Da cidade
sulista de Málaga (Andaluzia, Espanha) chega-nos um dos
mais sérios candidatos a melhor registo de curta duração de 2023. ‘The
Silver Linings’ é o homónimo EP de estreia (e que estreia!) da banda
andaluza, lançado sob a exclusiva forma digital, mas com a promessa do
lançamento de um LP calendarizado para o outono debaixo da alçada do influente
selo discográfico local Spinda Records (com o qual o quinteto acaba de
celebrar um vínculo contratual). Este sumarento cocktail tricolor, onde
se identifica e apalada um colorido, caleidoscópico, exótico e ensolarado Psychedelic
Rock – a fazer recordar Causa Sui, Papir e Sun River – de fragância oceânica,
calor tropical e acidez sessentista, um alucinógeno, ritualístico,
místico e sideral Space Rock de alienígena idioma Hawkwind’esco, escapismo
sónico e amplificação consciencial, e um galopante, ritmado, magnético e
contagiante Krautrock de absorvente pulsação CAN’ica que mumifica
o ouvinte na sua inescapável teia sonora, provoca no ouvinte todo um arco-íris
de boas sensações que o aureola do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade ataráxica,
viajante, deslumbrante e camaleónica embala-nos numa vertiginosa hipnose – rica
em sacarose – que nos subtrai a lucidez e mergulha nas profundezas da sinestésica
embriaguez. De olhar ofuscado por uma intensa luzência diamantina, narinas
dilatadas na inalação da cheirosa brisa marítima, ouvidos salivantes onde
penetra o grasnar de gaivotas esvoaçantes, sorriso desabrochado no rosto
bronzeado e pés desnudos, soterrados nas suavizantes e douradas areias onde um
perpétuo vai-e-vem de frescas e espumosas ondas desmaiam, somos eclipsados e
sedados pela paradisíaca toxicidade de The Silver Linings. Na composição
desta irresistível iguaria mediterrânica perfilam-se duas guitarras lisérgicas que
se enlaçam em dançantes, voluptuosos e refrescantes acordes e desenlaçam em escorregadios,
prismáticos e fugidios solos, um baixo murmurante de linhas saltitantes, hipnóticas
e ondeantes, uma bateria propulsiva – aliada a uma percussão tribal – de ritmos
quentes, movediços e absorventes, um quimérico teclado de mil coros angelicais,
e uma voz robotizada, distorcida e espectral. A maravilhosa e chamativa ilustração
desta bonita obra aponta os seus créditos autorais ao artista espanhol Antonio
Ramírez, que traduzira com exactidão para o universo visual todo o
psicadelismo pelágico que navega a musicalidade desta jovem banda. ‘The
Silver Linings’ é um nirvânico sonho acordado. A banda-sonora perfeita para
musicar o verão que se avizinha. Deixem-se dissolver e embevecer nesta
esponjosa e deleitosa odisseia marítima, e se avistarem o deus Poseidon, talvez
não seja uma miragem.
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