segunda-feira, 13 de março de 2023

Review: 💫 REZN - 'Solace' (2023) 💫

★★★★

É ainda à deriva na eterna vacuidade cósmica, de sentidos embaciados e sem conseguir vislumbrar o caminho de regresso a casa, que escrevo estas apaixonadas palavras na atordoante ressaca em mim deixada pelo impactante novo álbum do quarteto norte-americano – fixado na cidade de Chicago, IllinoisREZN. Batizado pelos astros de ‘Solace’ e lançado no passado dia 8 de Março sob a forma de LP, CD e digital, este novo capítulo da admirável jornada celestial que esta banda americana principiara em 2017 desancorou a minha consciência da gravidade terrestre e içou-a para os mais profundos, recônditos e insondáveis territórios do universo. Consequência de um renhido e enleante jogo de forças travado entre um enfeitiçante, inflamante e umbroso Psychedelic Doom de imersiva e ciclónica toxicidade que nos infesta, afogueia e inquieta, e um onírico, absorvente e morfínico Shoegaze de reconfortante e açucarada melancolia que nos embruma, abraça e inebria, ‘Solace’ é uma inspiradora obra de efeito consolador que não deixará ninguém indiferente. Vagueando e equilibrando-se numa ténue linha que separa a abrasiva euforia da gélida letargia, a mística, nocturna e camaleónica sonoridade de REZN perpetua no nosso olhar petrificado toda uma imutável expressão sonhadora, massaja o nosso espírito integralmente deslumbrado por experienciar algo assim, e nos catapulta para a intimidade estelar onde naufragamos do primeiro ao derradeiro tema que compõe toda esta maravilhosa odisseia. Detentor de uma desarmante beleza cinematográfica, ‘Solace’ é oxigenado por uma messiânica guitarra de obsessivos, magnetizantes, asfixiantes e reflexivos riffs lentamente consumidos pela cáustica distorção, um baixo modorrento de imponente, fibrosa, sombreada e poderosa reverberação, uma bateria explosiva de batida altiva, relampejante, retumbante e incisiva, uns vocais etéreos de pele melodiosa, ecoante, suavizante e espectral, exóticos teclados de mugidos alienígenas, uma mística flauta de sopros orientais, e ainda um saxofone soturno que nos transporta para uma intrigante atmosfera film-noir de coração desalentado e olhar impaciente, posto – através de uma envidraçada janela onde escorrem lágrimas chuvosas – numa quieta rua engolida pela negrura da noite. A vistosa pintura que confere rosto a este tocante registo de REZN aponta os seus créditos de autor ao talentoso e inconfundível ilustrador norte-americano AdamBurke / Nightjar Illustration. São 40 minutos de fogo e água, tempestade e bonança, exaltação e sedação, céu e inferno. Um álbum verdadeiramente transformador pelo qual vagueamos, sonâmbulos e destemidos, sempre receptivos a tudo o que ele nos possa dizer e oferecer. Não vai ser nada fácil ou sequer desejado regressar de ‘Solace’. Percam-se e encontrem-se no diluviano e ofuscante misticismo de um álbum de dimensão mastodôntica com vista panorâmica para as estrelas.

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