sexta-feira, 3 de março de 2023

Review: 🥃 Child - 'Soul Murder' (2023) 🥃

★★★★

Depois de lançados e imoderadamente reverenciados os álbuns ‘Child’ de 2014 (review aqui) e ‘Blueside’ de 2016 (review aqui) – bem como o EP ‘I’ lançado em 2018 (review aqui) – o apaixonante tridente australiano Child acaba de descortinar o seu muitíssimo ansiado terceiro trabalho de longa duração, intitulado ‘Soul Murder’ e lançado por agora sob a exclusiva forma digital com o respectivo carimbo autoral, surpreendendo até o mais fiel dos seus seguidores pelo repentismo do anúncio. Replicando a fórmula musical que os caracteriza desde as suas raízes e que tantos e suculentos frutos tem dado, ‘Soul Murder’ serpenteia-se envaidecidamente pelas rústicas e poeirentas estradas de um libidinoso, inflamante, picante e oleoso Heavy Blues de forte hálito a whiskey e toxicidade a perder de vista. Honrando os velhos deuses do primitivo Delta Blues lamuriado nas margens do rio Mississippi, a odorosa, dourada e charmosa sonoridade de Child – que tanto se obscurece, robustece e enruga como se embevece, empalidece e amacia – obriga os seus ouvintes a cravarem os dentes nos lábios (numa indiscreta expressão de incontido deleite), rebaixarem as pálpebras sobre um olhar sonhador, suspirarem lenta e profundamente e menearem a cabeça num imutável ricochete de ombro a ombro. Desenrolado a duas velocidades, este extasiante, sedutor e inebriante terceiro álbum da banda sediada na cidade costeira de Melbourne tanto arranca em desenfreadas galopadas de esporas ensanguentadas como se aquieta em deslumbrantes baladas de sentimentos transbordantes. Percam-se e encontrem-se por entre os serpenteios de uma guitarra electrificante – fervida numa arenosa e efervescente distorção – que se avoluma na majestosa edificação de atordoantes, afrodisíacos e intoxicantes Riffs e se multiplica na virtuosa condução de hipnóticos, ziguezagueantes e exóticos solos, o pesado e quente bafo de um baixo fibroso que escolta e sombreia todas as incursões da guitarra, a fogosa rutilância de uma bateria vergastada a incisiva, explosiva e expressiva ritmicidade, e a liderante voz de pele hidratada, melodiosa, veludosa e caramelizada que nos seduz e conduz pelas lampejantes e aventurosas avenidas de Child. Este é um álbum verdadeiramente provocante, sexy e intoxicante, encerado a desarmante requinte, que me ofuscara e sublimara do primeiro ao derradeiro tema. Uma obra do tamanho da fascinação que nutro pela banda que a criara. Dissolvam-se nesta ardente bebida alcoólica, destilada de cereais, envelhecida em barris de carvalho e designada ‘Soul Murder’, que vos embaciará a lucidez, desinibirá todos os temores, sobreaquecerá os motores e remexerá a alma sedenta por experienciar algo assim.

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