir-nos,
ainda que brevemente, recuperar o fôlego de mãos apoiadas nos joelhos. Uma vertiginosa
montanha-russa de emoções à flor da pele, imprópria para cardíacos. Brindemos LOVE
GANG com os punhos cerrados e copos de cerveja transbordante ao alto.
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
terça-feira, 24 de janeiro de 2023
Review: ⚜️ Molten Gold - 'Futures Past' (2023) ⚜️
Da
cidade-capital norueguesa de Oslo chega-nos o radiante, prazenteiro e
contagiante revivalismo irradiado pelo aliciante quinteto Molten Gold, que
acaba de apresentar o seu primeiro trabalho de longa duração, intitulado ‘Futures
Past’ e lançado em LP – numa apelativa edição multicolorida onde o nosso
olhar naufraga – pela mão do selo discográfico germânico Kozmik Artifactz
e ainda sob a forma digital. Assumindo a forma de uma deslumbrante, doce e apaixonante
fragância vintage – trazida dos dourados e glorificados 70’s, de visão
pastoral e afago sensorial – que nos entra pelas narinas, ruboriza as maçãs do rosto, rebaixa as pálpebras
e desabrocha o mais genuíno sorriso, este formoso, edénico e lustroso álbum de
estreia do colectivo nórdico nasce da simbiótica e erótica conjugação entre um vistoso,
elegante e delicioso Hard Rock, um opulento, dançante e magnetizante Prog
Rock, um colorido, delirante e ensolarado Psychedelic Rock e ainda
um electrizante, picante e fogoso Heavy Blues. A sua sonoridade
bem-disposta, aprumada, de fácil digestão e pronta fascinação, encandeia o ouvinte de uma
diluviana luzência primaveril que o deixará embriagado e maravilhado do
primeiro ao derradeiro tema. São 42 minutos mergulhados num intenso esplendor melífluo
que nos oferece uma purificante limpeza espiritual e uma relaxante massagem
cerebral. Deixem-se levar e enlevar pela irresistível elegância de uma voz afável,
aristocrática e venerável, ocasionalmente gravitada e aureolada por lampejantes
coros vocais, pelo afrodisíaco bailado de uma guitarra primorosa que – recorrendo
ao crocante efeito Fuzz e ao gelatinoso efeito Jimi Hendrix’eano wah-wah
– se envaidece em majestosos, requintados e odorosos riffs de onde são
vertidos enleantes, principescos e rodopiantes solos de desarmante beleza, pela
intrigante opulência de um órgão imperial que se adensa em polposos, quiméricos
e aparatosos mugidos, pelo quente bafo de um baixo sombreado que se manifesta
em linhas pulsantes, carnudas e ondulantes, e ainda pela epidémica ritmicidade
de uma bateria criativa, desenvolta e expressiva que completa com distinção esta
irretocável obra de alta-costura. ‘Futures Past’ é um álbum festivo,
altivo e cavalheiresco. Um registo banhado a ouro do mais elevado quilate. Uma obra
imaculada e gratificante que caminha de forma ufana e triunfante por entre arejadas,
bucólicas e ajardinadas baladas e excitantes, abrasivas e inquietantes galopadas.
Deixem-se cortejar e conquistar pelo indomável poder de sedução dos noruegueses
Molten Gold, e vivenciem com inquebrantável admiração um dos mais sérios
candidatos a melhor disco de 2023.
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
domingo, 22 de janeiro de 2023
sábado, 21 de janeiro de 2023
sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
Review: 🌴 London Odense Ensemble - 'Jaiyede Sessions Vol. 2' (2023) 🌴
Está
oficialmente lançado o tão desejado segundo capítulo da deslumbrante tertúlia jazzística
inaugurada na madrugada do verão de 2022 (review aqui), e que –
tal como o nome do projecto assim o sugere – combina os génios criativos de
músicos provenientes das cidades de Londres (Inglaterra) e Odense
(Dinamarca) numa simbiótica jam session de fazer salivar os
ouvidos de quem a comunga. Com o insuspeito carimbo do consagrado selo
discográfico dinamarquês El Paraiso Records e saído à rua sob os
formatos LP, CD e digital, este ‘Jaiyede Sessions
Vol. 2’ é dançado ao fluído ritmo de um serpenteante, afrodisíaco, ritualístico
e enfeitiçante Spiritual Jazz de indiscretos e passageiros resvalos nas
fronteiras do camaleónico Jazz Fusion, condimentado com um delicioso Jazz-Funk
de contagiante groove e clima tropical, um sofisticado experimentalismo sem barreiras que o
espartilhem e ainda um caleidoscópico Psicadelismo de fragância oriental.
