Depois de um
jejum discográfico de cinco anos – que principiara com o triste falecimento do
baixista Gerald Kirsch – a banda germânica MOUTH – localizada na
cidade de Colónia e que conta já com duas décadas de existência –
regressa agora com o lançamento do seu quarto trabalho de longa duração,
intitulado ‘Getaway’ e lançado sob a forma física de LP através da editora,
sua compatriota, This Charming Man. Climatizado por um magistral,
magnetizante, enleante e celestial Progressive Rock de roupagem setentista,
natureza fantasista e um vistoso sotaque Canterbury’esco, que integra discretas
moléculas de um deslumbrante, colorido e dançante Psychedelic Rock, um arlequinesco,
gaiteiro e enfeitiçante Jazz-Fusion e até de um experimental, absorvente
e sideral Krautrock, este novo álbum de MOUTH faz a ponte
perfeita entre clássicas referências do género como Soft Machine, YES,
Caravan, Gentle Giant e Genesis, e outras contemporâneas
como Hypnos69, Colour Haze, Astra, Birth e Sacri
Monti. Embrumados pelas cintilantes e fantasmagóricas poeiras estelares, viajados
pela intensa pretura que pavimenta a perpétua vacuidade cósmica, e inebriados
pelo odoroso e psicotrópico misticismo de ‘Getaway’, somos prontamente
eclipsados e maravilhados pela sonoridade catártica, onírica e camaleónica da
banda alemã. Compartimentado em sete temas, sendo que o introdutório – uma épica
suite de opulenta composição e cintilantes 23 minutos de duração que dá nome a
esta fantástica obra – reclama para si mesmo a maior fatia do protagonismo, ‘Getaway’
navega através dos oceanos cósmicos em constante mutação. Um subtil pêndulo que
tanto nos eteriza e nebuliza nas sublimes e sonhadoras passagens oxigenadas a
morfínica e melancólica ataraxia, como nos sacode e explode com vertiginosas e
aparatosas galopadas locomovidas a vulcânica e aparatosa euforia. Na composição
deste fármaco sagrado convivem em harmonia uma guitarra aventureira que se manifesta em babilónicos, majestosos,
esponjosos e epopeicos riffs de onde são vertidos, uivados e esvoaçados delirantes, ácidos,
lampejantes e estonteantes solos, um baixo baloiçante de linhas sombreadas, avultadas
e pululantes, uma bateria tribal de pratos flamejantes, acrobáticos timbalões e
estimulante ritmicidade, um polposo teclado de tonalidade vintage que nos dilata as pupilas e estanca
a respiração com os seus intrigantes, refrescantes e aquosos mugidos, e uma voz
profética, de tez amarelada, harmoniosa, sedosa e azedada, que nos faroliza e
canaliza nesta quimérica odisseia pelo admirável universo de MOUTH.
Deixem-se cair na salivante boca deste power-trio germânico e diluir na sua açucarada
musicalidade.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ This Charming Man
Sem comentários:
Enviar um comentário