quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Review: 🔮 Mondo Drag - 'Through The Hourglass' (2023) 🔮

★★★★

Findado um jejum discográfico de sete anos – principiado na ressaca do lançamento de ‘The Occultation Of Light’ (análise aqui) – o fascinante quinteto californiano, sediado na cidade de Oakland, descortina agora o seu tão ansiado novo álbum, intitulado ‘Through The Hourglass’ e editado pela RidingEasy Records através dos formatos físicos de LP e CD. Edificando uma ponte revivalista que liga os universos progressivos britânico (onde comunga a influência de bandas como Pink Floyd, Camel, YES, Genesis, Van Der Graaf Generator e King Crimson) e italiano (onde se perscrutam ecos de clássicas referências como Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Le Orme, Museo Rosenbach, Goblin e Reale Accademia di Musica), a profética, balsâmica e magnânima sonoridade de ‘Through The Hourglass’ passeia-se envaidecida e graciosamente pelos frondosos jardins de um dramático, pomposo, lustroso e quimérico Prog Rock de adornada moldura vintage, que se embruma num reflexivo, místico, onírico e lenitivo Psychedelic Rock com vista desabrigada para a deslumbrante noite cósmica. Absorvidos neste frágil e etéreo sonho acordado que evoca a doce nostalgia e nos viaja – sonâmbulos – nas asas do tempo, embarcamos numa fantástica odisseia pelos infindáveis oceanos do Cosmos. Velejando águas pacíficas e surfando ocasionais ondas monolíticas, atravessamos os diferentes climas que oxigenam esta inspiradora e sublimada obra de Mondo Drag. Uma perfumada, suavizante e texturizada brisa sonora que nos embevece, adormece e iça as velas da imaginação. Baloicem os vossos corpos à prazerosa boleia de duas guitarras dançantes que se entrançam na ascensão de imperiosos, sedutores e ostentosos riffs e destrançam na superior condução de solos esvoaçantes, ácidos e serpenteantes, uma mágica profusão de teclados que orvalham toda a atmosfera encantada do álbum com uma cósmica liturgia de onde sobressaem majestosos, polposos e coloridos mugidos, e todo um efervescente experimentalismo sónico de natureza alienígena, um baixo de forte presença que reverbera linhas obesas, coesas e ondeantes, uma bateria jazzística de ritmos requintados que se equilibram por entre a cintilante delicadeza e a flamejante rudeza, e uma trovadora voz de pele delicada, melodiosa e adocicada que faroliza com apurado lirismo toda esta admirável jornada pelas lampejantes fornalhas estelares que incendeiam a negrura sideral. São 40 minutos de um ofuscante brilho que nos transporta aos domínios do tão almejado nirvana. ‘Through The Hourglass’ é um registo piramidal, do tamanho da minha grandiosa expectativa a ele dedicada. Um álbum intensamente enfeitiçante, dedicado a todos aqueles que não têm receio de sonhar sem fronteiras e se aventurar para lá do lado eclipsado da Lua. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo perfilado entre os álbuns mais medalhados de 2023. Mistifiquem-se nele.

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