sexta-feira, 23 de junho de 2023

Review: 🐉 Mammatus - 'Expanding Majesty' (2023) 🐉

★★★★

Depois de um longo e penoso jejum discográfico que se seguira ao lançamento de ‘Sparkling Waves’ (2015), os titânicos Mammatus estão finalmente de regresso com o nascimento da opulenta obra-prima ‘Expanding Majesty’, descortinada hoje mesmo através da californiana Silver Current Records no exclusivo formato físico de LP (com duas edições ultra-limitadas e já esgotadas). Antes de me debruçar sobre este triunfante retorno do druídico tridente natural da cidade costeira de Santa Cruz (Califórnia, EUA), devo confessar que este era muito provavelmente o álbum por mim mais aguardado do ano (tal a minha devoção de contornos quase religiosos pela banda), e, portanto, foi com um crescente e imoderado entusiasmo que contara os dias até à chegada do momento em que pude finalmente experienciá-lo na íntegra e confirmar toda a sua ofuscante majestosidade. Ensaboado e encerado por um ambiental, colorido, açucarado e divinal Psychedelic Rock – que se bipolariza numa fresca, contemplativa e reinante fragância oceânica a fazer recordar o lado mais reflexivo dos surfistas californianos The Mermen, e numa fogosa, transpirada e ocasional vertigem de ligeiro tremor tectónico que me remete para os seus saudosos vizinhos Comets on Fire e para os não menos saudosos canadianos Quest for Fire –, em perfeita simbiose com um sumptuoso, onírico, fantástico e aventuroso Progressive Rock com vista desimpedida para os astros que cintilam no negro solo ultraterrestre e que partilha o ADN com os clássicos britânicos YES, este quinto álbum de estúdio da banda à beira mar plantada presenteia e prazenteia o ouvinte com uma expansiva, expressiva e gratificante odisseia cósmica de 70 minutos de duração que o viaja por maravilhosas paisagens sonoras futuristas e inexplorados territórios do espaço alienígena. ‘Expanding Majesty’ vem compartimentado por quatro longas, adoráveis e memoráveis faixas edificadas a uma irretocável beleza arquitectónica, oxigenadas por um esponjoso hipnotismo que nos proíbe de pestanejar, e farolizadas por um deífico misticismo que em nós provocam toda uma permeabilidade sensorial e emancipação consciencial. Lavrado por uma instrumentação sublime e habilmente elaborada para envolver o espírito do ouvinte numa inescapável teia de sonhos, este jupiteriano registo de Mammatus veleja leve e pausadamente pelas pacíficas, nirvânicas e etéreas águas cósmicas onde se revelam deslumbrantes firmamentos que nos comovem, absorvem e petrificam numa doce ilusão de adormecimento. Um álbum espaçoso, arejado e miraculoso – ventilado a uma fina sensibilidade e aureolado por uma diáfana luminescência – que em nós provoca a depuração e desagregação da alma rumo a um oásis espiritual. Na composição desta mágica combustão dialogam entre si uma guitarra faraónica de acordes serpenteantes, melífluos e cristalinos que se vão desenvolvendo em slow-motion e de onde são vertidos uivantes, engordurados e avinagrados solos, um baixo elástico de linhas quentes, volumosas e flutuantes, uma bateria acrobática de locomoção cativante e precisão robótica, toda uma quimérica profusão de sintetizadores que vocalizam diluvianos mugidos e berrantes sirenes cósmicos que nos provocam arrepios epidérmicos, e celestiais, gentis e lampejantes coros vocais – de tom cantante e essência profética – que se encontram e desencontram numa caleidoscópica sobreposição e ecoam pela infinidade sideral. O artwork verdadeiramente esplêndido e de indiscreta inspiração Roger Dean’esca – que traduzira na perfeição para o universo visual tudo aquilo que a criativa sonoridade de ‘Expanding Majesty’ desdobra no imaginário do ouvinte – aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador espanhol Cristian Eres. Alcanço o final desta inesquecível viagem mergulhado num torpor comatoso, de olhar marejado e sorriso desabrochado no rosto. Este é um disco verdadeiramente nirvânico e um dos mais sérios candidatos ao tão ambicionado título de melhor álbum de 2023.

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