quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Review: 💫 Solstein - 'Solstein' (2023) 💫

★★★★

Proveniente da Noruega – um dos mais populosos e talentosos habitats do Jazz europeu – chega-nos o fantástico álbum de estreia da novíssima banda Solstein, desembrulhado e promovido pela jovem companhia discográfica Is It Jazz? Records nos formatos LP, CD e digital. Forjado e condimentado por um multicolorido, simbiótico e camaleónico sortido sonoro onde dialogam apaixonada e harmoniosamente entre si um ritmado, sumarento, tropical e frutado Jazz-Funk alto em sacarose, um enfeitiçante, virtuoso, lustroso e elegante Jazz-Fusion de composições cerebrais, um serpenteante, lubrificado, aromatizado e magnetizante Prog Rock de fabulares feições Canterbury’escas, e ainda um esponjoso, confortável, agradável e sedoso Chill Out com vista desimpedida para o Cosmos constelado, este primeiro passo discográfico da turma norueguesa vem atestado de incontáveis promessas de um futuro dourado. Sobrevoando e cruzando diferentes climas e paisagens – que alternam entre frescas e embaciadas madrugadas respingadas de orvalho que envolvem e embrumam o ouvinte num imperturbável estádio de profunda e etérea reflexão, e flamejantes céus crepusculares que antecedem as quentes e estreladas noites de verão que convidam o ouvinte a uma absorta e desinibida dança de ombros saltitantes, sorriso desabrochado no rosto e ancas baloiçantes – este homónimo álbum dos inspirados Solstein aponta a sua bússola a egrégias referências dos gloriosos 70’s como Herbie Hancock, Return to Forever, Casiopea, Jiro Inagaki & Soul Media, The Eleventh House feat. Larry Coryell, Ryo Kawasaki, Brand X e Caldera. De essência puramente instrumental, afago sensorial, expansão consciencial e instrumentos apontados à vertigem sideral, ‘Solstein’ reluz e flui de forma envaidecida, sublime e embevecida pelas artérias da nossa espiritualidade, desaguando e reconfortando o nosso espírito nas nirvânicas praias de um paraíso virginal. Este é um álbum arejado, ataráxico, onírico e aureolado que desdobra as nossas velas, desancora a nossa gravidade perceptual e nos navega pelas bonanceiras águas do oceano cósmico ao purificante sabor de uma guitarra endeusada – com acentuada pronúncia Al Di Meola’na – que tricota labirínticos, trepidantes, vítreos e desarmantes solos de uma ofuscante beleza arquitectónica, de um baixo elástico que aquece a atmosfera com os seus contemplativos, sombreados, texturizados e curvilíneos murmúrios, de uma mágica profusão de teclados e sintetizadores futuristas – onde se perscrutam eternas lendas como Chick Corea e Herbie Hancock – que se encavalitam e atropelam numa inesgotável sucessão de melódicos, maravilhosos, viajantes e melancólicos sirenes de origem alienígena, e de uma refinada, sofisticada e estimulante bateria deliciosamente groovy – tiquetaqueada a robótica precisão e estética sedução – que remata esta majestosa peça de alta costura. Um registo irrepreensivelmente executado e brilhantemente encerado que em nós cresce a cada cuidada audição. Todos os meus imoderados louvores a Soulstein pela sua aventurosa estreia que conjuga na dose certa o dourado revivalismo trazido do mais fértil território musical (70’s) e uma indelével marca de autor com um fresco cheiro a contemporaneidade. Banhem-se nesta poeira estelar.

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