De inspirações apontadas a vultosas referências da música Jazz, como Alice Coltrane, Herbie
Hancock, Pharaoh Sanders, Sun Ra, John McLaughlin, Soft
Machine, Nucleus e Placebo (os belgas liderados pelo pianista
Marc Moulin), este talentoso colectivo vagueia entre a harmoniosa convergência
e a espalhafatosa divergência instrumentais, resultando num pêndulo que tanto nos
eteriza, massaja e eterniza num imperturbável, edénico e adorável pacifismo de salgado sabor
a maresia e locomoção onírica, como nos sobreaquece, enlouquece e viaja num alucinante,
exótico e empolgante safari de coloração carnavalesca e suor latino pelas
frondosas selvas sul americanas. Na composição desta sagrada mescalina que nos imerge
no incomensurável universo espiritual, filosófico e sensorial de Aldous Huxley,
dialogam entre si toda uma electrónica, quimérica e paranoica profusão de teclados celestiais
que cozinham mugidos sónicos, alienígenas e angelicais, um saxofone burlesco de
sopros fogosos, esdrúxulos e aparatosos, uma flauta arábica de serpenteios airosos,
sedosos e fabulares, uma guitarra ensolarada que suspira meditativos, paradisíacos
e imaginativos acordes de onde esvoaçam solos angulosos, efervescentes e
lustrosos, um baixo elástico swingado a linhas polposas, encaracoladas e
oleosas, e uma bateria tribalista que deambula de forma desprendida e
apaixonada por entre pratos cintilantes e flamejantes, e timbalões acrobáticos
e galopantes. São 38 minutos de uma explorativa evasão consciencial que tanto nos
banha e assanha na borbulhante e incandescente lava de um vulcão, como refresca
nas lisérgicas e reconfortantes águas de um oceano azul-turquesa aureolado por um vistoso arco-íris. ‘Jaiyede
Sessions Vol. 2’ é um registo verdadeiramente mirífico. Um oásis de afago sensorial e milagrosa luzência que nos bronzeia do primeiro ao último tema. Esta é a minha
praia.
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
quarta-feira, 18 de janeiro de 2023
terça-feira, 17 de janeiro de 2023
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
domingo, 15 de janeiro de 2023
sábado, 14 de janeiro de 2023
sexta-feira, 13 de janeiro de 2023
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Review: ⚰️ Høstsol - 'Länge Leve Döden' (2023) ⚰️
Do território
escandinavo – o habitat natural do Black Metal – chega-nos o impactante álbum de
estreia do supergrupo Høstsol pela mão da
editora discográfica italiana Avantgarde Music. Constituído por dois músicos
finlandeses, um sueco e um norueguês (integrantes de clássicas e consagradas
bandas do subgénero como Shining, Ajattara e Manes), este
poderoso quarteto multinacional tem em ‘Länge Leve Döden’ um registo fervido e esporeado a
impiedosa, sufocante e sulfurosa negrura que nos atemoriza, lapidifica e
profana a alma. Ensombrado por um agressivo, distópico, colérico e opressivo Black
Metal de clima infernal e escola tradicional, esta primeira obra de Høstsol capitaneia e naufraga o ouvinte pelas marés de desesperantes, melancólicos, misantrópicos e exasperantes
estados de espírito. Deixem-se seduzir e ludibriar pela etérea nebulosidade invernal,
de bucólica acalmia e fantasmagoria litúrgica, que nos embacia e eteriza em efémeros
vislumbres de aparente lisergia, para logo de seguida e de forma inesperada
serem violentamente atacados e incinerados, sem qualquer misericórdia, pela acintosa,
turbulenta e impetuosa fogosidade de uma sangrenta e trevosa detonação. De
religiosidade eclipsada, semblante esbranquiçado, olhar envidraçado e
boquiabertos, somos agredidos, engolidos e mergulhados nas insondáveis e abissais
profundezas do paganismo à ciclónica boleia de uma guitarra abrasiva que se eriça
em riffs imperiosos, umbrosos e nocivos, um imponente baixo de bafagem
monolítica, granítica e fibrosa, uma bombástica bateria escoiçada e metralhada
a uma ritmicidade aparatosa, desvairada e vertiginosa, e ainda uma voz dilacerante
de rugidos rugosos, cavernosos e urticantes. São 45 minutos efervescidos, maquilhados e locomovidos a uma implacável morbidade que nos
estimula e liberta. Uma selvática avalanche de raivosa e eruptiva adrenalina
que nos atropela e trucida. Rendam-se e entreguem-se aos sombrios desígnios de Høstsol,
e testemunhem todo o demoníaco vigor nórdico de um álbum tremendamente
demolidor. ‘Länge Leve Döden’ sairá amanhã à
rua – dia 13 de Janeiro – através dos formatos CD, LP e digital. Encarvoem-se e profanem-se nele.
Links:
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➥ Avantgarde Music