Depois de um
longo e penoso jejum discográfico que se seguira ao lançamento de ‘Sparkling
Waves’ (2015), os titânicos Mammatus estão finalmente de regresso
com o nascimento da opulenta obra-prima ‘Expanding Majesty’, descortinada hoje
mesmo através da californiana Silver Current Records no exclusivo
formato físico de LP (com duas edições ultra-limitadas e já esgotadas). Antes
de me debruçar sobre este triunfante retorno do druídico tridente natural da
cidade costeira de Santa Cruz (Califórnia, EUA), devo
confessar que este era muito provavelmente o álbum por mim mais aguardado do
ano (tal a minha devoção de contornos quase religiosos pela banda), e,
portanto, foi com um crescente e imoderado entusiasmo que contara os dias até à
chegada do momento em que pude finalmente experienciá-lo na íntegra e confirmar
toda a sua ofuscante majestosidade. Ensaboado e encerado por um ambiental, colorido,
açucarado e divinal Psychedelic Rock – que se bipolariza numa fresca,
contemplativa e reinante fragância oceânica a fazer recordar o lado mais reflexivo
dos surfistas californianos The Mermen, e numa fogosa, transpirada e ocasional vertigem de ligeiro tremor tectónico que me remete para os seus saudosos vizinhos Comets
on Fire e para os não menos saudosos canadianos Quest for Fire –, em perfeita simbiose com um sumptuoso, onírico, fantástico e
aventuroso Progressive Rock com vista desimpedida para os astros que
cintilam no negro solo ultraterrestre e que partilha o ADN com os clássicos britânicos
YES, este quinto álbum de estúdio da banda à beira mar plantada presenteia
e prazenteia o ouvinte com uma expansiva, expressiva e gratificante odisseia cósmica
de 70 minutos de duração que o viaja por maravilhosas paisagens sonoras
futuristas e inexplorados territórios do espaço alienígena. ‘Expanding
Majesty’ vem compartimentado por quatro longas, adoráveis e memoráveis faixas
edificadas a uma irretocável beleza arquitectónica, oxigenadas por um esponjoso hipnotismo
que nos proíbe de pestanejar, e farolizadas por um deífico misticismo que em
nós provocam toda uma permeabilidade sensorial e emancipação consciencial. Lavrado
por uma instrumentação sublime e habilmente elaborada para envolver o espírito
do ouvinte numa inescapável teia de sonhos, este jupiteriano registo de Mammatus
veleja leve e pausadamente pelas pacíficas, nirvânicas e etéreas águas cósmicas
onde se revelam deslumbrantes firmamentos que nos comovem, absorvem e petrificam
numa doce ilusão de adormecimento. Um álbum espaçoso, arejado e miraculoso –
ventilado a uma fina sensibilidade e aureolado por uma diáfana luminescência – que
em nós provoca a depuração e desagregação da alma rumo a um oásis espiritual.
Na composição desta mágica combustão dialogam entre si uma guitarra faraónica de
acordes serpenteantes, melífluos e cristalinos que se vão desenvolvendo em slow-motion
e de onde são vertidos uivantes, engordurados e avinagrados solos, um baixo
elástico de linhas quentes, volumosas e flutuantes, uma bateria acrobática de locomoção
cativante e precisão robótica, toda uma quimérica profusão de sintetizadores que
vocalizam diluvianos mugidos e berrantes sirenes cósmicos que nos provocam
arrepios epidérmicos, e celestiais, gentis e lampejantes coros vocais – de tom
cantante e essência profética – que se encontram e desencontram numa caleidoscópica
sobreposição e ecoam pela infinidade sideral. O artwork verdadeiramente esplêndido
e de indiscreta inspiração Roger Dean’esca – que traduzira na perfeição para o
universo visual tudo aquilo que a criativa sonoridade de ‘Expanding Majesty’
desdobra no imaginário do ouvinte – aponta os seus créditos autorais ao talentoso
ilustrador espanhol Cristian Eres. Alcanço o final desta inesquecível viagem
mergulhado num torpor comatoso, de olhar marejado e sorriso desabrochado no
rosto. Este é um disco verdadeiramente nirvânico e um dos mais sérios
candidatos ao tão ambicionado título de melhor álbum de 2023.
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